Lirismo com gosto de adolescência

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Embora tanta gente escreva poesia, até demais para meu gosto, é muito raro encontrar um bom poeta.
Alexandre Spinelli me apareceu, de repente, quando eu julgava, com Eloésio Paulo e Nelson de Oliveira, o Concurso Nacional de Poesia, promovido pela Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte, um dos mais concorridos do país.
Imediatamente me chamou a atenção o, digamos assim, frescor adolescente de sua poesia. É uma linguagem que atrai pela deliciosa sensação de que estamos diante de alguma coisa muito importante, quase mágica, mas sempre espontosa. E é com essa linguagem que ele se debruça sobre o amor,a alegria, o cotidiano, e até coisas prosaicas como uma goiabeira ou uma simples xícara de café.
Aproximando-se dos sentimentos básicos da existência com esse olhar de espanto, Spinelli faz lembrar, mas só de leve, Alberto Caeiro do "Guardador de rebanhos", Mário Quintana de "Sapato florido", o lirismo sem afetação de Monuel Bandeira e, talvez acima de todos, a ternura que transmitia em cada verso o grande poeta, também gaúcho, Paulo Hecker Filho, em sua permanente perplexidade apaixonada pela vida, diante de uma criança, de um sorriso, de uma mulher bonita, de amor.
É esse espanto, esse prazer de existir e de gostar das coisas, a grande força da poesia de Alexandre Spinelli.
Seu livro não ganhou o primeiro lugar, mas uma dez menções honrosas destinadas aos que se destacaram entre tantos poetas. E não ganhou por não ser suficientemente adulto, como nunca foram suficientemente adulto Quintana, Bandeira, Caeiro ou mesmo meu amigo Paulo Hecker que, do alto de seus 80 anos, ainda mantinha agudo olhar de perplexidade e alegria diante da vida e do amor. Como todos os adolescentes.
                    Sebastião Nunes

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