Juntei as minhas coisas e saí pela janela. Atravessei o jardim e andei até o ponto de ônibus. Eu estava indo para a casa da mãe de Simon, Elena. Ela gostava de mim e cuidaria de mim até eu ser de maior. Era assim que eu estava pensando naquele momento.
Só que eu não sabia onde era a casa dela, mas sabia o percurso. Decidi ir caminhando, mas eu não havia saído nem do bairro e estava morrendo de sede. Eu não havia pego dinheiro e nem uma garrafa de água. O sol já havia ido embora e a lua reinava naquele lado da Terra. Eu estava cansado de andar e eu nem sabia se aquilo ia dar certo ou não.
De repente, comecei a ser seguido por um Volvo igual ao de Michael. Eu não cogitei que poderia ser ele, eu estava assustado demais para pensar em algo. Eu vi nos filmes que, se um carro estiver te seguindo, talvez sejam sequestradores. Só me lembro de correr pra caramba até ouvir uma voz familiar gritar:
— Você não se cansa, Christian? — era Simon.
Eu parei de correr e olhei para trás, derrotado.
— Não quero conversar, Simon. Vou para a casa da vovó Elena. — continuei andando.
— Posso te dar uma carona...
Pensei um pouco naquilo, e decidi voltar e entrar no carro.
— Se voltarmos para a casa, vou pular do carro em movimento... — ameacei.
Simon riu e digitou uma mensagem no celular, antes de acelerar. Ficamos em silêncio, ele colocou a minha playlist de musicas favoritas para tocar, mas eu fingi estar desinteressado.
Ele seguiu por um caminho mais longo, o que prolongou o percurso para a casa da vovó Elena. Quando finalmente chegamos, me surpreendi ao ver Michael encostado na porta de entrada, com os braços cruzados.
— Era cilada! — falei o óbvio. — Não acredito que fez isso, pai!
— Por que você não sai e vai falar com Michael? — Simon se inclinou e abriu a porta para mim.
Eu desci do carro com a cara emburrada e me aproximei de Michael.
— Oi, Michael. Pode me dar licença? Eu quero entrar na casa da minha avó. — apontei para a porta, atrás dele.
Michael balançou a cabeça negativamente e se ajoelhou na minha frente, se apoiando com o pé esquerdo.
— Que tal comermos pizza? — me propôs.
— Não, eu quero entrar.
— Me perdoa, Chris. Eu não espero que entenda, mas eu sou assim. Sabe que meu pavio é curto. Eu prometo que vou tentar me controlar, vou tentar melhorar. Agora, por favor, filho... Não faz isso comigo, ok? Eu te amo muito e não quero te perder para os cookies da Vovó Elena. — ri internamente com essa última parte, mas continuei firme e forte. — Podemos fazer uma guerra de travesseiro...
Os faróis do carro estavam nos iluminando no escuro da noite. Simon estava com a porta aberta, encostado no carro e olhando para nós dois. Os olhos de Michael estavam num verde muito claro, e eu senti que poderia me atirar em cima dele para um grande abraço.
— Eu sei o que seus amigos falam, Chris. Sobre você não ter uma mãe. Mas saiba que eu sou sua mãe e quero o melhor para você. Somos suas mamães, filho. — Michael acariciou meu rosto, sorrindo. — Dane-se o que as pessoas falam, apenas responda: "Meus dois pais, como mães, valem mais do que a sua mãe e seu pai juntos." É, responda isso, Chris. Venha, me abrace.
Então eu o abracei forte. Senti o seu perfume e permaneci ali. Simon também se juntou ao abraço, e depois nos três caminhamos, de mãos dadas, até o carro. Eu, no meio, Simon na minha esquerda e Michael na minha direita.
Naquele mesmo dia, quando eles me colocaram para dormir e desligaram as luzes, eu saí escondido e fiquei no meio dos degraus da escada.
— O que acha que ele vai se tornar quando crescer? — Simon perguntava.
— Hm... Alguém muito bom. Ele é um bom garoto, S. — Michael respondeu.
Desci mais dois degraus e os vi do outro lado, na cozinha. Simon preparava um café e Michael comia um sanduíche.
— Eu sei, mas fico preocupado... — Simon derramou o café na xícara.
— Chris está bem, amor. — falou Michael, quando terminou de comer o sanduíche. — Ele só está passando por uma fase...
Simon bebeu o café e se virou para Michael.
— Eu te amo. — ouvi-o sussurrar.
Michael se inclinou para beijá-lo e eu me perguntei se eu deveria mesmo estar assistindo meus pais se beijarem.
Na verdade, Caderno Azul, não vou mais entregá-lo para meus pais. Eles não gostariam de saber que eu estive bisbilhotando a cena romântica deles. Mas eu não tenho culpa se eles começaram a se beijar como se o mundo fosse acabar a qualquer momento.
E eu fiquei paralisado na escada, apenas observando. Eu não conseguia mover um músculo. Quer dizer, eu sempre quis saber o que acontecia depois que eu dormia. Mas eu não sabia que era sobre beijos nojentos e apressados. Eu conseguia ouvir os estalos da escada e eu estava claramente estranhando aquilo.
Todos os casais faziam isso? Todos os casais empurravam o parceiro até a bancada e passava a mão pelo o corpo dele, do mesmo jeito que Michael fez com Simon? Porque, se a resposta foi sim, eu prefiro mil vezes estar dormindo a ver Michael tirar a camiseta verde de Simon e o levar aos beijos até a escadas.
E eu ainda tentei voltar correndo, mas tropecei no degrau e caí com a bunda no mesmo. Simon olhou para mim e se afastou de Michael. Ambos ficaram ruborizados ao me ver ali.
— Chris, meu filho... O que está fazendo aqui? — perguntou Simon, tentando parecer natural.
— Eu ia beber água. — respondi. — Desculpa, eu não queria atrapalhar essa cena nojenta, quer dizer... Romântica. Tenham uma boa noite, tchau. — subi o resto dos degraus correndo.
— Ótimo, deixamos o garoto traumatizado...! — ouvi Michael dizer, antes de eu entrar no meu quarto.
Me joguei na cama quando os dois entraram no quarto e vieram conversar sobre a cegonha. Para ser sincero, aquela foi a pior conversa que tive na minha vida.
Argh! Que nojento...

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Caderno Azul
RomantikQuerido caderno azul, eu te comprei para presentear os meus pais no dia das mães. Eu sei que existe pessoas que irão dizer que dois pais não são mães, mas para mim são. Minha professora diz que mãe é quem cuida, então Simon e Michael são, definitiv...