Sweet You

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Na metade de sua descida desenfreada em busca da saída daquele edifício comercial, tudo que Louis conseguia fazer era rezar para não ser pego. Era pequeno e delicado, sabia das próprias limitações e tinha plena consciência de que se o moreno mandado pelo Vaticano o alcançasse, num corpo a corpo, estaria perdido.

Seu peito doía conforme suas pernas o levavam em direção às escadas de incêndio do prédio, buscando o conforto da solidão nelas conforme deixava suas pernas trabalharem, lance por lance, em direção ao térreo.

Mal observava as coisas ao redor, não queria saber se os corrimãos eram vermelhos ou amarelos, só queria ir embora. Só queria chegar em casa. Só queria...

Sentiu seu corpo bater fortemente contra alguma coisa e fechou os olhos, com a certeza de que o Hunter o havia alcançado. Só voltou a abri-los quando braços aquecidos rodearam seus ombros num abraço protetor.

Não estava mais nas escadarias do edifício comercial.

Estava no centro da própria sala de estar, encarando a lareira acesa e crepitante iluminando o ambiente escuro devido as cortinas blackout fechadas.

O cheiro de Harry enchia seus sentidos. Aquele odor excêntrico de uma mistura muito delicada de café, menta e um toque silvestre junto com um quê de algo picante. Poderia descrever o moreno pelo olfato.

Agarrou-se à cintura do maior como um gato acuado, sentindo o demônio depositar um beijo no topo de seus cabelos e segurá-lo com mais firmeza contra o tórax firme.

Foi como uma deixa. Uma deixa para que o desespero de Louis se externasse em lágrimas grossas e doloridas. Não pelos motivos normais; não pelas razões que o cristianismo consideraria certas. O humano não sentia nem um pingo de remorso por ter jogado a criança do 27º andar, com quase cem por cento de chance de levá-la a morte dessa forma. Ele mataria milhares iguais a ela e jamais condoer-se-ia com algo assim.

Louis estava apavorado com a ideia de ter demorado demais para perceber que estava sendo seguido. Assustado com a perspectiva de ter trazido um Hunter para caçar Harry. Arrependido à morte de que alguma atitude sua pudesse machucar o demônio que agora o abraçava como se fosse o centro de seu mundo.

Não era.

Sabia que não.

Mas isso não impedia o humano de iludir-se. Podia – em seu próprio conto de fadas – acreditar que era sim tudo o que o outro versava sobre si. Indispensável, inigualável, amado... Afinal, era uma mentira tão bem contada naqueles braços tenros, naquela respiração compassada e naquele bater de coração que sincronizava-se com o seu, podia facilmente se tornar crível.

Poderia viver mentindo pelo o resto de sua existência, sem jamais arrepender-se.

"Shh... Está tudo bem, pequeno." Sussurrou, contra os cabelos castanhos de Louis, que teve plena vontade de fundir-se ao moreno. Mas não havia como. Por mais que amarrassem-se juntos, com força, durante toda a eternidade, jamais seriam um só.

Conseqüentemente, Louis jamais iria sentir-se completo. Porque Harry era como uma parte de si arrancada, sem a qual não conseguia permanecer íntegro.

"Não... Eu podia ter machucado você! Ele poderia ter te alcançado... Ele ainda pode te alcançar, Harry!" Sua fala era quase histérica, assim como medo que corria em suas veias, incessante.

"Deixe que venha." Disse, tomando Louis nos braços como se o mesmo quase não tivesse peso. Firmou as mãos abaixo das coxas do menor, deixando-o pender em seu colo da mesma maneira que faria com uma criança. E talvez fosse isso. Talvez o pequenino de olhos azuis fosse sua criança. Complexada, assustada, além de extremamente obsessiva, mas ainda assim alguém que ele protegeria como pudesse. "Ele é só um humano, Louis... E todos os humanos são frágeis, mesmo quando sentem-se indestrutíveis."

Broken SoulsOnde histórias criam vida. Descubra agora