O Jardim das Flores Douradas

66 5 0
                                    


Sans pareceu perplexo ao rever Frisk no dia seguinte - reagindo com um sorriso travado de fúria quando a garota passou em frente à mesa da Sonserina durante o café da manhã.

Para Frisk, a raiva de Sans era mais gratificante do que a retaliação que poderia ter planejado, e isso foi o bastante para fazer com que desistisse de tentar se vingar pelo que ele havia feito.

- Aquele esqueleto deve estar muito decepcionado – riu-se Chara, assistindo, ao longe, Asriel e Monster Kid saltitando ao redor da fonte.

- É - Frisk concordou, erguendo uma sobrancelha – ele realmente está furioso. E pensar que já tentou ser meu amigo um dia.

Chara encarou Frisk por um momento, desfazendo seu sorriso falsamente psicótico.

- Frisk... - a menina espantou-se ao ver Chara abraçar os próprios joelhos – você me  acha... estranha?

A pergunta pegou Frisk de surpresa.

- Quê? Claro que não! - exclamou – você é diferente... como eu. Só isso. É o que faz a gente especial, não é? - sorriu, apertando o pulso da garota – você é minha melhor amiga!

Comovida com tal declaração, Chara baixou o olhar, sorrindo timidamente. Frisk nunca tinha percebido o quanto Chara ficava simpática quando não ostentava sua expressão sarcástica.

Do nada, interrompendo as duas amigas, Asriel se aproximou, trazendo nas mãos um pedaço de pergaminho recém desenrolado.

- Olha! - arfou animadamente - papai nos convidou para visitar seu jardim nos terrenos de Hogwarts!

Frisk e Chara se puseram diante da carta começando a lê-la.

Bom dia, filho! Está um dia lindo aqui fora! Um clima perfeito para brincar de bola! Por que não convida Chara e Frisk para visitarem o jardim? Aposto que elas irão adorar!

Asgore

- Jardim? - indagou Frisk - temos um jardim aqui em Hogwarts?

- Sim - Asriel assentiu - os alunos do primeiro ano não costumam ir lá, já que só precisam frequentá-lo no terceiro ano, quando temos aula de Estudo das Criaturas Vivas. Mas podemos visitá-lo sem nenhum problema. Papai fica dentro de uma caverna ao lado do jardim, cuidando dele todo dia.

- Bem. Ele tem razão - Asriel pareceu surpreso quando Chara sacudiu os ombros - está um dia lindo. E é fim de semana. Devíamos mesmo ir lá.

Frisk sufocou o riso, vendo o jovem cabrito erguer as sobrancelhas de modo atônito. Porém, sem dizer nada, Asriel apenas guinchou, tomando a dianteira e começando a guiá-las em direção ao misterioso jardim.

Depois de uma curta caminhada pelos corredores rochosos que separaram o Núcleo do castelo, os meninos finalmente chegaram à uma pequena bifurcação. Asriel apontou para o lado direito, incentivando Frisk e Chara a se adiantarem.

Curiosa, a menina adentrou pelo caminho, com Chara colada em suas costas.

- Lugar estranho - os olhos rubros de Chara vasculharam as ramificações de plantas que pendiam na grande entrada adiante.

- Shhh - o garoto tocou o focinho com o dedo, pedindo silêncio - sem barulho. Pode assustá-las.

Antes que Frisk pudesse perguntar quem poderia se assustar, a luz diante deles ofuscou sua visão por um momento, desviando-lhe a atenção.

Quando a claridade diminuiu, a menina pôde focalizar um amplo jardim florido, abarcado por uma elegante redoma de vidro. No chão, crescendo em vários ramalhetes brilhantes, centenas de flores douradas decoravam a terra, criando uma espécie de tapete vivo e macio no chão da pequena estufa.

Frisk nunca havia visto nada tão bonito em toda a sua vida.

- É... é... lindo - ofegou, maravilhada.

- É mesmo, não é? -sorriu o monstrinho - papai cuidou delas desde que eram sementinhas. Ele adora as plantas... e os animais que elas atraem. Espantadas, as meninas observaram um grupo de pequeno animais esgueirar-se entre os ramos, chafurdando de modo brincalhão entre as pétalas. Embora se parecessem com filhotes de lobo, Frisk julgou-os rechonchudos demais para terem tal denominação.

- Que gracinhas! - arrulhou Chara, abaixando-se para tentar acariciar um dos pequenos seres caninos.

Repentinamente, um som alto emergiu da caverna localizada ao fim da redoma, afugentar do quase todas as criaturinhas que haviam aparecido.

- Eu não faria isso, mocinha - uma grande sombra destacou-se para fora da caverna - os Tobys podem ser bem ariscos quando querem. E acho que não vai querer machucar essa pena outra vez.

- Papai! - Asriel riu, abraçando o grande monstro caprino.

- Como vai, Azzy? - Aspire sorriu, lançando um olhar amável para as meninas - bem vindas, garotas. Venham... acabei de fazer um chá.

Acompanhando Asgore, os três seguiram-para dentro da caverna. Assim que entrou, Frisk sentiu um cheiro quente, adocicado e delicioso invadir o ar.

- Chá de flor dourada - explicou o monstro, indicando um caldeirão aí canto da caverna, que borbulhava um líquido amarelado em seu interior. Asgore recolheu três conchas do conteúdo em xícaras, distribuindo-as entre as crianças - espero que gostem, meninas. Fiz um caldeirão cheio para vocês.

Levando o chá aos lábios, Frisk bebericou um pouco, degustando do sabor. Seus olhos saltaram - nunca havia provado bebida tão gostosa.

- Bom, não é? - o bode sorriu - eu faço quase todo dia. E ajuda a recuperar as forças depois do trabalho.

A menina continuou a beber, estalando a língua de deleite.

Porém, enquanto esvaziava a xícara, sentiu algo estranho remexer-se em sua mente. Do nada, tomando completamente sua concentração, uma dívida aflorou em sua cabeça, verbalizando-se antes mesmo que se desse conta.

- Undyne disse que o senhor estava lá quando meus pais morreram - disse repentinamente.

Asgore engasgou com o chá, sacudindo a cabeça e tossindo. Chara e Asriel se entreolharam com espanto.

- Peixinha de língua solta - suspirou, ainda lacrimejando - escute aqui, Frisk... você não deveria... muitas informações... não está pronta para saber certas... coisas.

A criança cruzou os braços, encarando Asgore com seriedade.

- Eu estou pronta - disse, convicta - eu quero saber a verdade. Toda a verdade, senhor Asgore.

Asgore aparentou esperar que Frisk mudasse de ideia. Por fim, vendo-a irredutível, desandou a sacudir a cabeça,encarando Chara e Asriel como se realmente não acreditasse no que estava fazendo.

- Tudo bem. Vou te contar o que sei, Frisk. E nem pense em contar isso para outra pessoa - falou, num tom de voz sombrio - por que tudo começou com o monstro milenar... e sua busca pelo vórtice temporal...

Pottertale - O Encontro de Dois Mundos (AU de Undertale)Onde histórias criam vida. Descubra agora