❧ QUARTO ❧

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                        Isaura estava mal humorada, entediada. A carruagem seguia lentamente em direção a cidade, e o calor insuportável a fazia cozinhar dentro de seu belo vestido vermelho. O escravo ao seu lado, o qual se quer se importava o nome, abanava-a sem parar. Ela revirava os olhos, não aguentando mais esperar. 

— Falta muito para chegar? Não aguento mais suar dentro desse forno! — perguntou irritada. — Sem contar o cheiro insuportável desse escravo! 

— Estamos chegando, Sinhá. — o homem que acabará de ser atacado com as palavras rudes da mulher a respondeu.

                       Alguns minutos passaram e a carruagem parou. O escravo saiu primeiro, para auxiliá-la. Ela segurou sua mão e desceu. Isaura limpou-a sobre o vestido em seguida e praguejou contra o forte sol. Ela precisava comprar tecido para novos vestidos, mais leves de preferência, tudo para aguentar o terrível calor do Brasil. 

                       Enquanto caminhava Isaura atraia muitos olhares. Os homens de todas as classes sociais admiravam a beleza angelical da desconhecida. 

                      Seus olhos verdes eram hipnotizantes, os cabelos dourados e raros. A pele branca como o mármore parecia cadavérica. Isaura era a criatura mais bela que os homens de Campos já tiveram o prazer de ver. 

— Muito boas tardes — um jovem alto dos olhos castanhos a cumprimentou. Suas vestes eram na cor preta. 

— Boas tardes. — sorriu, observando-o. 

— Desculpe, mas nunca vi criatura tão angelical em toda minha vida — tirou o chapéu, colocando-o a frente do peito. — qual seria a sua graça?

— Sou Isaura Almeida, filha do Comendador Almeida. — respondeu voltando a andar. 

— Sou Gabriel Albuquerque. — seguiu-a. — Não sabia que o Senhor Comendador tinha uma filha.

— Lembro-me de sua irmã, Tomásia Albuquerque. Eramos colegas quando mais jovens. — comentou indiferente. — Seu pai, o Senhor Epaminondas... ainda tem problemas com álcool e jogos?

— Ele faleceu há alguns anos. — pigarreou. — Mas não vamos falar sobre isso. Do que a Senhora gostaria de conversar? — Gabriel mantinha o interesse na mulher, por mais que ela se quer olhasse em seus olhos.

— Preciso comprar bons tecidos — virou a face em direção ao rapaz. — poderia me auxiliar indicando-me o melhor lugar para comprá-los?

— Com todo o prazer, Senhorita! —  Gabriel ofereceu-lhe o braço, e Isaura não hesitou em pegá-lo. 

— Sabe, confesso que estava sentindo saudades do Brasil — comentou rindo. — mas o calor é realmente desagradável.

— Imagino que não esteja mais acostumada com o nosso abençoado sol, certo? — Gabriel riu, abobado pela ilustre companhia de Isaura.

— Abençoado? — revirou os olhos. — Terrível! Se o meu esposo estivesse vivo, ele queimaria! Era um homem deveras claro, olhos azuis e cabelos praticamente brancos de tão loiros. Sempre odiou o sol. Costumava a chamá-lo de Démon. Em francês significa Demônio. Gostava da escuridão como jamais outro homem gostou.

— Perdão o inconveniente... mas não sabia que fora casada, muito menos que é viúva.

— Perdeu o interesse em mim, Senhor Albuquerque? Por ser viúva? — Isaura encarou-o, totalmente enfezada.

— Claro que não, Senhora! Continua encantadora. — forçou sorrir. — Tenho certeza que vosmecê seria uma esposa divina.

— Bom, Senhorzinho Gabriel, confesso que vosmecê teria muita sorte de ter uma mulher como eu para ser sua esposa. Sou rica e única. Vivi cinco anos na Europa e aprendi muito nesta jornada. 

O Escravo de IsauraOnde histórias criam vida. Descubra agora