Por que eu ainda te amo?

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Serviu-se pelo o que ainda restava na garrafa de vinho, deitou-se se desfazendo dos sapatos e permanecendo de meias. A luz estava apagada, mas a porta estava aberta, trazendo assim um pedaço da iluminação do corredor.

Ela chegou depois, tirou as sapatilhas e se debruçou na cama. Ainda de vestido, porém sem sutiã. Enquanto ele bebericava sem pressas goles daquele vinho, ela se mexia na cama fazendo barulho de unhas arranhando-as sobre a pele, a sua panturrilha sendo mais específico. Que festa! Comentou-o olhando para o teto, talvez recordando os melhores momentos. Ela riu em sinal de concordância. Havia batom na borda da camisa de botão que ele estava usando. Foram quantas hoje, Jorge? O tom era irônico. Ele gargalhou! Uma gargalhada que ostentava sua fama de sedutor. Já sem camisa, ele agora ajeita o travesseiro e vira ficando de frente para ela. – Não lembro... eu não costumo contar. A voz dele soou arrogantemente brincalhona. Um silêncio se instalou. Ela vira para o lado e liga o ventilador. O barulho das hélices era só o que se ouvia.

Depois de um bom tempo de silêncio total dos dois, quando ele já estava quase dormindo, ela se pronuncia. – Por que, Jorge, por quê? A voz estava baixa, parecia que havia chorado. Depois de algum tempo, ele responde fazendo outra pergunta. – Por que o que, Rosângela? Virou-se para outro lado, ficando de frente às costas dela. A barriga dela subia e descia em compassos de choro. Ela limpou a garganta, e dessa vez não teve como esconder, realmente estava chorando, virou para ele e o vento soprou na mecha do seu cabelo, perguntando: - Me diz por que que mesmo depois de você ter beijado todas aquelas mulheres na festa de hoje, e em tantas outras festas, eu ainda continuo aqui? Por que será que eu insisto tanto em te amar, sabendo eu, olha mesmo que ingênua, que pouco gostas de mim? Limpou o nariz com uma das mãos. Por que eu não sou digna do teu apreço? Será que não mereço os teus carinhos? As mulheres que você diz trazer para cama, que fazem você se vangloriar tanto, estão pouco se importando com você. Elas sugam esse teu néctar de juventude, essa beleza sarada que carregas na barriga, esse olhar presunçoso que tens quando olhas para alguma delas... é só isso que você tem a oferecer. Como você pode ser tão vazio assim, tão impiedoso, tão canalha? Rosângela já estava completamente tomada por lágrimas, o choro banhava seu rosto pálido e gelado. “Roooonk.... rooonk.... rooonk!” esse era o barulho do ronco do Jorge que dormia sobre o braço direito.

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