Coldest Winter

Favors

De madrugada, quando eu sabia que minha mãe estaria dormindo, troquei de roupa e tirei os sapatos. Respirei fundo e a passos muito cuidadosos fui para a cozinha, peguei um pacote de biscoitos integrais, Nutella e uma caixa de suco, e subi desconfiada, entrei no meu quarto e tranquei a porta. Não aguento mais essa maldita dieta, eu não aguento mais. É demais pra mim. Eu nunca havia feito isso antes, já passei uma semana sem se alimentar por que Mergan me ordenou antes de um desfile, mas dessa vez eu não aguentei. Se essa for a única saída, mesmo com medo eu o farei. Devorei tudo em silencio, olhando sempre para a porta com o coração acelerado. Sei que depois vou me sentir culpada, mas, Megan sempre me faz se sentir culpada por tudo.  Escovei os dentes e me livrei dos pacotes ,depois fui dormir.

A rotina foi a mesma no dia seguinte. Fui avisada que meu prazo para arrumar um namorado, segundo Megan inicia amanha. Queria sumir para sempre. O dia passou devagar, não fiz anda o dia todo na escola. Estava com tanta raiva acumulada que não posso colocar para fora que não estava com cabeça  para nada. Na aula de dança, não vi Travis, então me sentei no fundo da sala ignorando a todos. Eu odeio a minha vida. As vezes penso que devia fazer o mesmo que meu pai, mas a memória dele se matando na minha frente me assusta e tiro a ideia da cabeça. Senti lagrimas quentes no rosto, merda eu não deveria ficar relembrando isso. Corri para o banheiro, e vi o relance Travis entrando correndo.

Encostei a porta e lavei o rosto. Travis entrou sem bater.

-ei, esta tudo bem? Você esta chorando – Disse e fechou a porta atrás de si.

-Não é nada, eu estou bem – disse e me sentei na pia do banheiro, esperando as lagrimas pararem.

-Se não fosse nada não estaria chorando – ele disse e parou a minha frente  – eu não sou bom em consolar, mas se quiser eu posso e dar um abraço e te ouvir – ele disse sorrindo sem jeito, pela primeira vez não vi malicia em seus olhos. Sempre quis desabafar com alguém sobre como a morte do meu pai ainda me afeta e muito, e agora ele aqui, na minha frente, preocupado com alguém que conheceu a poucos dias. Não aguentei, desabei em lagrimas. Ele correu e me abraçou, ficando no meio das minhas pernas. O abracei forte, apertando meus braços em seu pescoço e com o rosto em seu ombro, escutando meus próprios soluços. Ele apenas me apertou mais em seus braços e permaneceu calado.

-quando e tinha 6 anos de idade – comecei a dizer sem solta-lo, com o rosto em seu pescoço – meus pais brigaram por minha causa, não lembro o que fiz. Mais tarde no mesmo dia Papai brigou comigo e me colocou de castigo por duas semanas. Uma semana depois, eu queria  mostrar pra ele meu desenho de desculpas e sai do quarto para ir mostrar pra ele que estava no escritório. Quando eu cheguei lá, ele estava com uma arma na mão, me encarou com olhos marejados, sorriu, disse ''eu te amo filha'' e atirou na própria cabeça na minha frente – senti Travis apertar ainda mais seu abraço.

-Isso deve ser horrível – disse com voz baixa, ergui o rosto e limpei as lagrimas

-Eu me sinto culpada. Talvez se eu tivesse me comportado eles não teriam brigado e papai... –  Travis me puxou e me abraçou quando eu voltei a chorar, abafando minhas palavras.

-Você não teve culpa – disse e mexeu no meu cabelo – shiii

Respirei fundo e parei de chorar, mas ai a porta se abriu bruscamente.

