Lobo Mau

Lobo Mau (pt. 3)

Ela aproximou-se de mim, com as feições antes cobertas de medo, agora repletas com o sorriso cheio de covinhas.

-Ainda bem que chegaste em segurança...-forçei.

Ela pousou a cesta numa mesa de madeira e começou a tirar as coisas de lá. Consegui sentir o cheiro de cada uma delas... Abençoada seja a comida. Eu não conseguia evitar querer comer tudo aquilo... Agora era uma questão de orgulho! E não ajudou em nada quando ela comentou alegremente:

-Cruzei-me com um lobo idiota que queria que lhe desse a tua comida...

Então Elizabeth veio sentar-se ao lado da cama onde eu estava e sorriu. Não tardou que o seu sorriso se desfizesse...

-Avó, porque é que os teus olhos estão tão grandes?

Tive de pensar depressa:

-É para te ver melhor.

-E porque é que as tuas orelhas estão tão grandes?- insistiu.

Estava a começar a irritar-me, pelo que tive de cuspir a próxima resposta:

-Para te ouvir melhor, meu amor...

O meu cérebro estava cheio. Do cheiro da comida em cima da mesa, da voz doce da rapariga a fazer todas aquelas perguntas... E a última que ela fez puxou o gatilho:

- Porque é que a tua boca está tão grande?

-É para te comer melhor...- rosnei.

Então devorei-a. Senti os seus ossos serem esmagados contra os meus dentes e senti-me um monstro porque gostei da sensação... Cambaleei em direção à mesa e comi tudo o que estava lá, bebendo o vinho no fim. Quando acabei saí da casa a correr, sem saber o que fazer.