2- Reencontros

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No dia seguinte, já no hotel, Lia pediu que Luana a deixasse arrumar alguns quartos sob a supervisão dela. Luana concordou. E ficou admirada com a habilidade e capricho da nova funcionária. Lia ainda ficava perdida com o tamanho do hotel, a quantidade de quartos e afazeres, mas conseguia dar conta do recado.

Após uma semana, ela já sabia lidar com todo o serviço. E não via a hora de viajar para rever a menina da foto e a pessoa para quem ela costumava telefonar todas as noites.

Finalmente​ o sábado chegou. Lia foi bem cedo para a rodoviária. Ansiosa, pegou o celular e enviou uma mensagem avisando que estava a caminho. Poucas horas depois, desceu do ônibus com sua mochila nas costas e foi em direção a uma rua. É vista por uma menininha ao tentar abrir o portão de uma casa e de longe a criança grita:

"Mamãe, você chegou!
Que bom!
Tia Nina, a minha mãe chegou!"

Nina sai e ajuda Lia a abrir o portão que está com defeito.

"Está ruim de novo esse portão, é? Assim que receber vou pedir que alguém conserte." - reclamou Lia enquanto pegava Júlia no colo.

Nina respondeu que o portão precisa na verdade ser trocado por estar enferrujado. Lia concorda e entra na casa. Ela beija e abraça muito a filha. E chora dizendo que estava morrendo de saudades. Depois pergunta a Nina:

"E o pessoal lá, como está? Viu alguém esses dias?"

"Não vi ninguém, Lia. Só daquela vez que te falei que a sua tia perguntou onde você ficaria lá no Rio de Janeiro. Mas desconversei, conforme você pediu. A pousada pelo que eu soube vai de mal a pior. A sua prima a frente de tudo só está afundando o negócio. Quem aguenta a arrogância e o despreparo da Yoná? Sem você ali nada vai durar por muito tempo. Não tenho dúvidas!" - contava Nina terminando de lavar a louça.

"Imagino como tudo esteja. Acostumada a acordar praticamente à tarde, deve estar sendo difícil para a Yoná cuidar da pousada com a mãe. Mas perguntei por perguntar. Aquilo ali não é mais da minha conta. Nem eles são." - disse Lia.

"É sim, Lia! Seus pais construíram a pousada com muito esforço. Acompanhei boa parte do sufoco deles."

"É, Nina, mas eles não estão mais conosco. E não tinham documentos do imóvel... ou alguém sumiu com tudo, nem sei. E sinceramente​ nem quero saber. Se Deus quiser vou conseguir batalhar para me firmar nesse emprego e logo consigo levar vocês comigo."

"Entendo você, minha filha. E Deus a ajudará, tenho certeza. Mas me diga, como conseguiu essa vaga exatamente​?"

"Olha, a dona dessa casa que aluguei o quarto mais parece um anjo. Me viu e foi com a minha cara. Aí falou que conhecia uma moça num escritório que contratava para esse hotel. Fiz um currículo. No começo fiquei com medo de ligarem para a pousada e a minha tia me prejudicar. Só que a Sra. Maria alegou que eu era filha de uma amiga dela e eles nem investigaram. Graças a Deus!"

"Você é uma moça boa, Lia! Não tinha como ser diferente. Recebeu da vida a generosidade que costuma ter com os outros. E também, depois de tudo o que você passou..."

"Verdade, Nina!" - respondeu Lia brincando com a filha e uma boneca no chão da casa simples de Nina, que era sua amiga e a ajudou quando a jovem completou vinte e dois anos e finalmente​ conseguiu sair da casa da tia, a Sra. Norma. Seus pais, Luciano e Glória, morreram em um acidente de carro nunca esclarecido quando ela tinha apenas cinco anos. E ela foi criada por essa tia.

Lia não viu, mas a prima passava na hora em que ela descia do ônibus. E foi correndo contar para a mãe, a Sra. Norma:

"Vi a Lia chegando a cidade hoje mais cedo. Ela não me viu. Estava toda arrumadinha e sorridente. Deve ter conseguido um bom emprego no Rio. Ou está trabalhando na noite, aquela sonsa." - declarou Yoná.

Quando você chegou (em andamento)Onde histórias criam vida. Descubra agora