Capítulo 16

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Sem correção 


Sophia,

Era escuro o abismo ao qual eu havia sido lançada. Não tinha fundo. Eu continuava caindo e caindo cada vez mais.

Acordei de um sobressalto. Nem era madrugada e parecia uma eternidade.

Passei a mão sobre os lençóis e encontrei minha filha no escuro. Ao menos ela estava ali... Ao meu lado.

A imagem do Alec tomou conta dos meus pensamentos. Aquele homem não tinha noção do nó que acabava de dar em minha mente e principalmente em meu coração.

Duas experiências. Duas e desastrosas experiências.

O Elton, era um bom garoto na escola. Até eu descobrir que ele não estava lá para estudar e sim para passar drogas para as meninas, mas era tarde. Ele se dizia apaixonado, e eu pensei que um dia poderia mudar de vida por mim.

Idiota pela primeira vez.

E quando eu tentei sair fora... Deu no que deu.

Em minha mente, nosso relacionamento havia terminado para sempre. Não tinha volta. Mas naquela noite, quando voltava do trabalho, ele esperava por mim. A simples lembrança me leva ao pranto.

Depois de tirar toda minha dignidade e orgulho, me despindo com força e brutalidade. Ele fez o que queria enquanto eu clamava por piedade.

Fui massacrada. Tanto fisicamente como emocionalmente.

Algumas pessoas sentiram-se até mesmo no direito de opinar em minha vida, quando descobri a gravidez.

"Tira "isso" querida. Toda vez que olhar para esse pequeno monstro em seu ventre, se lembrara de como foi concebido".

E no começo até meu corpo pedia por isso. Eu sentia repulsa de mim mesmo. Pensamentos estranhos começaram habitar minha mente. Eu essa criança?

E agora quando sinto sua respiração ao meu lado, sei que não saberia viver sem a Bebel em minha vida.

E agora isso!

Nenhuma violência pode ser pior que aquela que arranca seus sonhos, destrói sua esperança e deixa aos pedaços sua alma.

Desço as escadas praticamente arrastada e tomo um pouco de leite. Preciso de forças. Reunir todas as minhas forças para continuar o caminho, porque ao menos minha filha ainda precisa de mim.

Saqueio a geladeira em busca de uma sopa me oferecida pouco mais cedo. Naquele momento, não era ausência do apetite, era simplesmente falta de mim em mim.

Poderia ter assistido Tv na sala, mas penso na Bebel sozinha no quarto e volto. Mantenho a luz apagada, mas a claridade da Tv me faz ver sombras por todo quarto. Estou exausta, mas não tenho sono.

Diante da tv, passo os canais como se fossem folhas de revista, e nem mesmo observo o que acontece. Uma notícia triste me faz chorar. Não por eles, mas o minha solidariedade hoje é somente comigo.

De manhã eu mal me aguentava sobre as pernas. Mesmo assim preferi ir ao trabalho. Como diz o velho ditado: "Mente vazia... Oficina do Diabo." Eu ficaria louca se não tivesse para onde ir.

Agora diante do prédio pomposo que ostentava o letreiro "Hotel Farrell", eu me questionava se isso teria sido e certo a se fazer.

- Sophia? – Allana veio ao meu encontro e me abraçou. – O que está fazendo aqui? – Pela pergunta ela sabia do ocorrido. Claro que sabia. Era irmão dela. Devia ter ido para a casa de alguma das irmãs ou da própria mãe. A essa altura todos estavam me recriminando.

- Eu nem sei se ainda tenho um emprego não é? – O olhar dela era de muita preocupação.

- Não pense você que alguém de nós compactuava com essa coisa horrível. Para nós foi e é um prazer conhecer e conviver com você.

- Obrigada! – Apertei suas mãos que agora seguravam as minhas.

- Não quero que se sinta obrigada a me ouvir Sophia. Eu em seu lugar estaria cuspindo meu veneno até mesmo sobre a décima quinta geração desse desgraçado. Mas é meu irmão. E ontem havia pedido nossa ajuda pela primeira vez, e...

- Allana, - Eu não queria que me contassem sobre a ocasião. Lembro-me das flores e do anel que a Bebel sem querer havia me entregado. Da mesa arrumada. E hoje pude ver a cama ainda cheia de pétalas de flores vermelhas. Devia estar pensando em mais uma noite, e assim ele chegaria aos 365 dias.

- Não... Não direi nada por agora. Só quero que quando estiver melhor prometa que irá me ouvir.

Meu sorriso era fraco, mas estava prometendo sim. Por ela.

O trabalho foi revigorante. Não tive tempo sequer de parar para pensar. E quando saímos para o almoço, eu quis em casa ver como estava minha filha.

- Mamãe! – Ela se jogou em meus braços, contando com detalhes sua manhã.

Abracei minha pequena e brinquei com ela até o horário de voltar ao trabalho.

Antes de estacionar, avistei o carro do Lucas, à porta do hotel. Não tinha forças ainda para esse encontro. Não queria vê-lo. Não queria ouvir mais nada sobre a maldita aposta e muito menos sobre o Alec.

Era um momento em que eu precisava comigo mesma.

Pedi ao motorista que seguisse. E depois de duas quadras, desci do carro e comecei a caminhar. E sem perceber, me encontrei diante ao Instituto Iolanda Paiva.

Quando pedi para falar com a dona Iolanda a resposta da garota foi direta.

- Dona Iolanda não atende mais meu amor. – Como assim? Eu havia estado com ela ainda esse mês. Tirei o celular do bolso e liguei diversas vezes, e não fui atendida.

Deixei a moça que mal olhava para mim, e segui em direção a saída.

- Sophia... Aposto como veio me procurar. – Olhei para trás, uma tristeza abateu-me por constatar que a moça não me via conversar com a patroa.

Ela me levou até seu escritório e conversou comigo por minutos preciosos. Estava atrasada para o trabalho, mesmo assim não me importei.

- E agora fazer o que Sophia? Se afundar em uma tristeza sem fim? Sentar-se e sentir pena de si mesmo, até que o mundo acabe? Ficar murmurando pelos cantos da casa ou pelas ruas que ninguém te ama e ninguém te quer?

Era exatamente assim que eu me sentia. E embora ela não sorrisse, e falasse a verdade, sentia um "Que" de intimativo em sua voz.

- Não filha! Ser elegante é ser confiante. Só você sabe de seus limites e de suas capacidades. Mostre à você mesma de que é capaz de dar a volta por cima e ser feliz.

- E o Alec? Ele tem que pagar por tudo o que me fez.

- Não acha que ele já esteja pagando? Ele se apaixonou por você. E não entenda que esteja eu dizendo que isso seja ruim. Mas ele praticamente caiu em sua própria armadilha.

- É um mentiroso.

- Não filha. Não acredite nisso. Como me disse, ele já havia perdido o jogo. Quer um conselho? – Como ela me fazia essa pergunta? Eu estava ali. Havia aberto meu coração para ela, e ainda perguntava se eu queria um conselho?

- Cuidado para não castigar a pessoa errada. 

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