"Todo mundo tem a sua forma de chorar: uns com lágrimas,
outros com sorrisos"
— Lívia Oliveira.Ele estava agitado demais. Queria sair dali de qualquer jeito. Tentou e tentou, mas desistiu. Ficamos alguns minutos em silêncio, largados no chão, olhando para o rosto do outro, mesmo sabendo que não estávamos enxergando nada.
Eu estava quase dormindo, então ouvi uma fungada vindo de Connor. Connor estaria chorando? Então ele se levantou e esmurrou a porta do elevador.
— Me tira daqui seus filhos de uma puta!! — gritava, batia e chutava.
Eu me levantei também e o empurrei para trás, para longe da porta.
— Ei, relaxa... Eles vão vir. Não precisa fazer tudo isso. — tento acalmá-lo.
— Você acha que fiz isso por estar preso em uma merda de elevador, Junior? — seu choro estava quase infantil, ele estava despencando. — Não estou! Porque eu eu tento ser uma pessoa melhor e sempre uma merda acontece comigo! Você não entende, não é? Pensei que você entendia!
— Do que está falando? — perguntei.
— De tudo! — se encostou no espelho enorme que tinha no fundo do elevador. — A vida é injusta, Junior. — falou, mais calmo.
— Jonas. — corrigi.
— O quê?
— Meu nome é Jonas. Junior é o meu maldito último nome.
Ele soltou uma risada seca e percebi que se escorou pela parede e desceu até sentar-se no chão.
— Por um segundo, pensei que você me entendia.
— Talvez eu te entenda, Merlin. — sentei-me ao lado dele.
— Seu pai é um filho da puta bêbado, seu irmão mais novo está com câncer e você e sua mãe parecem ser os únicos à se importar? Ah, e por acaso sua mãe se fode toda nessa empresa para tentar te dar uma educação melhor e ajudar o seu irmão mais novo?
— Não. — sussurrei.
— Foi o que pensei, Junior.
Fiquei em silêncio.
Então Connor caiu na risada seca, outra vez.
— Pensei que diria algo como "sinto muito"... — ele fez algum gesto com a mão.
— Eu não costumo usar frases do tipo prontas.
— Em uma coisa concordamos. — me cutucou com o cotovelo.
— E as marcas no seu braço? Acho que somos parecidos.
Ele fica um bom tempo em silêncio.
— Eles não entendem, Junior. Nenhum deles. Eles acham que... É idiotice, entende?
— Eu sei disso. — lembrei de minha mãe.
— Meu pai me bateu com o taco de golfe dele na semana passada. Eu estava deprimido, fiquei até uma da tarde na cama. Ele me tirou de lá aos gritos, dizendo que eu era um merda inútil e que só sabia ficar rastejando pelos cantos. Falou que a depressão era invenção dos psiquiatras para tentar arrancar dinheiro das pessoas. — fez uma pausa para rir amarguradamente. — Eu odeio a minha vida. — suspirou. — E você? Qual a sua decepção?
Lembrei das frases do meu quarto, daquelas pessoas fingindo se importar comigo, no meu aniversário. Lembrei de tudo que aconteceu na minha vida.
Lembrei dos meus gritos histéricos, naquele domingo. 1 de maio de 2011, 20hs. Vidros quebrando, porcelanas também. Eu debaixo da mesa, encolhido, joelhos no peito, assustado, dedos no ouvido - "não, faça-os parar, faça-os parar!" -, soltando um grito agudo e infinito. Meus pais em lados diferentes da mesa; xingamentos, ameaças, quebra se promessas e raiva.
Andei pela cozinha destruída com os meus tênis encardidos, observei cada expressão que faziam, não descobri o amor. Eu pedia que parassem, mas eu estava invisível. Então peguei a minha bicicleta e fugi. Presenciei uma briga, vi dois homens fumando maconha e quase assisti um estupro. Voltei para casa, para o estrago. 01/05/2011, gravei bem aquela data. Fora naquele dia que eu parei de acreditar em dragões, que parei de acreditar no amor, foi o dia em que conheci o mundo e as pessoas. Naquele dia, eu deixei de ser tão ingênuo. Meus pais se separaram, e me separaram em dois também. A partir daquele dia, comecei à ver o lado ruim de tudo. Até de mim, até da vida. Foi como se o mundo tivesse desmoronado na minha cabeça e ninguém me ajudava à me levantar. E desde aquele dia, estive sozinho.
— Tenho tantas que nem lembro de todas. — foi o que respondi para Connor.
— Então eu me pareço com você. Minha mente é um lugar sombrio, bagunçado, ninguém gostaria de entrar aqui.
Eu não respondi aquilo, e nem tive vontade. Connor pegou a minha mão e tateou o meu braço. Pressionou o dedo em um band aid e me perguntou se ali estava doendo.
— Não dói aí, Connor. Dói na alma, por dentro. E dói demais. Dóis mais do que um simples corte. E dói tanto que eu desejo morrer, para ver se para de doer.
Connor apoiou sua cabeça em meu ombro e respirou fundo.
— Pensei que nunca encontraria alguém como você.
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Suicidal Love (Romance Gay) [PAUSADO]
RomanceEu estive andando pelas ruas. Estive com o olhar distante, vazio, sem brilho algum. Estive sem saber se estava vivendo, ou morrendo, sem saber se estava sendo dramático ou apenas sofrendo, sem saber se aquela dor seria para sempre ou passageira. Est...