Capítulo Vinte três

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Sem correção. 

Alec, 

Fiz o possível para não fazer barulho ontem quando cheguei. Sei que ela estava dormindo e não quis incomodá-la. Nem mesmo conversamos sobre eu ficar aqui, tanto que fiquei em dúvida em voltar. Mas voltei. Voltei porque sinto uma necessidade enorme de ficar ao lado da Sophia e da Bebel. Não me vejo sem elas.

- Bom dia! – Sentei-me de imediato ao ouvir a voz de uma das minhas irmãs.

- Agora invadem o quarto das pessoas sem serem convidadas?

- Chega de drama. A Sophia estava saindo com a Bebel para a praça e me deixou entrar. – Ela podia ter me chamado. Seria legal passearmos os três logo pela manhã. - Precisamos conversar.

- Sobre? – Levantei-me não me importando de estar somente de cueca diante de minha irmã, fui até o closet e me vesti de um conjunto de moletom.

- Não acha que me deve uma satisfação? – Veio atrás de mim no closet.

- Eu? – Quem ela pensava que era? Minha mãe? – Refresca minha memória Sucuri, porque de manhã não é fácil raciocinar sobre informações codificadas.

- É verdade acho que preciso lembrar você de algumas coisas. Pelo que tem vivido vejo realmente que se esqueceu do passado. – Ela voltou para o quarto e quando pensei que iria sentar-se ficou bem de frente a mim. – Negro. Imundo. Que mais... Deixa me lembrar. – Um calafrio percorreu o meu corpo. As palavras da Alliana se referiam a um rapaz por quem ela havia se apaixonado no passado. Era motorista da casa de meus pais, e logo quando soube do romance dos dois fui até ela exigindo que aquilo terminasse. – Ah sim... O que as pessoas irão dizer sobre você minha irmã?

- Chega! – Fui ríspido com ela.

- Chega? Por quê? Essas palavras agora te incomodam? Agora é diferente porque é você quem está amando? – Seus olhos se encheram de lágrimas e uma dor invadiu meu coração.

Nunca mais ouvi falar sobre nenhum relacionamento da Alliana. Ela se fechara em seu próprio mundo se tornando uma mulher de negócios que dava gosto de ver. Era o orgulho de meu pai.

- Alliana... – Tentei me justificar, mas não tinha justificativa.

- Alliana... Alliana. Eu ainda tentei alertar essa moça. Disse para nunca se apaixonar por você. A pobre mal sabe seus pensamentos sobre as pessoas negras.

- Não Alliana, eu não penso mais assim. Eu era um tolo e inconsequente. Não sabia o que era certo ou errado, não tinha ao menos uma opinião própria.

- Claro que não. Lembro-me que andava cercado de mocinhas ricas e brancas e esse era o seu mundo.

- Acha mesmo que depois de conhecer a Sophia e a Bebel. E me apaixonar por elas, eu ainda teria uma opinião tão ridícula assim?

- Você me perguntou uma vez Alec como eu iria sair com um rapaz negro pelas ruas? Como a sociedade iria me encarar? O Antony foi o grande amor de minha vida. E eu teria me casado com ele, caso você não o tivesse humilhado.

- Se ele amasse você teria lutado para ficar ao seu lado.

- Ele bem que tentou. Mas já havia perdido o emprego, a mãe estava doente e com você por perto, não via saída. Eu tive muita raiva de você por algum tempo. Estava sempre trabalhando para não estar em família, e assim não encontrar você. Mas quando me contaram sobre a Sophia, eu não pude acreditar. Sabia que havia algo errado na história. Disse para ela não se apaixone por ele, e naquele dia me deu vontade realmente de contar à ela de você e seu preconceito idiota. Mas agora eu mudei de opinião. Vejo que os próprios Deuses se vingaram por mim. Fizeram você se apaixonar por uma negra e eu vejo você se arrastar por ela.

- Está enganada Alliana, isso não é uma vingança de Deuses nenhum. Talvez seja minha salvação.

Ela foi até a porta do quarto abriu e antes de sair deixou claro o que pensava.

- Só não acho justo você poder ser feliz quando bem entender, quando foi o causador da tristeza de outros por motivo tão mesquinho.

Ela saiu chorando e tive que acertar as contas com meu passado naquele momento. A Sophia estava chegando e mesmo sem a explicação da Alliana sabia que havia algo de errado. Não queria que a gente começasse algo que tivesse sempre um assunto nos assombrando.

Depois que ela deixou a Bebel dormindo em seu quarto veio até o meu.

E eu contei. Contei cada detalhe do que havia acontecido. Contei sobre minhas ideias hediondas sobre os relacionamentos inter-raciais. E agora seria tudo ou nada.

- Viu Alec? O castigo veio de avião. Foi obrigado a se casar com uma negra. Já pensou em que as pessoas vão dizer se continuarmos com isso?

- Nunca mais diga isso. Tenho vocês agora como minha salvação. E não me importa mais o que as pessoas vão dizer... Desde que estejamos juntos. Eu te amo Sophia! De todo meu coração eu te amo!

Tomei seu rosto entre as mãos e a beijei. Com há muito eu queria fazer. Queria sugar sua alma para que se fundisse a minha. Mas em dado momento ela se afastou.

- Precisa resolver a situação de sua irmã.

- O que quer que eu faça? O cara deve estar casado. Acha que guardaria para sempre esse sentimento? Talvez até a odeie por minha causa. Não sei... – Passei a mão sobre os cabelos e notei que ela me olhava. Sem esboçar nenhum tipo de reação. – O que foi Sophia. Não acredita em mim quando digo que me arrependo de ter sido um desgraçado e cretino.

- Claro que acredito. Mas não há como sermos felizes, com o olhar da Allana pesando sobre nós. Então... Faça alguma coisa. – Ela saiu do meu quarto me deixando com o coração na mão. O que eu faria agora? 


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