Capítulo 3 - O Instinto

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Adão acordou no outro dia como se tivesse sido vítima de um apedrejamento, o corpo dolorido, uma sensação de vazio dentro do peito e ainda os resquícios na mente da ultima conversa com Deus. Foi o primeiro dia de Adão, na qual ele preferia não ter acordado. Ficou sentado em frente sua cabana olhando o mar, desenhando na areia, círculos e ondulações aleatórias. Hora ou outra deitava na areia e admirava o céu, contava as nuvens e voltava a se sentar na areia. Colheu pequenas pedras ao entorno de sua cabana, e jogava uma a uma no mar. Adão queria que o tempo passasse.

O mar aquele dia estava calmo, as ondas pequenas, havia canto de gaivota, havia som de água por todo canto e havia Adão impaciente na areia. Ele decidira desafiar a lei da vida, não beberia, não comeria. Adão precisara provar para Deus que não é necessário regras sangrentas, tampouco leis, nas quais é preciso que um ser morra para que outro sobreviva. Naquele dia Adão não subiu para o jardim, não comeu, não bebeu, não falou com Deus.

Havia de ser entediante sentar-se em frente ao mar durante todo o dia, porém, Adão encontrou uma forma menos traumática para esperar o desfecho de seu desafio. Adão passou a observar cada animal que participava de eu pequeno cenário em frente sua cabana. As ondas calmas de quando em quando deixavam na areia algum camarão, caranguejo e tartarugas marinhas. Adão não quis interferir na rotina de nenhum destes bichos, e viu o momento em que a tartaruga marinha encontrou com o caranguejo no momento em que a onda os puxava para o mar. Com a lentidão da tartaruga e a agilidade do caranguejo, jamais poderia se imaginar a cena a seguir.

A tartaruga avistou a vontade do caranguejo de encontrar uma profundidade de água para se esconder no mar, porém, aquele bicho vagaroso e cascudo esticou as patas impedindo a passagem do crustáceo. E quando o caranguejo foi atravessar em frente ao rosto da tartaruga, e numa velocidade nada prevista, aquele réptil abocanhou o caranguejo e o destroçou em alguns segundos.

Adão se aproximou para ver tal cena, jamais esperava tamanha crueldade da tartaruga e seu olhar sonolento. A tartaruga encontrou a carne desejada e deixou apenas o casco quebrado do caranguejo jogado junto com suas pinças na areia. A tartaruga voltou satisfeita para o mar, e o mar tratou de espalhar o resto do caranguejo pela praia. Não demorou muito para que uma garça fizesse um voo rasante pela orla da praia e avistasse o resto do caranguejo ali na areia. Pousou com suas longas patas e bicou aquele casco com resto de carne branca. Puxava, ajeitava no bico, erguia a cabeça e engolia. Devorou o resto que sobrara do caranguejo. A garça voou para o céu e o mar limpou o resto da sujeira deixada.

Adão se intrigou ao ver dois animais alimentados e um morto. Ficou ainda mais indignado com aquela situação, pois, a morte ainda lhe parecia um mistério ilógico. Ainda mais quando se tem uma morte financiando a vida. Adão voltou para sua cabana e ficou a olhar as folhas do seu teto. E permanecera assim por horas até o anoitecer.

Quando a noite caiu, Adão começou a sentir fome, mas não havia fruta alguma que pudesse comer ao seu redor. Desejou subir até o Jardim para colher algo, porém, se lembrou de seu objetivo e permaneceu deitado. Adormeceu desejando chupar manga, o cheiro e o sabor que estava dentro de sua mente lhe fizera dormir com água na boca.

Adão não dormiu direito naquela noite, o sono estava agitado, virou-se de um lado para o outro durante toda a noite. Falou, resmungou durante os sonhos, levantou para urinar e não mais conseguiu dormir. Adão estava com fome, Adão estava com sede.

O som das águas estimulava ainda mais o desejo de Adão por subir no riacho e beber aquela água, mas sua teimosia o fizera parar defronte a cabana e sentar-se novamente na areia. Adão encontrou um galho e desenhou ali na praia algo parecido com uvas, círculos sobre círculos e um galho cortando o desenho. Adão sentira vontade de saborear aquelas doces e suculentas uvas do jardim, puxar seus cachos e degustar uma a uma com casca e tudo. A fome de Adão estava lhe deixando impaciente. Ele chutou a areia demonstrando ira, voltou para a cabana e se deitou novamente.

Os segredos do Jardim do ÉdenOnde histórias criam vida. Descubra agora