E não foi fácil aprender a lidar com isso.
A notícia estava longe de ser a ruína do mundo, mas ainda assim teve impactos tão fortes quanto um sismo; em 1991 o autismo não era desconhecido, mas também não costumava ser comum como a catapora. O fato totalmente novo, a princípio, resultou como se a família estivesse desnorteada em meio ao mar aberto, e Tyler, a estrela do norte que os guiaria em meio à escuridão catastrófica. Apenas levaria tempo para se aprender os conceitos.
Quer dizer, toda mudança gera um desconforto, ainda mais uma desse porte. Palavras carregadas de vácuo dos familiares mais distantes, proteção e preocupação em excesso dos mais próximos – principalmente dos pais do garoto – passaram a ser mais constantes até tudo se tornar um mero item de rotina. Embora para Tyler, nada havia mudado; afinal, ele havia nascido com aquilo cravado em suas entranhas.
Inicialmente estranhara o tratamento diferente da família, o carinho excessivo e a ausência de cobranças para se enturmar; as idas obrigatórias ao consultório de uma mulher carinhosa e receptiva, que o embalava com perguntas calmas, respeitava sua vontade de ser mudo nos dias mais difíceis e o deixava colorir figuras com giz de cera (ela sempre elogiava o seu talento). A educação em casa também o fez bem – aprendia coisas legais ao ritmo que julgava necessário, e tinha mais tempo para explorar a natureza, ou se enfornar no quarto para colorir os retratos de suas maçãs. E o melhor de tudo, não haviam outras crianças, falantes e curiosas, átomos desnecessariamente agitados em excesso; as únicas com quem convivia eram os seus irmãos, que desenvolvia contato poucas vezes, e as crianças da clínica que também eram embaladas com perguntas calmas e coloriam figuras com giz de cera junto dele. Tyler gostava delas; eram quietas e tinham a mesma personalidade dele, todas elas, originais demais, pequenos planetas formados em um único ser.
E assim crescera; a infância calma, porém perfeita aos seus olhos, vivida com a peculiaridade digna de um ser tão cheio quanto ele.
Mas o Universo é desconhecido e está sempre em expansão: a adolescência chegara. A fase teve lá seus bombardeios meteóricos, um tanto considerável de marcas deixadas, como crateras. Ganhara autonomia e confiança dos pais, e consequentemente aprendera a degustar da liberdade de ser um ser, pular livremente de estrela em estrela, conhecendo toda a vastidão de seu universo. Decidira sozinho parar de frequentar o tratamento, porque às vezes as coisas são confusas demais, e ele precisaria aprender sozinho. Saíra. Se apaixonara – e com isso acabou percebendo que viver no seu mundo é realmente muito melhor. Conhecera pessoas, e sempre desapegara de todas, porque as estrelas não ficam para sempre no céu. E o mais importante, nos dias em que carregar o mundo todo nas costas se tornava um fardo insuportável, Tyler escrevia. Músicas e poemas e frases soltas que lhe cortavam a mente. Encontrou ali seu lar, o ponto onde não importa o quanto chovesse, sempre estaria protegido das brasas. Tyler Joseph era um gênio. Não daqueles que descobrem a forma dos átomos ou resolvem equações gigantescas, mas o que é capaz de revolucionar o mundo todo usando um par de palavras próprias.
E assim se fez, sua vida particularmente vivida à luz de suas estrelas, as quais manteve acesas para não deixar que a escuridão tomasse conta da galáxia – o seu maior medo. Foi automático; talvez robótico. Tão rotineiro que jamais esperaria que aquele alguém viria a ser sua própria fonte de luz, capaz de iluminar totalmente a escuridão vasta que reinava entre uma estrela e outra daquele Universo.

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Fiksi Penggemar\josh+tyler\ onde tyler é detalhista, e josh ama os detalhes de tyler.