Semana 2: Parte 1

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É claro que eu fiquei resfriada.

Depois do encontro incrível que tive no fim de semana, começo a semana toda constipada e com dor de cabeça. Ainda bem que Adam não adoeceu, porque ele é muito mole quando fica doente.

Uma vez, ele teve uma faringite e num momento de febre começou a se despedir, dizendo que estava "vendo a luz" e que ia morrer. Depois de um cochilo, a febre baixou e ele melhorou no dia seguinte. Na verdade, eu não deveria nem estar comentando isso, porque ele fica chateado quando eu conto essa história.

Eu bem que queria me dar ao luxo de fazer corpo mole, mas tenho que trabalhar, mesmo acreditando que cortar meu nariz com um cutelo gere menos incômodo do que continuar com ele escorrendo/entupido/coçando/ardendo o dia inteiro.

Enquanto meus colegas de trabalho vêm constantemente me perguntar sobre meu estado de saúde e me oferecer dicas de remédios e tratamentos alternativos, minha chefe ignora completamente meus indícios de doença. Suspeito que ela esteja fazendo isso para não correr o risco de ter que me liberar para repousar em casa (como qualquer bom chefe faria).

O volume de trabalho está bem alto e eu ando bem estressada. Eu até poderia estar menos estressada, se não fosse esse resfriado e o fato de a Rafaela estar sob pressão do chefe dela e descontando todo seu nervosismo sobre seus pobres subordinados.

Meu único alento em meio a esse mar de nervos e planilhas é programar meu encontro com Adam. Pensei em algo simples, mas que nunca fizemos. Quanto mais eu penso nas minhas antigas programações com Adam, mais eu me convenço de que estávamos completamente imersos na rotina. Sempre ficávamos em casa de preguiça ou saíamos para o cinema ou para comer em algum lugar perto de nossas casas.

Hoje meu dia está seguindo mais ou menos o mesmo padrão de ontem. Chego em casa exausta pela gripe e pelo excesso de trabalho, me jogo de qualquer jeito em cima do sofá e fico ali desejando desaparecer até a minha mãe chegar e me encher de paparicos.

Hoje ela me trouxe um chá de mel com limão. Aceito de bom grado o líquido gostoso e quentinho, enquanto me ajeito para que ela sente perto dos meus pés.

- Você até pode ser uma profissional formada e bem empregada, mas sempre vai ser aquela mesma menininha da mamãe, que adora um chazinho quando está doente. – ela me diz com ternura.

Minha mãe é muito linda. Se eu me considero uma pessoa ok, ela é o ápice da beleza que um dia espero alcançar. Seu nome é Gilma. Ela detesta o nome dela e eu não posso tirar sua razão nesse aspecto. Todos a chamam de Gil, menos eu, que sempre a chamo de mãe em qualquer situação. Até quando estamos brigando.

Minha mãe tem todas as qualidades que eu admiro, mas não consigo copiar. Ela é vegetariana, pratica yoga e meditação, acorda às 5 horas da manhã para correr na areia fofa ou em alguma pista ao ar livre. Ela toma um copo de suco verde todos os dias de manhã quando acorda e lê livros sobre espiritualidade todas as noites antes de dormir. E como se não bastasse tudo isso, ela ainda arranja tempo para trabalhar como decoradora de ambientes e ser uma mãe atenciosa e paciente.

Em minha defesa eu posso dizer que nado melhor do que ela. E sou mais organizada. Minha mãe é bem avoada.

Ela me diz que eu sou muito parecida com o meu pai, em vários aspectos. Eu só sei sobre o meu pai o que ela me conta, porque ele morreu de câncer quando eu ainda era uma criancinha. Às vezes eu me forço a lembrar dele. Algumas imagens soltas vêm a minha cabeça, mas não tenho muitas memórias sobre o período em que convivemos.

Saindo da minha digressão, vamos voltar ao sofá, onde estou sentada com minha mãe.

- Mãe, por favor, nunca fale isso na presença outro ser humano além de nós mesmas! – repreendo-a em tom de brincadeira.

Dez Semanas com AdamOnde histórias criam vida. Descubra agora