-MAS O QUE É ISSO ? – A professora Cassandra, e o diretor ( oque diabos ele esta fazendo aqui?!) estavam boquiabertos, nos afastamos imediatamente quando ouvimos a voz do diretor – TEREI QUE MANTER VOCE LONGE DOS BANHEIROS NÃO É MESMO SENHOR MILLS ? Ou será melhor expulsa-lo do colégio?

-calma não é isso ... – Travis tentou dizer balançando as mãos. Toda atenção estava em Travis, e ele seria expulso se eu não fizesse  nada. Não quero que ele seja expulso.

-FUI EU – assim que disse, todos me olharam e riram, menos Travis que me olhou assustado – Eu o chamei pra cá por que eu... eu...eu tenho uma queda por ele e pareceu a chance perfeita, mas isso não vai se repetir eu juro, ele não teve culpa de nada – eu disse rápido. Cassandra não acreditou e passou a falar varias coisas a meu respeito ao diretor.

-Também não acredito – O diretor disse, dei um passo a frente me sentindo corajosa

-Não acredita no que uma garota pode fazer quando esta a fim de um garoto ? – Eu disse

-Espero que não se repita. Agora saiam dai agora – O diretor disse – Mais uma Travis, qualquer coisa que seja você esta expulso – e saiu a passos rápidos, com Cassandra atrás dele.

-Por que você fez isso? – Travis perguntou e me segurou pelos ombros – você é louca? – disse querendo rir

-Eu sei lá, só fiz – eu disse dando de ombros, ele me soltou e gargalhou alto, até se dobrar.

-Então... Então você é afim de mim – suspirou e parou de mim - Karou, muito obrigado eu te devo um grande favor

-Aquilo foi só pra te livrar, e não precisa agradecer – eu disse corando.

-Cara aquilo foi ótimo – e saímos do banheiro, todos nos encaravam, ignorei e fui me aquecer com Travis.

Depois da aula de canto me chamou para ter uma conversa, me disse para ficar longe de Travis para não arranjar problemas, assenti e disse que tentaria.

Quando cheguei em casa, Megan não estava, deixou um bilhete na geladeira dizendo que havia saído e não informou para onde, comi algo antes que ela chegasse e e fui me deitar.

06 dias passara voando. Penso cada vez mais em Travis, essa noite nem sequer consegui dormir, seu sorriso, sua voz, seu jeito desajeitado de dançar não sai da minha cabeça e sinto algo de revirar dentro de mim só de pensar nele. Prevejo reclamações sobre minhas olheiras, o ensaio de fotos é amanha então Megan, me  pressiona mais ainda. Ela descobriu sobre o que fiz, comendo escondida. Isso resultou em dois dias sem nem ver algo comestível na minha frente. As vezes eu odeio a minha própria mãe e desejo fugir. Mas depois desses dois dias ela pediu desculpa e disse que estava nervosa, e permitiu que eu me vestisse da maneira que quero.

Já que não consegui dormir, levantei e fui tomar banho. Empurrei a balança para trás da porta, com raiva assim que sai do chuveiro. Vesti jeans claros, regata preta e vans azul. Sequei o cabelo, e disfarcei as olheiras com maquiagem. Quando desci minha mãe estava ao telefone, assim que me viu apontou para aquele maldito instrumento, a maldita balança. 54 quilos. Parece que consegui o que ela queria. Assim que desligou o telefone, sorriu e me abraçou. Fiquei quieta.

-Estou contente por ter chegado ao peso quase ideal! – Baixei os olhos, e peguei a mochila. Megan arqueou a sobrancelha – Hoje é seu ultimo dia Karou. Sabado irei te apresentar Patrick, depois de ensaio de fotos, ele é um ótimo garoto. – disse, senti ódio me dominar, respirei fundo e sai me controlando pra não quebrar a casa inteira.

Preciso dar um jeito de não conhecer Patrick. Um jeito de calar Megan e seu jeito irônico. Preciso de um garoto que seja do pior tipo possível. Do tipo que fará minha mãe ter um troço. Acho que preciso daquele favor que o Travis disse que me devia.