No hotel, na zona sul do Rio, Luana diz a Lia:
"Sexta-feira terá uma reunião no auditório com o Luiz Guilherme. Ele é o dono do hotel. Os pais deixaram tudo nas mãos dele e foram morar nos Estados Unidos. Ele está com uns trinta e três anos agora, tem praticamente idade para ser meu filho, mas ô rapaz bonito! E humano e educado. O povo daqui é metido por conta própria, porque ele é simples igualzinho aos pais! Dizem que está morando aqui após se separar da noiva que o deixou. Uma modelo famosa e filha do governador. E quase toda noite ele aparece com uma moça diferente."
Lia só ouviu. E perguntou se todos participariam da tal reunião:
"Sim! E se prepare para ver o homem que mais parece artista de cinema." - suspirou Luana enquanto separava lençóis.
"Ah, mas esse estilo tem muito por aqui. Eu mesma vi um quando fui arrumar um quarto. Com todo o respeito, não quero que pense que estou dando em cima de hóspedes, pelo amor de Deus, mas é que esse cara realmente chama muita atenção. E educado, precisava ver. Se apresentou para mim e tudo. É Luciano o nome dele. Falando nisso, preciso comentar com você: eu me assustei e quebrei uma taça. Esse rapaz mencionou que diria que foi ele e me pediu para deixar pra lá. Mas eu dependo desse emprego e quero te confessar a verdade." - concluiu Lia com receio do que a colega pensaria a seu respeito.
"Ah, alguém me avisou mesmo sobre uma taça quebrada. Era de cristal, como a maioria aqui. Mas menina, que engraçado ele assumir a culpa e ainda se apresentar. Esse pessoal aqui nem costuma olhar na nossa cara! E por que você foi arrumar o quarto com ele lá?" - indagou Luana.
"Ah, ele saiu e depois voltou para buscar um relógio esquecido no banheiro. Segundo ele."
"Hum, entendi. Relaxe, Lia, se foi como você está me contando, não há problema nenhum nisso. Te garanto."
Lia ficou aliviada. Despediu-se de Luana e voltou a trabalhar. Luana ficou pensativa com relação a gentileza do rapaz com Lia:
"Homem tão bonito e educado assim por aqui até tem, mas com essa descrição, só o Luiz Guilherme... se bem que ela disse que se chamava Luciano. Gente, será que um hóspede se interessou pela novata? Ela que fique esperta para não sobrar pra ela. Vou até dar esse toque nela depois. Bom, agora vou voltar para o meu serviço."
No clube, jogando tênis, Luciano contava para um amigo sobre Lia:
"Cara, conheci uma moça hoje... Sei lá. Simples, sabe? Mas tão bonita. Não sei explicar, era delicada, tinha um olhar misterioso..."
"Como assim simples? Você era noivo de uma das modelos mais desejadas desse país. E vem me falar em mulher simples? Em que sentido?" - questionou o amigo parando para beber um pouco de água.
"Na verdade ela é camareira lá do hotel..."
O amigo se engasgou com a água. E disparou:
"O quê? Camareira? Você reparou numa camareira? Bebeu, é? Não foi ontem que você passou a noite com a Letícia Bragança, filha daquele senador? E hoje você olha para uma camareira? Na boa, esse fora que a Linda Luiza te deu mexeu com a sua cabeça. Você está muito perdido."
"Que exagero! Só elogiei a garota. E você parece que não me conhece, e daí se ela é camareira? Ela é simples, pobre, mas gente igual a mim e a você. E não foi nada demais. Só a achei diferente. E você fala assim da Letícia porque nunca parou para conversar com ela. Eu já decorei uns cem nomes de marca de bolsas, sapatos e salões de beleza em dois únicos encontros. Brother, a mulher só fala nisso! E quanto a Linda, ela me deu o fora sim, mas você é testemunha do quanto eu também estava cansado daquela relação." - respondeu Luciano enquanto voltavam a jogar.
