O Necrotério

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       Eduardo acordou assustado durante a noite, onde estava? Não sabia responder, mas sentia um clarão passar pelos seus olhos fechados, não conseguia abri-los! Que sensação era aquela? Nunca havia sentido nada igual, será que ainda estava sonha...

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       Eduardo acordou assustado durante a noite, onde estava? Não sabia responder, mas sentia um clarão passar pelos seus olhos fechados, não conseguia abri-los! Que sensação era aquela? Nunca havia sentido nada igual, será que ainda estava sonhando? Não conseguia movimentar seu corpo, não poderia mexer nem um dedo, começou a ficar assustado. Que tipo de brincadeira era aquela?

     [Respira, respira, você está sonhando, mas como vou saber se não posso me beliscar? Eu mal consigo me lembrar onde eu estava antes de me enfiar nesta situação... Ah, sim! Estava com minha noiva em um bar, estávamos dançando e comemorando nosso primeiro ano juntos. Mas como eu vim parar aqui?]

    Eduardo se esforçava ao máximo para conseguir movimentar nem que fosse uma pálpebra, não sentia absolutamente nada, nem frio, nem calor, nem dor, nem fome, apenas estava deitado, sem saber onde estava e o que estava fazendo. Com mais esforço começou a levantar as pálpebras, mas tornou a fechá-las novamente, pois a claridade era intensa, ora clara demais, ora se apagava. Mas deveria passar por aquilo se quisesse saber onde estava, esforçou-se mais um pouco e enfim seus olhos se abriram, pôde notar que estava sendo carregado por um local escuro, embora houvesse luzes a cada cinco metros. Era um corredor pelo tamanho do trajeto que fizera. Era fato que estava sobre uma maca, mas o que estaria fazendo ali?

    [Pense rápido! O que aconteceu? O que me trouxe aqui. Droga! Não consigo me lembrar de nada. Só me lembro do bar, apenas do bar! De como eu estava feliz, como é possível? Preciso me lembrar, preciso gritar! É preciso gritar].

     A maca parou enquanto Eduardo se perdia em pensamentos. Não conseguia gritar, nem sequer conseguia abrir sua boca. Estava sendo carregado por alguém que não conseguia ver, girou os olhos nas órbitas até conseguir focar um homem, não conseguiu ver muito, pois o rosto do homem estava semi coberto por uma máscara cirúrgica, alguma coisa começava a fazer sentido. Estava em um hospital, mas o que havia causado aquilo? Será que estava atrofiado, ou será que estava sem movimentos mesmo, perdera os movimentos em um acidente? Não se lembrava de nada.

     O homem que o carregava começou a entrar em uma sala, com esforço e para o desespero de Eduardo, a sala era tão repugnante que ele poderia sentir vontade de vomitar, se pudesse sentir algo. Começou a olhar com atenção algumas mesas com lençóis por cima, já tinha visto aquilo antes, nem que tivesse sido em um filme, mas havia visto. Ah, sim! Lembrou-se, estava em um necrotério, tentou sentir seu coração acelerar, mas nada sentiu. Mas o desespero vinha do seu cérebro, e isso ele podia sentir muito bem.

      O médico pegou uma toalha de pano branco e a molhou em algum líquido transparente, começou a passar pela perna de Eduardo, consequentemente pelo corpo todo. Estava sendo limpo, para o que ele não fazia ideia, pois seu desespero não o deixava pensar direito. A única coisa que conseguia fazer era pensar e por ora, nem isso poderia fazer em paz.

     Como aquela sensação era atormentadora! Infernal e agonizante, a situação piorou quando o médico o colocou deitado de lado para limpar suas costas e Eduardo deu de cara com um corpo aberto sobre uma mesa, uma luminária sobre o corpo branco no mortuário, não havia sangue, mas alguns órgãos estavam expostos. Uma imagem demasiado macabra.

      Desesperado tentava soltar a voz, gritar que não estava morto, mas tudo era em vão, pensou que deveria estar anestesiado, era isso, estava sob um efeito de anestesia forte, tão forte que impedia seus movimentos, o impedia de qualquer reação, sentia seu cérebro funcionar, podia ouvi-lo, mandava a informação para movimentar as mãos ou os pés, mas o corpo não obedecia. O médico voltou seu corpo na posição anterior e parecia estar conversando com alguém.

     Se pudesse sentir algo, teria dado um pinote de felicidade, uma fresta de luz no meio das trevas, podia ouvir a voz do médico bem longe, como se tivesse muito longe, mas podia ouvir. Isto fez Eduardo se encher de esperança. O efeito da anestesia talvez estivesse passando. 

      Mas não era bem isso que o destino reservara para ele, um moço bonito de vinte e poucos anos, bem empregado e com uma namorada linda. Outro médico chegara, e ambos ficaram ao lado da mesa, um de cada lado olhando para Eduardo com uma expressão curiosa.

     [Sim! Olhe para mim, eu não estou morto! Não estou morto! Tirem-me daqui, basta esperar a anestesia passar para que eu volte ao normal].

      Mas as expressões curiosas transformaram-se em trajetos de gozo e os médicos começaram a rir enquanto um deles levava a mão até os olhos de Eduardo e os obrigava a fechar. Bem como fazem com uma pessoa que morre com os olhos abertos. Mas ele não estava morto, como era possível? Será que não podiam ver, voltou a abrir os olhos, mas desejou eternamente jamais o ter feito. Um dos médicos segurava um bisturi brilhante, devagar afiava o objeto enquanto o outro médico desenhava algo em sua barriga e seu peito.

      O pavor tomara conta de Eduardo, começou a pensar muito rápido, isso o fez lembrar o que havia acontecido. Lembrava-se de sua noiva chorando sobre ele, uma confusão de uma noite chuvosa. A pista estava molhada e agora conseguia lembrar-se de luzes de ambulância. Era uma lembrança torturante, se lembrar da sua namorada chorando em seu ouvido, jogada sobre seu corpo dentro da ambulância. Lembrou-se do desespero que ela ficara ao notar que aparentemente seu amado morrera e a última coisa que se lembrou de foi de tudo escurecer, e agora ele estava sobre uma mesa de um necrotério. Mas não estava morto!

      Era tarde demais para tentar se safar da morte, o bisturi encontrara sua pele e sua carne e começava a cortar, do umbigo ao meio dos dois peitos. Viu seu peito ser aberto e um dos médicos começar a revirar seu interior, cortando algo e retirando. Eduardo lembrou-se de que escolhera doar órgãos quando morresse, arrependeu-se amargamente da escolha naquele momento. A visão do rapaz começava a se embaçar, será que enfim estava morrendo de verdade?

      Realmente estava falecendo, desta vez de verdade. Então começou a pensar em sua namorada, era um direito morrer com um pensamento feliz, uma última lembrança enquanto seus olhos ameaçavam a se fechar para sempre. Começava a piscar, antes não conseguia piscar tanto, entre uma piscada e outra observou os médicos levando as mãos à cabeça desesperado. Notaram o que estava acontecendo, mas era tarde, estava sem os órgãos e a morte beijava seus lábios. Vencido e conformado fechou os olhos e deu seu último suspiro de vida.

O Assustador e Doentio Livro de Histórias de TerrorOnde histórias criam vida. Descubra agora