Kamehameha

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Cara, eu sou escritor! Sim, sem essa de falsa modéstia. Não adianta eu querer ocultar o evidente! As coisas não funcionam assim. Talvez um escritor com pouquíssimos leitores. Não! Com certeza um escritor sem leitores. Mas também não importa! Eu não preciso de elogios ou de críticas para me sentir bem. Não é muito aconselhável viver ouvindo os outros, geralmente eles possuem opiniões opostas das nossas. E muitas das vezes essas opiniões não condizem com as nossas verdades! Eu mesmo posso me autojulgar bom ou ruim! Por exemplo; eu tenho um amigo que ele é muito fã do anime “Dragon Ball Z” e sempre o ouvi dizer que um dia ele conseguiria realizar o famoso “kamehameha”. (Para quem não conhece esse é um dos golpes especiais dos personagens do anime, que só se é possível acontecer se você for um “Saiyajin”.) *Saiyajins são basicamente extraterrestres, seres de outra dimensão que habitam a terra, no anime. * Eu sempre tirei sarro da cara dele quando ele vinha com essas babaquices de Dragon Bool. Mas tudo mudou! Semana passada ele me ligou alegando precisar com urgência da minha presença, que era caso de vida ou morte. Me espantei com o modo pelo qual ele me falou ao telefone. Então sem perder muito tempo fui ao encontro dele. Era de tarde, por volta das 14 horas. O sol era impiedoso, implacável; como de costume, ou até mais se ainda fosse possível! Ele estava no quintal da casa dele, vestindo trapos, descalço pisando sobre pedras britas. Suado e esbaforido. Sua testa refletia sobre os castigos do sol da tarde daquela quarta-feira. De cabeça baixa e joelhos inclinados ele me olhou, seus olhos estavam furiosos ou melhor dizendo; triunfantes! Não mencionamos nenhuma palavra até aquele momento. Sua camiseta estava completamente destruída, repleta de rasgões e fendas por toda parte. Seus braços coreografavam movimentos lentos, enquanto os seus pés se firmavam ainda mais no chão. Esmagando dezenas de pedras cortantes e pontiagudas. Eu pude sentir cada centímetro agressivo daquelas pedras perfurando a parte de baixo dos seus pés. Eu estava incrédulo, não conseguia assimilar as coisas. O sol pousava por sobre o muro, proporcionando-me sombra. Me fiz um pouco mais adiante. Por sobre nós circulava um ar tranquilo e sereno. Minhas mãos estavam segurando algumas folhas; contos, crônicas e alguns poemas. Eu havia levado, pois ele apreciava bastante os meus escritos. O seu corpo era envolvido por uma força cósmica e contagiante. Mesmo estando a mais ou menos dez metros de mim, ainda assim eu conseguia sentir o entusiasmo que ele transpassava. Com movimentos circulares, suas mãos emitiam um tipo de energia desconhecida. Ora visível, ora oculta. E cada vez mais essa energia foi se expandindo e se tornando ainda mais nítida. Eram partículas de energias dentro de outras partículas de energia que eram compostas por outras partículas de energia. Tudo começou transparente, visivelmente sem cor. Até que foi ganhando forma e tonalidade, até alcançar uma forma esférica e azulada. Os ventos que antes eram calmos, agora eram contrários e agressivos. Soprando em minha contra mão. Suas veias entraram em um processo de dilatação, foram ficando cada vez mais intensas e rudes. O vento soprou nas árvores, derrubando as folhas, balançando os galhos, espantando os pássaros. O cenário era quimérico, surreal, algo totalmente fora da realidade, ou pelo menos da minha realidade. Seus braços se voltaram para trás e ele começou a soletrar a palavra. "Ka" meus olhos se esbugalharam. "Me" o vento parecia ainda mais forte! "Ha" eu não queria acreditar que aquilo de fato estava acontecendo. "Me" nesse momento eu torcia que ele mirasse em alguma coisa distante de mim. "Haaaaaaa" a bola azulada ganhou movimento e saiu em disparada, acertando alguns móveis velhos. Sim, finalmente ele executou o golpe, e bem diante dos meus olhos. Depois disso ele me fez pensar o seguinte; se ele, um simples humano conseguiu realizar algo que vai além das nossas capacidades existências. Por que eu, não posso acreditar com todas as minhas forças que sim, "Eu sou um escritor" mesmo sem leitores, mesmo enfrentando milhares de dificuldades e empecilhos, ou até mesmo sem nenhum romance ainda pronto. Sim, cara! Eu sou escritor, eu sinto que sou e ninguém pode mudar isso. E outra, você também pode ser o que sente, não seja tolo o bastante de se abalar com as críticas ou até mesmo com as piadinhas de mal gosto. As pessoas são perversas e não se importam com os nossos sonhos! Siga o exemplo do meu amigo, que mesmo sendo motivo de deboche e alvo de piadas e insultos sem graças, ele ainda assim continuou incessantemente e no final conseguiu alcançar o seu tão sonhado objetivo. Por ele, por mim e antes de mais nada; POR VOCÊ! Consiga também!

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