P.O.V Louis
Em meio às sombras, na ponte arqueada que se estendia sobre a New College Lane e interligava dois módulos da Hertford College, o vampiro se pôs de costas na pedra desgastada de um dos prédios mais novos da faculdade e apoiou os pés na amurada da ponte.
O bruxo irrompeu com um passo surpreendentemente seguro pela calçada de pedras em frente a Bodleiana. Ele passou apressado por baixo do lugar em que Louis estava. O nervosismo deixava Harry bem mais jovem do que ele realmente era e acentuava-lhe a vulnerabilidade.
Então, esse é o formidável historiador, pensou o vampiro com malícia, analisando a silhueta do bruxo. Mesmo depois de ter observado uma foto de Styles, Louis achou que seria mais velho pelo seu extenso currículo profissional.
Apesar da grande e aparente agitação, Harry caminhava de coluna ereta e com os ombros retos. Talvez não fosse tão fácil intimidá-lo como Louis esperava. O comportamento dele na biblioteca demonstrara isso. Harry o encarara sem nenhum vestígio do medo que Louis estava habituado a ver naqueles que não eram vampiros – e em muitos vampiros também.
Quando Styles dobrou a esquina, Louis esgueirou-se ao longo dos telhados até alcançar o muro da New College. O vampiro deslizou silenciosamente até a beira do telhado. Ele conhecia a planta da faculdade e localizara o apartamento do jovem. Quando Harry começou a subir a escada, Louis já estava no outro lado do apartamento.
Harry percorreu o apartamento, acendendo as luzes dos cômodos, enquanto os olhos de Louis o seguiam. Ele abriu a janela da cozinha, deixando-a entreaberta, e sumiu de vista.
Isso me poupará de quebrar uma janela trancada, pensou o vampiro.
Louis se projetou no espaço aberto e começou a escalar a parede até o apartamento, agarrado a um velho cano de cobre e aos galhos resistentes da videira enquanto tateava com as mãos e os pés em busca de brechas seguras na velha parede de tijolos. Já no seu novo posto de observação, o vampiro inalou o perfume do bruxo e ouviu um farfalhar de páginas folheadas.
Ele esticou o pescoço para espiar pela janela.
Styles estava lendo, a serenidade no rosto o fazia parecer diferente. Era como se a pele se encaixasse perfeitamente nos ossos. Ele inclinou levemente a cabeça e se recostou nas almofadas com um tênue suspiro de exaustão. Logo a regularidade da respiração deixou entrever que ele estava dormindo.
O vampiro escalou mais um pouco a parede e entrou pela janela da cozinha do bruxo. Fazia tempo que não entrava pela janela de alguém. Ocasiões assim eram raras, e geralmente associadas a momentos em que ele estava apaixonado. Mas dessa vez era por um motivo diferente. Mesmo assim, se fosse flagrado ali, ele teria que encontrar uma boa desculpa.
Louis tinha que saber se o Ashmole 782 ainda estava com Styles. Ele se viu impedido de procurar na escrivaninha dele na biblioteca, mas uma rápida olhadela o fez perceber que o manuscrito não estava entre os outros que Harry consultara naquele dia. No entanto, um bruxo – ainda mais um Styles – nunca deixaria o livro escapulir de suas mãos. Louis então percorreu, pé ante pé, os cômodos do pequeno apartamento, sem fazer barulho. O manuscrito não estava no banheiro nem no quarto do bruxo. Ele se esgueirou silenciosamente pelo sofá onde Harry dormia.
As pálpebras do bruxo se moviam como se vendo um filme que só ele via, uma das mãos estava fechada e as pernas se mexiam uma vez ou outra. No entanto, indiferente ao que o resto do corpo podia expressar, o rosto estava impassível, sereno.
Alguma coisa estava errada. Louis sentira isso tão logo o viu pela primeira vez na biblioteca. Ele cruzou os braços e começou a estudá-lo, mas não conseguiu saber o que era. Aquele Homem não exalava os odores habituais de um bruxo – meimendro negro, enxofre e sálvia. Ele está escondendo alguma coisa, pensou o vampiro, alguma coisa além de um manuscrito perdido.
Louis se virou, procurando pela escrivaninha de Harry. Localizou-a, abarrotada de livros e papéis. Era bem provável que ele tivesse guardado o volume surrupiado ali. Louis deu um passo em direção à escrivaninha e paralisou quando sentiu um cheiro de eletricidade.
O corpo de Harry Styles vertia uma luz – saía pelas extremidades e pelos poros. Era uma luz de um azul tão claro que beirava o branco, e primeiro formou um véu que o cobriu por alguns segundos. Harry brilhou por um momento. Louis balançou a cabeça, sem acreditar no que via.
Aquilo era impossível. Fazia séculos que ele não testemunhava aquele tipo de luminosidade emanando de um bruxo.
Mas outros assuntos mais urgentes estavam em jogo, e Louis retomou a busca ao manuscrito, revistando apressadamente os objetos que se encontravam na mesa. Frustrado, ele passou a mão no cabelo. O perfume do bruxo impregnava o ar, distraindo-lhe a atenção. Ele voltou os olhos para o sofá. Harry se remexeu novamente e se encolheu até ficar com os joelhos quase colados ao peito. E mais uma vez a luminosidade pulsou na superfície de seu corpo, brilhando por um instante e depois se recolhendo.
Louis franziu a testa, intrigado, pela discrepância entre o que ouvira na noite anterior e o que testemunhava com os próprios olhos. Duas bruxas tinham fofocado sobre o Ashmole 782 e sobre um bruxo que estava com o manuscrito. Uma delas insinuara que o historiador americano negligenciava o poder mágico que possuía. Louis tinha visto esse poder em ação na Bodleiana e agora via o mesmo poder fluindo pelo corpo de Harry com grande intensidade. Suspeitava então que ele recorria à magia no trabalho intelectual. Harry escrevera sobre alguns homens que tinham sido amigos de Louis – Cornelius Drebbel, Andreas Libavius, Isaac Newton. E capturara as peculiaridades e obsessões desses homens com perfeição. Como um Homem moderno poderia entender aqueles homens que tinham vivido no passado distante sem o auxílio da magia? Louis se perguntou por um momento se Styles seria capaz de entendê-lo com a mesma acuidade.
Os relógios badalaram três horas, deixando-o assustado, com a garganta seca. Ele se deu conta de que tinha ficado em pé e imóvel naquele lugar por horas a fio enquanto o bruxo sonhava e vertia seu poder em ondas. Por uma fração de segundo, Louis cogitou em matar a fome com o sangue dele. O sabor do sangue o faria localizar o volume perdido e revelaria os segredos guardados pelo bruxo. Mas o vampiro se conteve. O desejo de encontrar o Ashmole 782 é que o tinha feito perder tempo com o enigmático Harry Styles.
Se o manuscrito não estava no apartamento do bruxo, talvez ainda estivesse na biblioteca.
Louis foi até a cozinha, saiu pela janela e desapareceu na noite.
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Vai ser atualização dupla porque eu demorei horrores kkkkkkk
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A Descoberta Das Bruxas -Larry Stylinson
FanficHarry é um Bruxo muito poderoso fugindo de suas raízes e se privando dos poderes por motivos pessoais fortes. A morte de seus pais. No instante em que Louis Tomlinson um vampiro lindo e comunicativo entra em sua vida, tudo começa a mudar. Louis est...