Perguntas não respondidas

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Corri para casa o mais rápido possível, a sacola com o refrigerante batia nas minhas pernas constantemente por conta da velocidade, tinha certeza de tomar um belo banho de refrigerante ao abri-lo, mas a pressa era maior que tudo. 

Cheguei em casa, mamãe estava colocando a mesa. Como entrei correndo, não prestei muita atenção no cenário, mas enxerguei um vulto na cozinha junto á minha mãe. 

- Ei, ei, ei! - disse uma voz masculina, grossa e calma. Olhei para trás dando fim aos meus passos rápidos conforme eu subia as escadas. - Onde pensa que vai sem sequer me dar um "oi"?

Era papai, estava vestindo seu uniforme sujo e suas botas gastas, ele havia voltado mais cedo da fábrica.

- Oi, papai. - fui andando em sua direção, tentando disfarçar minha expressão confusa e desconfiada, aquele cartaz me fez ficar pensativa. - Como o senhor está? - dei um beijo em sua bochecha barbada.

- Estou bem, pequenina. - Papai se curvou para me dar um beijo, ele era um homem alto, com cerca de 1,83 cm de altura - Você que não parece estar muito bem, aconteceu algo?

- Ela está com essa cara desde que acordou. - Disse minha mãe colocando o último prato de sopa quente na mesa.

- Eu estou bem. - desviei o olhar para minha mãe - Obrigado por me deixar comprar o refrigerante, mãe. Vou deixar para tomar mais tarde. Agora, se me dão licença, tenho que sair, vou à biblioteca pesquisar por algo. - Fui em direção à escada.

- Nem pensar, meu bem. Disse meu pai, me impedindo de subir - A senhorita vai almoçar conosco, depois está livre para fazer o que quiser.

Voltei para cozinha e coloquei o refrigerante que tinha comprado dentro da geladeira. Sentei-me a mesa e quase comecei a comer, porém fui impedida de novo.

- Opa, não está esquecendo de nada, filha? - Minha mãe olhou para mim com uma expressão de desaprovação.

Olhei para ela e para meu pai, os dois estavam em posição de oração.

- Desculpe. - Disse eu, me juntando a eles.

Uma coisa que minha família tinha, era o costume de rezar antes de dormir e antes das refeições, nossa vida era difícil, por isso também, eramos agradecidos à Deus por não passarmos fome.

[...]

Depois de almoçar, me retirei da mesa e subi para o quarto. Escovei meus dentes, peguei minha mochila (ela continha materiais de estudo como caderno, um estojo com lápis, caneta, borracha e apontador e alguns livros que eu gostava de ler quando estava entediada) e fui direto para a biblioteca.

A biblioteca era o lugar mais bonito do meu bairro, tinham escadas gigantes na entrada, seguidas de pilastras e algumas esculturas de anjos na porta. Por dentro, era um lugar imenso com grandes estantes e livros para todo gosto, existia mais de 2 estantes para cada sessão e várias mesas pra quem quisesse ler ali mesmo.

Depois de um tempo andando cheguei à biblioteca, no alto das escadas vi uma pessoa descendo com um molho de chaves na mão, era a Sra. Zummach.

Marcie Zummach era uma senhorinha com cerca de 65 anos, usava óculos redondos, tinha o cabelo chanel cacheado e grisalho e vestia roupas delicadas e cheirosas, sempre com cheiro de amaciante. Ela era a coordenadora da biblioteca, trabalhava lá de segunda a segunda.

- Oh, Allison! - Disse a velhinha guardando o molho de chaves em seu grande casaco de lã. - Quanto tempo não há vejo!

- Olá Sra. Zummach, a biblioteca fechou?

- Sim querida, já estava na hora de fechar. - ela saca seu relógio de bolso - Vê? Já passa da 13h30. Só reabrirei ás 16h.

Minha expressão era de incomodo, eu precisava saber do que se tratava aquele cartaz, quem era Krampus? E por que aquela cantiga de Natal parecia ser tão assustadora de repente?

- Obrigada, Marcie. Eu tentarei voltar quando a biblioteca voltar a abrir.

Marcie apenas acenou com a cabeça e deu um sorriso de canto. Eu segui meu caminho e ela seguiu o dela no sentido oposto ao meu.

Eu estava incomodada, não havia mais jeito de eu pesquisar sobre aquilo!

[...] 

Voltei para casa com a decepção no olhar, papai e mamãe estavam descansando no sofá vendo o jornal da tarde. Eu subi para meu quarto e deixei a mochila do lado da porta, caminhei até a cama, deitei de barriga para cima e fiquei olhando para o teto.

Flashbacks daquela noite de Natal do ano passado passavam na minha cabeça e eu não sabia se dava graças a Deus por ter passado por aquela noite viva ou se ficava desesperada por ter sobrevivido. E se aquela coisa voltasse? O desespero voltava só de pensar nessa possibilidade.

Haviam muitas perguntas não respondidas e não paravam de ocupar minha mente. O que era aquilo? Por que aquilo estava me perseguindo? Por que aquele ódio? De quem era aquela voz? Por que me salvou no último instante? Será que o objetivo dela era mesmo me salvar?

Não sei mais o que fazer, preciso de respostas.

[...]


Krampus, o demônio do NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora