Nada, o belíssimo nada.
E então o Sopro.Abro os olhos, me sinto tonto, minha visão se perde em tantos tons de branco. Tento me mexer, um pouco difícil devido a dor em algumas partes mas obtive sucesso, ao meu lado acima do criado mudo há um botão vermelho, concluo que ele sirva para chamar alguém, decido apertar e em poucos minutos uma enfermeira adentra o quarto.
"Bom dia" diz a enfermeira com todo o entusiasmo do mundo, e o sorriso mais largo que eu vi em tempos, em seu crachá há um nome, "Beatriz".
Não sei como reagir ou responder, até porque não tenho recordações do porquê estar ali.
"Ãn, o que tô fazendo aqui ?"
Ela então me explica com todos os nomes técnicos possíveis o que me aconteceu na noite anterior, algo relacionado a uma intoxicação alimentar e diversas reações do meu organismo a isso.
- sua mãe teve que ir trabalhar mas parece que logo seu pai estará aqui. Temos mais alguns exames e até o final do dia você terá alta.
- Você saberia me dizer se meu celular está em algum lugar desse quarto ? Eu me recordo dele estar no bolso do jeans que eu estava usando.
- Se eu não me engano ele deve estar nos seus pertences.
Ela segue em direção a um armário, o Abre e retira um saco plástico selado.
- aqui está, seu celular e alguns outros pertences.
"Muito obrigado" respondo a ela.7 chamadas perdidas, 42 mensagens de 7 conversas e 32% restantes de bateria no celular. Começo então uma frenética série de mensagens de áudios para todas essas conversas, todas com o mesmo padrão, explicar o sumiço, o que ocorreu e caso algum deles quisesse me visitar o endereço do hospital, foi então que o grupo dos amigos virou um grande planejamento de visitação à minha pessoa, foi então que Dominic, Rachel e June decidiram que iriam me visitar logo depois da aula.
Eu já me sentia bem, e apesar de todos os luxos e mordomias tudo que eu gostaria era retornar para minha casa, penso em como eu não suportaria uma vida de luxo e riqueza onde dezenas de funcionários fariam minhas obrigações por mim, enquanto isso eu afundaria em tédio e melancolia, não seria um futuro tão ruim.
Escuto vozes próximas a porta do quarto, uma semelhante a de meu pai, creio que seja ele. O executivo de 1,80 adentra o cômodo. "Bom dia filho" seu semblante era de alguém que gostaria de estar no tédio do trabalho mas teve que visitar o filho internado. Minutos de conversa genérica entre pai e filho, tentativa de identificar o que pode ter causado a intoxicação. Uma frase me chamou atenção nessa conversa, "sua alta está prevista para antes do 12:00". Não foi preciso muitos cálculos para concluir que todo o planejamento de meus amigos para vir me visitar havia talvez sido em vão. Nada que alguns minutos de mensagens, mensagens e mensagens novamente, o que então teria sido um encontro desfeito se transformou em uma ida coletiva ao cinema.
14:00, chego no shopping, todos me esperando no 4° andar e eu como sempre atrasado. Vejo Dominic, Rachel e June aguardando bravamente em frente ao cinema. Rachel bate o dedo apontando em seu relógio invisível. "Pontualidade não é do seu feitio"
"Dá um desconto para ele" diz Dominic em minha defesa. Trocamos mais algumas frases e entramos na sessão.
O filme acaba, estamos do lado de fora da sala. "O que vocês acharam ?" Pergunto
"Achei fraco" diz Rachel
"Jornada do herói previsível" completa
Dominic parece emburrado, "é, eu esperava mais..." Papeamos por mais alguns minutos.
June já entediada com o diálogo desabafa "tá, já concluímos que o filme é ruim e agora ?"
"Ah sei lá, poderíamos tomar sorvete..." diz Dominic com ar sugestivo.
Chego em casa, meus pais estão na sala tendo um pouco do raro diálogo que eles mantêm, somente o necessário quando necessário, não é preciso escutar a conversa para prever o provável assunto, Eu.
Pego uma maçã na cesta de frutas, dou uma mordida, eles falam algo comigo finjo responder. Quando chego no meu quarto a maçã já está oxidada. Me rumo ao banheiro, preciso de um banho. Entro no chuveiro, temperatura escaldante, afinal, estamos no inverno. Me masturbo, não penso em nada, demoro, mas gozo, a água me lava.
Estou indo encontrar June no meio da noite, ela diz estar sozinha. minha mãe não sabe que eu saí, torço para que não perceba.
Chego no prédio, converso com o porteiro, ele telefona, logo me libera. 12° andar, 2 unidades por andar, um belo condomínio. Evito a campainha como alguém que já estivera ali muitos vezes, giro a maçaneta, me deparo com June em roupas íntimas. Ela me pede para fechar a porta, obedeço. A observo, ela me olha com olhar de obviedade, percebo do que se trata. Ela propõe que subíssemos para seu quarto. Novamente, obedeço. Sento na cama, ela me faz perguntas mas não escuta as respostas. Eu a beijo e logo recuo "isso é..." ela retribui o beijo, " o que você disse ?" Eu já não tinha mais palavras, apenas a beijo. Vou descendo pela sua barriga, o resto me torno autômato. Ela me chupa, não sinto muita coisa, noto seu esforço, estou entediado. Me recomponho. Estou prestes a gozar, ela diz estar também. Deitamos, ela me oferece um cigarro, eu aceito. "Você precisa voltar para casa ?"
"Sim, minha mãe não sabe que saí"
No celular marcava 00:40, chamei um Uber, ela se oferece para esperar comigo no hall. Aguardamos em silêncio, os minutos vazios escorriam um a um.
Deito em minha cama, minha cabeça gira, tento raciocinar os últimos acontecimentos, pego no sono.
Acordo atrasado, tenho aula em 20 minutos, decido não ir. Passarei a manhã refletindo sobre a minha existência tediosa, sinto a necessidade de açúcar, talvez eu tente fazer um bolo, ou me contente com algo pedido por delivery. Me contento com uma pêra, acho que vai chover. Estou em minha sala, encostado em uma das parede, sei que deveria levar o que aconteceu entre mim e June com a maior naturalidade, mas algo em mim faz aquilo parecer errado, talvez eu não devesse engatar romance com meus amigos, mas aquilo foi apenas sexo, certo ? Sempre ajo por impulso, mesmo sabendo que não sei lidar com o que vem depois, penso na situação mais otimista e isso me conforta no momento, mas e se ? Já estou ciente do pior. Ao menos eu transei.
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Delírios de uma mente adolescente
Ficção AdolescenteHugo é um garoto comum, embora pense diferente dos outros, essa é a história da fase mais profunda dele, em meio a crises existenciais, descobertas, e diversas epifanias nem sempre tão luminosas. "Profundo e Brilhante. Desperta a curiosidade do leit...