1991

466 90 133
                                    


Há esse garoto, Tyler Joseph. Desde criança ele possui olhos de avelã com a maior quantidade de expressão que você irá conhecer: como se tivessem juntado todos os gêneros literários dentro daquelas esferas; a voz baixa aveludada quase nunca se dissipava no ar; e a mente bagunçada. Talvez você venha e entender a confusão daquele ser ao decorrer dessa história. Ou não.

A questão é que, naquele verão de 1991, os pais de Tyler passaram a receber mais reclamações do que o normal: era o único garoto da turma que tinha dificuldades para socializar. A tendência das crianças de cinco anos é falar exorbitantemente, demonstrar imensa curiosidade sobre o mundo ao seu redor e enturmar-se com tudo e todos. De fato, Tyler Joseph falava muito. Com o seu diário. Ele era curioso, ah, isso ele era. Um explorador nato. Por exemplo, um de seus passatempos preferidos era acompanhar o crescimento das maçãs na árvore bem no fundo do quintal de sua casa. Ele desenhava os frutos em seu caderno sem pauta e depois os coloria com aquarela. Ele sabia o suficiente para ser um botânico invejável. Ou um pintor renomado. O problema é que, ao contrário dos profissionais bens sucedidos, Tyler não gostava de compartilhar seus conhecimentos com as outras crianças ainda mais curiosas. Pode ser considerado egoísmo, até chegarmos ao ponto em que ele corre de todas elas quando inserido em um grupo. Quando preferia brincar sozinho e calado, e parecia se divertir com isso. Quando chorava pela insistência de alguma delas a manter uma conversa com ele. Você com certeza vai achar isso estranho; assim como as primeiras professoras do garoto acharam quando ele iniciou a escola. Assim como suas atuais professoras também acham.

A resposta veio junto com o pirulito de framboesa que ganhou do médico: autismo.

Autismo. Uma alteração nos fios. A rota alternativa do mapa. Talvez um número divido por si mesmo repetidas vezes. Como um pássaro criado na gaiola de seu próprio cérebro, sem rota de fuga. E que não se cura com xarope. Não necessariamente bom. Mas também não necessariamente ruim. Tyler era Tyler mais do que uma caneta era uma caneta. Porque uma caneta poderia ser um arpão, dependendo. Mas Tyler era Tyler, unicamente Tyler. E seu mundo era mais coerente, as camadas uniformes de vermelho de seu cérebro, tão intensas como sangue na neve, capazes de serem rosas nos dias de trégua.

E não era fácil ser aquela confusão de sentimentos, seu próprio universo particular. Como sustentar o peso do mundo quando se tem apenas duas mãos. A guerra, a vida e a morte, todas elas infiltradas dentro daquele ser, tornando-o momentâneo como o mais agradável som, veloz como um vulto e curto como todos os sonhos, breve como um relâmpago na mais escura das noites que, num tênue segundo mostra céu e terra, rápido o suficiente para que antes de um homem poder dizer "olha!", já devorou-o aos beiços da escuridão. E Tyler, mesmo sendo o mundo todo, temia-a; a própria escuridão de suas galáxias.

***

não sei se é necessário, mas talvez vocês seja legal vocês saberem que eu (ana) que to escrevendo as partes sobre o tyler, tipo essa, e a lia vai escrever as do josh rs

esperamos do fundo das nossas almasujaepesada que vocês gostem. 

stay alive |-/

detailsOnde histórias criam vida. Descubra agora