"Ok você ser milionário e ainda ter essa mania de ajudar os outros. Mas daí a se envolver com uma pobretona é desnecessário, né? E falo para o bem da moça, coitada! O que ela faria no nosso meio? Nem saberia se portar, tenho certeza!" - disse Álvaro, amigo de Luciano.
"Não diz bobagem, Álvaro! Tem um monte de gente no nosso meio sem educação. Só que o seu preconceito não te deixa ver que não somos superiores em nada por termos dinheiro."
"Fala sério que você está me passando sermão por causa de uma subalterna? Vamos mudar de assunto ou simplesmente voltar a jogar?"
Luciano não gostou muito, mas deixou para lá. E após terminarem de jogar, pararam para beber com outros amigos. Depois foram embora.
Chegando ao hotel, Luciano ficou parado por um tempo no hall do elevador, mas olhou para o relógio, viu que estava próximo ao horário de saída dos funcionários e foi em direção ao corredor por onde eles passam. As recepcionistas ficaram olhando umas para as outras sem entender.
Lia colocava uma mochila nas costas e encostava a porta. Até que olhou para frente quando começou a andar e viu Luciano parado. Ela continuou andando. Imaginou que ele estivesse esperando por outra pessoa, então se aproximando dele para sair ele falou:
"Oi, Lia! É... eu... sobre a taça, ficou tudo bem?"
"Moço, ficou sim! O Sr. quer me trazer problemas? Por favor, saia daqui. Se o Sr. Gustavo ou a Dona Monique me virem eu estou na rua." - sussurrou Lia andando em direção a saída. E Luciano a acompanhava.
"Não, desculpe! Não quero lhe trazer problemas não. Eu só queria saber se estava tudo bem."
"Moço, eu vou indo. E não venha mais aqui no corredor, pelo amor de Deus!" - pediu Lia ainda andando.
"Tá, não venho. Pode deixar. E tchau... e desculpe de novo." - falava Luciano praticamente sozinho, pois Lia começou a andar rápido em direção a saída e sequer olhou para trás. Entrou no ônibus aflita. Temeu novamente ter sido vista. Por outro lado não entendia o porquê daquele homem ter cismado justo com ela:
"Meu Deus, esse homem só pode estar debochando de mim. Para ficar num hotel como aquele ele precisa no mínimo ser rico. Ainda mais por tantos dias. E eu mesma vi que ele tem mulher. Ô meu pai, é problema dobrado! Esse cara vai me complicar, estou até vendo!"
Em casa, apesar de temer ser prejudicada por causa do hóspede, Lia não conseguia parar de pensar nele. E durante o banho chorou e declarou:
"Jesus, já sofri tanto nessa vida! Perdi meus pais, penei nas mãos da minha tia, fui abandonada pelo pai da minha filha... e quando as coisas estão começando a dar certo, surge esse homem estilo príncipe encantado para embolar tudo? Faça com que ele me deixe em paz. E que eu consiga tirar essa bobagem da minha cabeça, por favor!"
E no quarto do hotel Luciano também não parava de lembrar da camareira. Até que uma moça convidada por ele chegou e eles passaram a noite juntos.
Gustavo, o gerente do hotel, inventou uma desculpa para a esposa e foi ao encontro de Monique. Ela cobrou a separação dele da esposa, como sempre. Ele desconversou, ficaram algumas horas juntos e foram para casa.
De Monique a mulher de Gustavo não desconfiava, pois eram amigas. Mas estranhou ao mexer no celular do marido e ver uma chamada para ela justo na hora em que saiu. E a partir dali começou a ficar atenta.
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Quando você chegou (em andamento)
RomanceLia perdeu os pais num acidente de carro quando era pequena; foi abandonada grávida pelo namorado na adolescência e sofreu maus-tratos nas mãos da tia que a criou. Ela não confiava mais nas pessoas. E o seu único desejo era recomeçar a vida no Rio d...