Capítulo 6

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O dia seguinte amanheceu nublado, bem mais típico de um início de outono. Meu único desejo era me deixar bem quentinho no casulo de lã e permanecer no meu apartamento.

Olhei para o tempo fechado, me convencendo a não retornar ao rio. Em vez disso, saí para uma corrida, acenando para o porteiro noturno que me olhou surpreendido da sua guarita, fazendo um sinal positivo com o polegar erguido.

A cada passada na calçada, a minha tensão se dissipava. Ofegante, atingi o caminho de cascalhos do parque da universidade já me sentindo relaxado e pronto para uma longa jornada na biblioteca, fossem quais fossem as criaturas que aparecessem por lá.

Quando voltei, o porteiro me chamou:

– Dr. Styles?

– Sim?

– Me desculpe por ter impedido a entrada da sua visita ontem à noite, mas é a política da faculdade. Da próxima vez que o senhor tiver convidados, avise para que eu os deixe entrar, está bem?

A sensação de leveza trazida pelo exercício desvaneceu.

– Era homem ou mulher? – perguntei na mesma hora.

– Mulher.

Meus ombros despencaram.

– Parecia uma ótima pessoa, e gosto muito dos australianos. Eles são simpáticos, mas não são... o senhor sabe. – Ele não terminou a frase, mas o significado era óbvio. Os australianos são como os americanos, mas não são tão exibidos. – Nós telefonamos para o seu apartamento.

Franzi a testa. Eu tinha tirado o som do telefone porque Sarah sempre se atrapalhava com a diferença de fuso horário entre Madison e Oxford, e acabava me telefonando no meio da noite. Isso explicava por que eu não tinha ouvido o telefone tocar.

– Muito obrigado por me avisar. Da próxima vez, avisarei que terei visitas – prometi.

De volta ao apartamento, entrei no banheiro, acendi a luz do espelho e vi as marcas deixadas pelos últimos dois dias. As olheiras do dia anterior já estavam parecendo uma contusão. Achei que haveria marcas no meu braço, mas para minha surpresa não havia nada. O apertão do vampiro tinha sido tão forte que eu estava certo de que teria arrebentado alguns vasos de sangue debaixo da pele.

Depois do banho, vesti uma calça larga e uma camiseta básica. Roupas pretas acentuavam a minha altura e atenuavam a minha constituição atlética, mas por outro lado me faziam parecer um cadáver e por isso joguei um suéter de pervinca sobre os ombros. O suéter azulou ainda mais as olheiras, mas pelo menos eu já não parecia um cadáver. O cabelo insistia em sua habitual rebeldia, eriçando a cada movimento do meu corpo. A única solução foi prendê-lo com um coque desengonçado à altura da nuca.

O carrinho de Tomlinson estava abastecido de manuscritos e me resignei com a ideia de topar com ele na sala de leitura Duke Humfrey. Fui até a mesa de solicitações de peito erguido.

O supervisor e os atendentes zanzavam novamente como aves nervosas de um lado para o outro. Dessa vez a atividade concentrava-se no triângulo entre a mesa de solicitações, os catálogos de manuscritos e a sala do supervisor. Eles carregavam pilhas de caixas e empurravam carrinhos entupidos de manuscritos para dentro das três primeiras ogivas de mesas antigas sob os olhos atentos das gárgulas.

– Obrigado, Sean. – A voz um pouco fina e cortês de Tomlinson ecoou do fundo das mesas.

A boa nova é que eu não teria que dividir a mesma mesa com o vampiro.

A má notícia é que eu não poderia entrar ou sair da biblioteca, ou solicitar livros e manuscritos, sem que Tomlinson seguisse cada gesto meu. E ele estava munido de uma retaguarda.

A Descoberta Das Bruxas -Larry StylinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora