Semana 4: Parte 1

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Meu tornozelo está da grossura de uma bola de handebol. Talvez seja um pouco de exagero meu, mas o inchaço é real. Fico a semana inteira mancando pelos lugares. Carol me apelidou carinhosamente de Saci. Eu carinhosamente ameacei lhe dar uns beliscões da próxima vez que nos virmos, o que a fez diminuir a quantidade de vezes em que ela me chamava pelo novo apelido, mas vez em quando ela ainda solta uma gracinha.

Tirando Adam, nenhum outro ser vivo nessa Terra sabe que eu me machuquei no estacionamento. A versão oficial é que eu virei o pé em um trecho tenso da trilha, com escalada, em que eu escorreguei ao pisar em uma pedra com limo. Continua não sendo muito glamuroso, pelo menos é mais digno.

Voltando ao assunto Carol, no domingo ela não respondeu minha mensagem. Na segunda a primeira coisa que faço é mandar um "ta viva?" por mensagem, ao qual ela me responde apenas com um "sem novidades".

Conhecendo minha amiga como eu conheço, "sem novidades" indica que não houve um pedido de casamento no jantar. Fico me corroendo de curiosidade, mas sei que se ela quisesse me contar por mensagem, ela já o teria feito. Deixo a resenha para quando nos encontrarmos pessoalmente.

No trabalho, também sou paparicada pelos meus colegas. Ninguém me deixa levantar para pegar os papeis na impressora ou para encher minha moringa de água. Até mesmo a chata da Rafaela se compadece da minha situação e vai até a minha mesa quando quer me cobrar algo. Os cuidados comigo chegam até ao ponto se tornaram ligeiramente excessivos. Em um determinado momento, quando eu levantava, Rui (que trabalha comigo) perguntou:

- Aonde você pensa que vai? Já não falamos que você tem que ficar sentadinha na cadeira o dia todo?

- Hm... Na verdade eu to indo resolver um problema que só eu mesma posso resolver. - respondo meio constrangida.

- Nossa, que insubstituível! O que você tem de tão importante pra fazer que eu não posso ajudar? - ele alfineta.

- Eu tenho que fazer xixi! Você sabe um jeito de esvaziar minha bexiga por mim?

Ele tem a decência de enrubescer e murmurar um "desculpa, só quis ser útil". Retorno apenas com um aceno condescendente e saio mancando.

Estamos todos sentados à mesa no almoço quando Carla, minha colega de baia, comenta:

- Fran, que bom que viemos almoçar mais cedo, né?

- Concordo! – aceno com a cabeça para enfatizar meu discurso. - Já estava com fome desde onze horas. Só esperei até agora para tentar ser fina.

- Eu vi que você tava pesquisando receitas de sanduíches. – Rui acrescenta.

- Ah, mas as receitas não são pra hoje não...

- Cabeça de gordinho é fogo, né? Mal chegamos no meio da semana, mas você já fica planejando as gordices do fim de semana. - Carla graceja – Você é sempre assim! Até me surpreendi quando soube que você tava indo fazer exercícios no fim de semana com o Adam.

Eu não me junto às risadas.

- O que você disse?

Silêncio na mesa.

- Eu só disse que você tem a cabeça de gordinha. Mas eu também tenho. Só penso em comida. - ela responde com muita leveza.

Não falo mais nada. Rui e Carla engatam rapidamente um novo assunto, querendo desviar o foco, mas eu não consigo mais ficar tranquila o resto da refeição.

Não que eu me sinta constrangida com a minha aparência. Sei que não tenho o corpo dentro dos padrões desejados, mas eu me sinto muito confortável em ser exatamente do jeito que eu sou.

Dez Semanas com AdamOnde histórias criam vida. Descubra agora