Isaura estava mal humorada, entediada. A carruagem seguia lentamente em direção a cidade, e o calor insuportável a fazia cozinhar dentro de seu belo vestido vermelho. O escravo ao seu lado, o qual se quer se importava o nome, abanava-a sem parar. Ela revirava os olhos, não aguentando mais esperar.
— Falta muito para chegar? Não aguento mais suar dentro desse forno! — perguntou irritada. — Sem contar o cheiro insuportável desse escravo!
— Estamos chegando, Sinhá. — o homem que acabará de ser atacado com as palavras rudes da mulher a respondeu.
Alguns minutos passaram e a carruagem parou. O escravo saiu primeiro, para auxiliá-la. Ela segurou sua mão e desceu. Isaura limpou-a sobre o vestido em seguida e praguejou contra o forte sol. Ela precisava comprar tecido para novos vestidos, mais leves de preferência, tudo para aguentar o terrível calor do Brasil.
Enquanto caminhava Isaura atraia muitos olhares. Os homens de todas as classes sociais admiravam a beleza angelical da desconhecida.
Seus olhos verdes eram hipnotizantes, os cabelos dourados e raros. A pele branca como o mármore parecia cadavérica. Isaura era a criatura mais bela que os homens de Campos já tiveram o prazer de ver.
— Muito boas tardes — um jovem alto dos olhos castanhos a cumprimentou. Suas vestes eram na cor preta.
— Boas tardes. — sorriu, observando-o.
— Desculpe, mas nunca vi criatura tão angelical em toda minha vida — tirou o chapéu, colocando-o a frente do peito. — qual seria a sua graça?
— Sou Isaura Almeida, filha do Comendador Almeida. — respondeu voltando a andar.
— Sou Gabriel Albuquerque. — seguiu-a. — Não sabia que o Senhor Comendador tinha uma filha.
— Lembro-me de sua irmã, Tomásia Albuquerque. Eramos colegas quando mais jovens. — comentou indiferente. — Seu pai, o Senhor Epaminondas... ainda tem problemas com álcool e jogos?
— Ele faleceu há alguns anos. — pigarreou. — Mas não vamos falar sobre isso. Do que a Senhora gostaria de conversar? — Gabriel mantinha o interesse na mulher, por mais que ela se quer olhasse em seus olhos.
— Preciso comprar bons tecidos — virou a face em direção ao rapaz. — poderia me auxiliar indicando-me o melhor lugar para comprá-los?
— Com todo o prazer, Senhorita! — Gabriel ofereceu-lhe o braço, e Isaura não hesitou em pegá-lo.
— Sabe, confesso que estava sentindo saudades do Brasil — comentou rindo. — mas o calor é realmente desagradável.
— Imagino que não esteja mais acostumada com o nosso abençoado sol, certo? — Gabriel riu, abobado pela ilustre companhia de Isaura.
— Abençoado? — revirou os olhos. — Terrível! Se o meu esposo estivesse vivo, ele queimaria! Era um homem deveras claro, olhos azuis e cabelos praticamente brancos de tão loiros. Sempre odiou o sol. Costumava a chamá-lo de Démon. Em francês significa Demônio. Gostava da escuridão como jamais outro homem gostou.
— Perdão o inconveniente... mas não sabia que fora casada, muito menos que é viúva.
— Perdeu o interesse em mim, Senhor Albuquerque? Por ser viúva? — Isaura encarou-o, totalmente enfezada.
— Claro que não, Senhora! Continua encantadora. — forçou sorrir. — Tenho certeza que vosmecê seria uma esposa divina.
— Bom, Senhorzinho Gabriel, confesso que vosmecê teria muita sorte de ter uma mulher como eu para ser sua esposa. Sou rica e única. Vivi cinco anos na Europa e aprendi muito nesta jornada.
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O Escravo de Isaura
De TodoUma adaptação do Romance de Bernardo Guimarães. Leôncio, um escravo branco, filho de um português e uma escrava mulata que morreu no dia em que deu a luz ao seu único filho. A criança, já cativa, propriedade de seus Senhores desde o...