Capítulo 1 - Esse é o caminho ?

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Você já parou pra pensar o quanto você se importa com os outros ? E quanto os outros se importam com você ? Foi o que acordei pensando nessa manhã, logo após mais uma das diversas noites conturbadas que tenho toda semana, uma crise existencial para me fazer repensar um dos meus conceitos que mais admirava, a autenticidade. Tento não me abalar com a opinião alheia que por mais incoerente que seja ecoa nos meus pensamentos toda vez que fecho meus olhos... Seria eu o problema ? Ou os outros ? Levanto de minha cama, ando em um ritmo lento até meu banheiro, tento não reparar na bagunça e no tão desorganizado sou.dentro do banheiro, mesmo com medo decido me olhar no espelho, percebo que ainda sou eu mesmo, abro um grande sorriso sem motivo algum, apenas em valorização dá vida. Dou um leve bocejo. decido olhar as horas no meu celular que está a carregar em cima da pia, vejo que ainda são 3:30 da madrugada, como eu poderia achar que era manhã ? Simplesmente pelo fato de eu ter ido dormir achando que iria acordar na manhã do dia seguinte ? Talvez, até porque isso faz todo sentido. Caminho até minha cama novamente e decido que vou me deitar, prometo a mim mesmo que não vou deixar coisas tão simples ficarem me perturbando... afinal ainda tenho algumas horas de sono.
Acordo novamente e dessa vez com certeza de que já é manhã pois sinto o sol e vejo seu espectro, levanto rapidamente e tento caminhar até o banheiro subitamente sinto um calafrio em minha espinha, olho para o chão e percebo que meu par de meias já não estão no mesmo lugar noite passada, tento me recordar de as ter tirado mas não consigo me lembrar, será possível eu ter tido um surto de sonambulismo durante a noite e perdido elas em algum lugar ? Dou uma leve gargalhada irônica, me viro para a cama e decido chacoalhar o cobertor. Balanço em movimentos totalmente descordenados, logo vejo as duas meias verdes voarem pelo cômodo, desisto delas, afinal perderam totalmente a graça depois de terem acabado com a hipótese de minha teoria sobre o sonambulismo, fato que teria sido muito mais engraçado. Volto a me encaminhar ao banheiro mas dessa vez sem interrupções, entro, pego meu celular e resolvo sentar na privada, sinto outro calafrio, dessa vez causado pelo frio do assento, mas decido ignorar, vejo várias notificações... Algumas​ mensagens... Vejo a hora, 7:29, horário em que eu já devia estar a caminho dá escola, levanto e vou em direção dá pia, escovo meus dentes, jogo uma água no rosto e decido me encarar, excepcionalmente hoje estou me sentindo bonito, mesmo não vendo muitos motivos para isso, reparo no meu cabelo e ecoa na minha mente minha mãe me dizendo que eu devia corta-lo, mas estou me sentindo ótimo com ele dessa forma, não muito pequeno e também não muito grande, pela primeira vez me sinto normal, comum. Percebo que já haviam se passado mais dez minutos e eu ainda estava apenas com uma calça moletom do conjunto de meu pijama, coisa que me envergonhava ainda usar, tiro rapidamente, vou até meu guarda roupa a procura de algo para usar, encontro uma calça jeans preta e uma camisa xadrez, como não havia muito tempo decido vestir, calço um Adidas cano alto todo preto, e tiro a conclusão de que eu já estava pronto.
Desço as escadas correndo já com minha mochila e um fone no ouvido, ao som de 7 do catfish and the bootlemen caminho até a escola, decido passar em uma loja de doces próxima da escola, que por incrível que pareça estava aberta aquela hora da manhã. Entro, pego um pacote de Trident e outro de cookies e ando até a fila, com o olhar fixo nas prateleiras... Sinto uma mão no meu ombro e a pronúncia do meu nome...
"Hugo ?!" Disse a voz, reconheci imediatamente, era June uma garota, ruiva de estatura mediana e traços bem finos que havia entrado em minha classe a algumas semanas antes, conversamos um pouco enquanto a fila andava, ela não carregava nada nas mãos, não consegui parar de me questionar o porquê dela estar na loja. Chegou minha vez, entreguei minhas coisas ao caixa, escutei June dizer o nome de todos os conservantes possíveis e de como eles afetariam minha saúde, eu pago. "Eu que agradeço" diz a caixa, embora eu não tenha dito nada, ao sair da loja, caminhamos em silêncio até a escola, para mais um dia pacato e monótono como todos os outros daquele ano. Depois de algumas horas sentado naquela carteira, escutando e aprendendo coisas, que eu sabia que não acrescentaria nada a minha vida mas que mesmo assim eu me dedicava, ou pelo menos tentava entender. Escuto o sinal, pego minhas coisas, me despeço de todos e sigo em direção a saída, alguns metros longe da escola, escuto uma passada rápida e decido olhar para trás, vejo June correndo em minha direção com um objeto na mão, coloco as mãos no bolsos e não sinto meu celular, ela se próxima um pouco mais e percebo que o objeto em sua mão era na real o meu celular, ela para na minha frente e me entrega o aparelho, respiro aliviado e antes que June dissesse algo dou um abraço nela.
"Você está gelado" exclamou ela
"E você muito quente" respondi
Me virei para continuar meu trajeto, e percebo que ela também, continuamos caminhando lado a lado bem lentamente, vejo ela tirando um maço de cigarro da bolsa, decido olhar para os carros passando.
"Você quer um ?" Disse ela
Nunca fui de fumar mas acabei aceitando, entre uma tragada e outra
Decido fazer uma pergunta a ela, mesmo achando uma má ideia.
"A quanto você fuma ?" Indaguei a ela
"É uma longa história..." respondeu June com uma voz bem profunda.

Delírios de uma mente adolescenteOnde histórias criam vida. Descubra agora