Legal comigo?

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Tive que aturar Jace no elevador, seu olhar indagador me deixava nervosa e inquieta. Fiquei quieta até passarmos pelo Hall do hotel, agüentei os olhares das garotas para nós três. Com certeza me olhavam com inveja, querendo estar no meio desses homens poderosos. Eu trocaria de lugar com elas sem pestanejar.

Quando chegamos do lado de fora o vento de Nova Iorque roçou no meu nariz.

-Onde está o carro? – Perguntei ao Dylan. Jace riu. – Por que ele riu? – Voltei-me a Dylan novamente.

Dylan disse com sua voz aveludada: - Jace não curte muito os carros em que eu ando.

Entendi quando Jace subiu em uma moto parecida com as de corrida, a única diferença era que a dele era completamente preta enquanto as de corrida geralmente são mais coloridas e cheias de adesivos de patrocínio.

A moto era enorme e assustadora. Balancei a cabeça freneticamente.

-Eu não vou subir nisso aí!

-Você não tem escolha, ou você vem por bem ou por mal! – Disse Jace rangendo os dentes. Baixei o olhar.

-Eu vou buscar você quando eu descobrir o motivo de tudo isso estar acontecendo, por enquanto você estará mais segura com ele. – Dylan suspirou, ele provavelmente não queria assumir que precisava do irmão.

Será possível que Dylan não entendia que ele não estava me consolando e sim me deixando mais nervosa ainda! Jace começou a resmungar e colocou o capacete, logo me deu o outro.

-Ande, suba. Não tenho tempo para agüentar birra! – Ele me trata como se eu fosse uma criança. Peguei o capacete e com dificuldade subi na moto. Antes mesmo de conseguir colocar o capacete ele deu uma pequena acelerada o que quase me fez cair. Gritei e ouvi a risada dele.

-Qual o seu problema? – Perguntei assustada.

-Eu não tenho nenhum, criança. – Porra que cara chato. Coloquei o capacete e segurei hesitantemente em sua cintura. Eu até podia ver seu rosto convencido.

-Até mais! Cuide dela. – Falou Dylan para Jace.

-Pode deixar irmãozinho. – Disse Jace e acelerou fazendo com que eu segurasse mais forte nele por medo de cair.

Agora eu podia entender o porquê de Dylan não falar muito do irmão dele. Quando chegamos à curva da Avenue ele acelerou e a moto curvou. Engoli um suspiro e agarrei Jace com medo de cair, só mais um pouco e meu joelho encostaria ao chão e eu ficaria ralada no mínimo. Minha raiva aumentou, ele só podia estar ficando louco, o que acha que é? Um daqueles corredores de categoria Moto GP? Ele até podia ser, na realidade eu não acho que isso seria impossível para os Walker.

Paramos em frente a uma Starbucks. Ele parou a moto entre a rua e a calçada, desci da mesma quase imediatamente joguei o capacete em seus braços depois do mesmo tirar o dele.

-Você quase me matou!

-Não seja dramática, foi só uma corridinha. – Ele botou os capacetes em cima da moto e entrou na Starbucks. – Dois cafés. – Ele pediu para a moça.

Sentei-me em uma das mesas e um tempo depois ele veio com dois cafés na mão, percebi o número escrito em seu copo.

-Pelo visto você conseguiu mais do que só os benefícios do café. – Falei pegando meu copo. Ele sentou em frente a mim, seus olhos azuis me fitaram; uma piada brilhava em seu olhar.

-Sabe, você confia demais no Dylan. – Ele ergueu as sobrancelhas. – É muita burrice sua garota.

-Bom, ele é a segunda pessoa em quem eu posso confiar ultimamente.

Ele riu.

-Você está mesmo perdida. Tadinha! – Zombou.

-Tem razão... Sou uma pobre coitada, eu não sei quem meu pai é, minha mãe... – Não consegui terminar a frase sem deixar cair uma lágrima. – Minha mãe está morta e só tenho a Emma, que está à milhas daqui.

Ele ficou quieto, calado. Podia estar com pena de mim? Não. Duvido muito que esse cara tenha sentimentos doces ou misericordiosos.

-Você foi traída Lucy, acredite, eu sei muito bem como é. Mas pôr sua fé no meu irmão não será muita sensatez da sua parte.

Eu ri cética.

-E em quem eu devo depositar minha confiança? Em você?

-Não, muito pelo contrário. – Ele esticou mais a cabeça, pensativo. –Nesse mundo que você está entrando agora, confiar em si mesmo e só em si mesmo é a única opção favorável.

-Eu não queria estar aqui. – Falei cabisbaixa.

-Mas você está, e eu e você teremos que aceitar o que não queremos.

-Se não me quer com você, por que me levará para sua casa?

-Tenho meus princípios. – Ele tomou mais um gole de seu café, pelo visto eu nunca ficaria a par do que está acontecendo e do futuro que me aguarda. – Vamos, minha casa não está tão longe.

                                                                         ...

Eu pensava que a residência de Jace era em uma cidade, com bares ao lado, festas e bastante barulho. Mas eu estava enganada,  sua casa encontrava-se no meio da floresta. Longe da cidade rica, longe de qualquer incomodo. O que me lembrou bastante minha antiga casa, mas ela já estava tão distante. Eu realmente nunca me senti em casa, o único momento em que eu me sentia parte de uma família era quando Emma me visitava ou quando íamos passar o natal juntas em algum lugar. Acho que por isso somos melhores amigas, sempre fomos deixadas de lado pela nossa família.

O terreno em volta de sua casa parecia não ter fim. Quando finalmente passamos dos galhos das arvores a zona era livre e limpa, sem arvores. Andamos até a entrada da enorme mansão, ela parecia ser antiga, mas tinha um ar moderno de qualquer maneira. Quando chegamos a entrada a imagem da minha casa passou pela minha cabeça, da minha mãe me carregando no colo quando eu teimosamente fui andar de bicicleta dentro do mato e acabei me arranhando nos galhos soltos.

Lembrei da cara dela de desaprovação. Fiquei sem ar, encostei-me na coluna da varanda e os soluços vieram, era como se eu os tivesse segurado por muito tempo. Doía tanto, agora eu entendia as pessoas dos filmes que eu e Emma costumávamos julgar.

Senti mãos nos meus ombros, o que achei estranho, ergui meu olhar e lá estava o mar intenso me retribuindo o olhar.

-Vá para o quarto, chore o quanto quiser, mas eu não quero ver você chorando mais a partir de hoje. Chorar não vai trazer sua mãe de volta. Terceira porta à esquerda. – Ele juntou os lábios e acariciou meu cabelo, não parecia ser uma coisa que ele fazia direto. – Agora vá!

Ele disse e eu imediatamente segui seu comando. Ele tinha sido legal comigo? Subi as escadas de madeira e cheguei ao corredor, entrei no quarto e o mesmo já tinhas as sacolas de roupa e minha bolsa. Joguei-me na cama e peguei meu celular.

-Eu sei que você tá chegando, mas fica conversando comigo?

-Claro amor!

Powerless - ImpotenteOnde histórias criam vida. Descubra agora