Tomo I: Midgard. Capítulo 1: Missão Drakkar

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No qual a nossa saga tem início.



O Dr. Kevin Smith estava lendo um exemplar de "Mitologia Nórdica", de Neil Gaiman, enquanto fazia suas necessidades matinais. Talvez "matinais" não fosse o termo correto, já que no espaço, não faz muito sentido falar em manhã, tarde e noite. Kevin era um dos seis tripulantes da espaçonave Drakkar, que partira em 2047 da Terra com a missão de atracar em Europa, lua de Júpiter. A missão Clipper havia encontrado indícios de vida cerca de 20 anos antes, o que foi um grande alvoroço na comunidade científica na época e justificou a nova missão, desta vez tripulada.


Kevin, apesar de cientista respeitado no ramo da Geologia, era o típico nerd gordinho e de óculos, que deixava a barba crescer mais por preguiça do que por estilo. Mas não era aquele sujeito introvertido que você esperaria de alguém que só se interessa por livros, quadrinhos, jogos eletrônicos ou rochas. Pelo contrário, Kevin estava sempre de bom-humor e tinha alguma coisa engraçada para dizer (ou assim ele pensava, pelo menos). Mas era difícil não gostar dele.


Saiu do banheiro, largou o livro em cima da cama e dirigiu-se à cozinha. Lá encontrou um homem negro e robusto, concentrado em alguma coisa no tablet que segurava em uma mão enquanto tomava seu café preto e sem açúcar em outra. Ao seu lado estava uma japonesa de cabelos lisos e de óculos, que o recebeu com um sorriso no rosto. Era a Dra. Ângela Ynn, astrofísica ganhadora do Prêmio Nobel, e o Dr. Neil Hawking, líder da expedição.


- Bom dia, Kevin! Empolgado?


- Dia, Ângela. Neil.


- Ei. – Neil respondeu sem tirar a atenção do tablet.


- Se estou empolgado? A primeira coisa que quero fazer quando a gente descer é me jogar no gelo e fazer uns anjos no chão, com minha roupa de astronauta e tudo.


- Hah, hah. Jeito estranho de entrar para a História! – Ângela riu enquanto imaginava o anjo de neve mais gordo que provavelmente veria na vida.


Neste momento, entrou na cozinha também outra mulher, bem menos simpática que Ângela. Baixinha, meio gordinha, com sardas na cara e cabelos crespos, essa era Betty Winkle, a bióloga mais anti-social que você encontraria em Cambridge.


- Bom dia, Betty! – Kevin tentou, mas sabia que a resposta seria simplesmente um resmungo. Já estava acostumado com o mau-humor matinal da companheira e não ligou, voltando-se para o "destemido líder", como ele gostava de chamar Neil. – Ei, Capitão, qual o nosso ETA?


- Menos de 4 horas. Temos trabalho a fazer, então tomem seus cafés e me encontrem na ponte.


- Onde estão Ellen e Jason? – Indagou Ângela.


- Provavelmente esfregando-se nos corpos um do outro pela ducentésima vez na última meia hora. – Respondeu Betty enquanto servia-se de café.


- Urgh... essa era uma imagem da qual eu não precisava – Ângela fez cara de nojo.


- É, tente dormir na cabine ao lado deles.

O Sopro do Gjallarhorn: Uma Odisseia pelo Sistema TRAPPIST-1Onde histórias criam vida. Descubra agora