Um, três, cinco, sete...
Eu conto a sequência de ímpares, enquanto tento me acalmar.
Yugyeom havia me dito para não olhar para trás, porém, eu olhei.
E estava tão arrependida por ter feito isso.
— Oi — Mark diz, acenando levemente com a mão.
Se fazia pouco mais de um ano desde que ele e a moça da floricultura começaram a namorar oficialmente. Um ano desde que eu os observava tão felizes e iluminados que agora... céus.
Vê-lo dessa forma tão devastada e sombria me deixava aflita e temerosa.
É, ele definitivamente está arrasado.
E como não?
— Eu sinto muito — Yugyeom diz.
Não sei dizer se é para mim ou Mark. Talvez, fosse para ambos.
O jovem acena levemente com a cabeça e me encara. Seus olhos castanhos facilmente se comparavam com uma piscina prestes a transbordar.
Ele queria tanto chorar... então, por que diabos estava aqui?
— Seu pai está? — ele leva a atenção novamente para o meu colega. — Preciso falar com ele.
Yugyeom me encara confuso por alguns segundos e coça a cabeça, antes de voltar sua atenção para Mark e respondê-lo.
— Eu não sabia que você o conhecia — diz. — Ele saiu.
— Você sabe que horas ele volta?
— Muito difícil. Ele está em uma reunião, então é meio impossível de se dizer. Do que se trata?
Soa como um assunto íntimo, e eu me sinto uma intrusa em meio a eles dois, mas simplesmente não consigo me mover. Assim como era incapaz de fingir que que a pessoa por quem sempre fui apaixonada estava ali, tão perto assim de mim, mesmo que por motivos aparentemente perigosos.
Digo, quem de fato possuía coragem suficiente ao ponto de procurar o pai de Yugyeom, se não for algo realmente grave?
— Entendo — Mark murmura e encara o chão.
Parecia tão instável e eu queria tanto ajudá-lo.
Queria lhe dizer que essa dor insuportável que ele estava sentindo em seu peito um dia iria passar. Não por completo, nunca por completo, mas ao menos diminuiria. E ele seria capaz de viver novamente, com a certeza de que tudo que viveu com aquela garota foi intenso e real.
— Bom... é só isso? Você não vai querer nada? — Yugyeom pergunta.
Mark faz que não com a cabeça após soltar um leve suspiro.
O que diabos era tão importante assim? Me sentia curiosa.
— Sim, quero. Falar com ele — insiste.
Ele entrega um pequeno cartão preto para Yugyeom, que aceita. Era o cartão da floricultura, só fui capaz de perceber isso porque vi uma margarida na parte lateral do papel.
— Quando ele chegar, avise-o que eu estive aqui, ok? — continua Mark.
— Você está bem?
— Isso não é importante.
— Se for algo urgente, eu posso...
— Não, você não pode fazer nada, Yugyeom. — Mark o interrompe, com um minúsculo sorriso nos lábios. Um sorriso de pura frustração e amargura. — Apenas avise-o, tudo bem? Isso já vai me ajudar muito.
— Claro, eu o aviso.
— E não esqueça.
— Não acho que isso seja possível, brô.
— Brô? — Mark ergue uma sobrancelha.
Embora a situação não fosse das melhores, não pude evitar um pequeno sorriso ao observar sua reação de surpresa por Yugyeom ter falado informalmente com ele.
— Quero dizer, hyung — corrige Yugyeom, no mesmo segundo.
— Ótimo — Mark diz, surpreendendo-me por completo.
Agora, ele me encarava, ainda continha um sorriso nos lábios.
Sorriso que desfiz assim que notei sua atenção em mim.
— Não esqueça de avisá-lo. Ah, e caso ele não me ligue, faça isso por ele. Avise-me, que eu virei aqui — ele diz, voltando sua atenção para Yugyeom, acenando com a cabeça antes de virar-se e caminhar em direção à saída novamente.
Afastando-se lentamente... cada vez mais distante e solitário...
— Pega — Yugyeom me entrega o papel que Mark lhe havia entregue.
— Para que eu quero isso? — pergunto, observando o cartão mais de perto.
— Para que? Realmente está achando que sou eu quem vai ligar? Não mesmo.
— E por que não?
— Cacete, você por acaso viu o jeito que ele me olhou quando o chamei de brô?
— Você falou informalmente, como queria que ele reagisse a isso?
— Eu só estava sendo amigável, Anna. Apenas amigável.
— Tá, então vá ser amigável com as pessoas da mesma idade que você, Yugyeom. E apenas essas pessoas — falo, imitando sua voz.
Yugyeom sorriu, e eu revirei os olhos. Nós, infelizmente, éramos da mesma idade. Para ser mais exata, ele até era um mês mais velho que eu. Um maldito mês.
— De qualquer forma, como sou mais velho... eu decidi que é você a pessoa que vai ligar para ele.
— Mas...
— Um mês mais velho — ele sorri.
— Céus, eu odeio você — resmungo, virando-me, finalmente a caminho de entregar o chá do senhor que já estava esperando há tempos.
— O sentimento é mútuo! — ouço ele dizer num sussurro, provocando-me, e ignoro.
Precisava de concentrar no trabalho e só.
Apenas isso. Somente.
Mas por que diabo parecia tão difícil afastá-lo dos meus pensamento, então?