The Beginning Of The End

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A noite já havia caído há horas, levando com ela a atividade da maioria dos seres humanos. Não havia mais ninguém nas ruas, principalmente num bairro como aquele, que sempre seria conhecido por ser um dos mais violentos da cidade. Não que pobreza atraísse violência, mas os comércios ilegais desenvolvidos pelas redondezas,definitivamente, atraíam. Não era o lugar em que nenhuma mãe desejaria criar seus filhos, no entanto as residências eram extremamente desvalorizadas, com parcelas que cabiam nos bolsos dos proletariados menos abastados.

Não seria num lugar assim que um devoto de qualquer religião cristã iria imaginar encontrar um anjo. Se tivessem de imaginá-los em algum lugar terreno, provavelmente seria em espaços mais belos, cheios de flores aromáticas, ou em hospitais, velando pela saúde de crianças doentes. No geral, realizando qualquer atividade filantrópica com suas longas asas cristalinas e olhos de bondade infinita.

Bem, não era o caso.

Se bem que para os mais desinformados, não seria crime afirmar que Even estava sim zelando por uma criança. Obviamente que se não levasse em consideração o fato de que a criança era um meio demônio e que ele estava, irremediavelmente, apaixonado pelo menino. Apaixonado num sentido romântico, que sequer deveria fazer sentido para seres celestiais. Eles deveriam amar apenas ao Pai.

Novamente, não era o caso.

O impuro dormia em seus braços, encolhido como um gato, já há algumas horas. Haviam começado a assistir um filme qualquer no sofá da sala, mas aos poucos o menino foi se achegando, achegando, até estar completamente adormecido entre suas pernas, apoiando seu rosto no peito do Mandante das Virtudes, que havia desistido de prestar atenção na tela e se contentava em encarar o rosto adormecido. A pele branca demais, os lábios róseos e finos, que permaneciam entreabertos num ressoar suave, a linha do maxilar, o pescoço esguio. Isak não era perfeito. Possuía um sorriso tortinho e caninos afiados demais, no entanto, até mesmo esses pequenos defeitos conseguiam deixá-lo mais belo, mais único, mais... Impecável.

Para Even, o pobre anjo que se deixava envolver pelo amor humano, ele era o ser mais belo em que já havia colocado os olhos.

E o mais puro.

Independentemente do que dissessem as más línguas, que o julgariam por não ter alma, por ser um desgarrado do céu e do inferno, o anjo jamais conheceria alguém tão puro quanto ele. Alguém que manteve sua pureza mesmo quando sua vida esforçou-se muito para retirar dele todas as virtudes.

Even daria a vida por ele. Daria vida de uma legião de anjos para que aquele tímido sorriso torto pudesse resplandecer mais um dia.

Contudo, apenas por saber que faria isso, já deveria ser julgado pelas mais rígidas leis angelicais.

Já estava pensando em pegá-lo no colo e levá-lo para a cama quando aquele amargor na boca do estômago o avisou que havia alguma coisa errada. Tornou-se alerta em um milésimo de segundo, erguendo os olhos, passeando-os pelas janelas que havia na sala. Não precisou de muito esforço para encontrar os olhos negros de uma pessoa que o encarava, do outro lado da rua.

Não era bem uma pessoa.

Apenas a casca de uma.

Tocou na cabeça do pequeno em seu colo, fazendo com que seu sono não pudesse ser interrompido, antes de se levantar com ele nos braços. Precisava colocá-lo no quarto e ver o que estava acontecendo. Correu pelas escadas, carregando-o como uma noiva; o pequeno pomo de adão mais proeminente por estar com a cabeça tombada para trás. Even teve uma súbita vontade de beijá-lo, de marcar aquele pescoço inteiro, mas acabou reprimindo aquele tipo de pensamentos no segundo seguinte.

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⏰ Última atualização: Oct 13, 2017 ⏰

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