Minas Gerais, Brasil.
– Manoel, tá fazendo errado! – Criticou Caio mais uma vez – Você cisma de fazer rápido demais e acaba fazendo de qualquer jeito.
– Eu sei o que faço, você tem é inveja de minha habilidade. – respondeu Manuel catando as espigas de milho da plantação.
– Tchau, meninos, até mais! – gritou um senhor no fundo da fazenda.
– Onde seu avô vai? – perguntou Manoel.
– Resolver algum assunto na cidade como sempre. – respondeu Caio desinteressado, ainda trabalhando feito máquina nas espigas.
Ouviu-se um barulho estranho, um carro deslizava pesarosamente pela estrada de barro dos limites da fazenda, um carro bem grande e antigo, devia ser um quatro por quatro. Ele se movia bem devagar, Caio o via pelo canto dos olhos enquanto mantinha o árduo trabalho manual.
– Tem alguém chegando, parceiro – comentou Manuel, o rapaz já estava acostumado aos carros entrando e saindo da fazenda.
– Deve ser só mais um cliente de meu avô, é só falar que ele não está que o cliente vai embora.
O carro andava cada vez mais lento, parecia vivo e analisando o local, todavia Caio tinha trabalho pela frente e não se dava ao luxo de parar e olhar o carro.
– Ei, rapazes – A voz era de um homem, e a julgar pela voz era um velho barbudo e gordo – Queria ver os documentos de minha encomenda. Seu avô o deixou na sala verde.
– Meu avô acabou de sair. – Caio não olhava o homem ainda.
– Sim, eu sei. Por isso digo que está na sala verde, leve-me lá para ver o documento melhor, por gentileza? – Insistiu o homem.
O sotaque era estranho a Caio, ele se virou e olhou o homem que erguia seu enorme corpo para fora do carro monstro. O homem sorriu e desceu, tinha ao menos dois metros de altura, uma blusa de botão xadrez aberta exibindo um peito peludo, o cara devia pesar uns duzentos quilos, entretanto o que o assustava é que ele não era velho, não parecia ter mais de trinta anos e seus duzentos quilos não eram de pura gordura, parecia ser um homem forte e feio.
– Tá, bem. – Anuiu Caio relutante, trate bem meus clientes, garoto dizia seu avô – Bora lá.
Caio andou na direção do homem de olhos entreabertos por causa do sol. – Tome, use meu chapéu de palha, aqui é bem quente.
Caminharam juntos até a casa.
– Carpinteiro está aqui? – perguntou o homem.
– Hum, não. – Caio estranhou a pergunta – Carpinteiro não trabalha aqui, é só um amigo, de onde o conhece?
– Ah, não é nada. – Eufemizou o homem grande – Sabe onde ele está?
– Não sei. – Respondeu caio – Mas deve estar é trabalhando. Qual é a sua graça, moço?
– Pode me chamar de Tartus. – Respondeu o homem.
– É que eu vou precisar saber o nome mesmo para procurar o documento. Não se preocupe, Tartus. – Concluiu Caio. E ao parar na porta e caçar as chaves para abrir a casa, olhou para trás e notou duas coisas: uma é que o homem permanecia parado dois degraus abaixo no sol e que Manuel, o gordinho, estava deslocado de seu trabalho, paralisado, olhando-o de longe sem falar nada.
Abriu a porta e convidou o homem a entrar.
– Perdoe o calor, Tartus – Desculpou-se Caio – Aqui é realmente quente.