NOSTALGIA

26.5K 300 39
                                    


Eu era divorciada de Marcos há quase cinco anos quando o reencontrei por acaso em outro país. Nós nos casamos rápido demais após seis meses de namoro e o nosso casamento não durou nem um ano. Brigávamos em excesso e não concordávamos em nada. Éramos água e óleo na vida, mas fogo e gasolina na cama. A forte atração e química sexual foi o que ainda fez com que nosso relacionamento durasse um pouco mais do que o esperado, mas depois de um tempo tornou-se insustentável manter um casamento por causa do melhor sexo de nossas vidas.

Quando o processo de divórcio foi concluído, paramos de nos falar e nunca mais tínhamos nos visto, mesmo morando no mesmo bairro da cidade. Após tanto tempo, nós nos esbarramos enquanto andávamos em uma rua histórica de Lisboa, a capital portuguesa que havíamos planejado conhecer juntos quando completássemos um ano de casados. A minha reação ao reencontrá-lo foi rir alto. O que nos regia? Ironia, coincidência ou destino?

— Acho que colocaram drogas no meu café, porque não pode ser possível estar olhando para a minha ex-esposa em outro país. – ele debochou com uma expressão de tédio.

— Você continua o mesmo idiota. – eu gargalhei.

Não sei por que, mas a minha atitude logo em seguida foi abraçar Marcos. Surpreendentemente, ele retribuiu meu gesto. O divórcio foi horrível e hostil. Nós nos xingamos, quase nos agredimos fisicamente, nos magoamos mais ainda, envolvemos nossas famílias e todo mundo ficou mal com todo mundo. Era surpreendente estarmos nos abraçando depois de tanta coisa e tanto tempo.

— Você está mais ruiva do que antes. – disse Marcos, exibindo um sorriso arrebatador. Ele continuava lindo, embora tivesse mais cabelos brancos na cabeça.

— E você parece que assumiu a barba, ou não vendem barbeadores aqui em Lisboa? – eu ri, destilando de brincadeira um pouco de veneno.

— Assumi a barba de vez há um ano. Descobri que fico mais charmoso e maduro com ela. As mulheres adoram.

— Mas eu sempre te disse isso.

Nós nos encaramos por alguns minutos. Apesar da menção a outras mulheres, nesse intervalo de tempo em que nos fitamos era como se nada tivesse acontecido e nós ainda fôssemos Mariana e Marcos contra o mundo, que casaram ao pôr do sol em uma chácara maravilhosa, mesmo a contragosto das nossas famílias, em um emocionante casamento intimista ao som de James Blunt.

— Eu acabei de sair daquele restaurante, mas... Você gostaria de... Entrar lá e... Comer alguma coisa comigo? Conte-me as novidades. – embora visivelmente inseguro, eu sentia que não poderia estar mais autoconfiante e de bem com a vida. Dane-se o passado. Era só uma conversa.

— Eu estava indo para lá mesmo. Pode me acompanhar.

No fim das contas, quase não comemos e conversamos por horas. Falamos sobre trabalho, família, amigos, aquela viagem, sonhos futuros, novos objetivos de vida... Até mesmo relacionamentos com outras pessoas (ambos estávamos solteiros)... E o nosso casamento fracassado.

— Eu não sinto mais nada quando penso no que aconteceu. – eu disse – Quando nós nos divorciamos, eu sentia muito ódio e rancor de você. Eu estava decepcionada e desiludida em todos os sentidos. Você tinha me destruído. Ainda assim, nos primeiros meses senti muito a sua falta. Eu me desprendi mais do que houve após meses de terapia, mas até aceitar que precisava de terapia levou outro tempo. Acho que é por isso que eu te abracei quando te vi. Foi a prova da minha superação. Eu fechei esse assunto de vez.

— Fui muito babaca naquele tempo. Eu era egoísta, narcisista e inflexível, nunca lhe pedia desculpas e não lhe dava a atenção que merecia fora da cama. Levei cerca de dois anos para reconhecer que fui o culpado pelo fracasso do nosso casamento. Também fiz terapia, e isso me ajudou a entender que eu era um babaca. Acho que amadureci com meus erros. Eu me arrependo muito por não ter sido um homem melhor para você.

Contos Eróticos do Batom VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora