Eu era um delegado novato em uma cidade interiorana. Não estava muito animado com aquele local de trabalho, porque a cidade era pacata demais e eu queria ação. Queria prender criminosos perigosos. Livrar a cidade de um mal muito grande. Fazer coisas importantes. Os melhores casos que apareciam eram brigas de vizinhos porque o cachorro ou a galinha do outro tinha invadido o seu quintal, ou porque o filho de alguém estava dando em cima da filha de outra pessoa. Esses casos geralmente resultavam em ameaças, e eu apaziguava a situação, conciliando as partes envolvidas.
As coisas melhoraram quando Maria Aparecida começou a dar as caras na delegacia, mas ela era uma moça beata da igrejinha local e sempre ia com o objetivo de fazer alguma leitura bíblica ou orar por mim. Logo eu que não sou religioso... Mas aceitava a sua presença por ser um colírio aos meus olhos.
— Seu Delegado, eu acho muito importante o que está fazendo pela nossa cidade. As pessoas estão até brigando menos! Deus gosta dessas coisas. O senhor é um homem bom, um homem santo. – ela sorria para mim, usando uma beca branca, com um véu que cobria seus cabelos. Eu morria de curiosidade de saber a cor, a textura e o comprimento deles, já que a freirinha não deixava nada à mostra.
— Se tem uma coisa que não sou é santo, Cidinha. – era assim que ela gostava de ser chamada – Você vai acabar pecando só por pensar isso de mim.
— Mas Seu Delegado, tenha mais fé em si mesmo! Vai à missa esse final de semana? Contamos com a sua presença na casa de Deus.
— Nesse domingo não, mas no outro sim. – eu disse, pensando nos seus cabelos.
— Sempre diz a mesma coisa, Seu Delegado! O senhor tem que tomar jeito.
— E eu já lhe disse para não me chamar de seu delegado. Meu nome é Roberto e nem sou tão senhor assim. A nossa diferença de idade nem deve ser tão grande.
— Mas eu lhe chamo assim por uma questão de respeito. O senhor é uma autoridade. Rezo muito para que Deus lhe livre de todos os males.
E eram geralmente nisso que focavam as nossas conversas, embora Cidinha também me atualizasse vez ou outra sobre a vida das pessoas na cidade, mas nunca fazendo fofoca, sempre falando coisas boas de todos. Por fim, antes de ir embora, rezava um Pai-Nosso e uma Ave-Maria de mãos dadas comigo.
Em uma noite, porém, foi diferente. Maria Aparecida chegou à delegacia no final do expediente de uma quinta-feira. Eu tinha ficado até mais tarde trabalhando em uma papelada que deixei acumular e dispensei os policiais daquele plantão. A beata não usava a beca e só a reconheci por causa do rosto e do cumprimento formal antes de ela disparar a chorar. Seus cabelos eram negros como a noite, lisos e compridos. Eu estava tão perdido em sua beleza que demorei a perguntar o que tinha acontecido.
— Seu Delegado, eu quero que me prenda. – ela disse decidida.
— Prender você, Cidinha? Mas por quê? – eu fiquei surpreso. Aquela moça seria a última pessoa que eu prenderia na vida de tão pura e inocente que era.
— Eu perdi a paciência com o meu irmão caçula e bati nele. O pobrezinho deve estar chorando até agora. Quero ficar presa até que possa me confessar com o padre na missa do domingo. A justiça de Deus nunca falha, mas também quero ser punida pela justiça dos homens.
Tive vontade de rir. Às vezes Cidinha era muito fanática e radical.
— Você espancou seu irmão?
— Não, Seu Delegado, jamais! Foram só alguns tapas, porque ele xingou a nossa mãe e me mostrou a língua. Não sei onde ele aprendeu essas coisas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos Eróticos do Batom Vermelho
Short StoryExiste algo mais sensual nesse mundo que um batom vermelho tingindo lábios cheios de desejo? Talvez encontrem algo tão sensual através da leitura dos "Contos Eróticos do Batom Vermelho", um espaço reservado a contos eróticos narrando oito histórias...