Espelho, Espelho Meu

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Me encaro no espelho. Eu me encaro de volta. Um jogo de imitação que não tem fim, pois não há erro. Nem meu e nem dele.

Me aproximo de mim mesma e olho meu nariz. Sangra. Não que eu não esteja acostumada. Eu estou. E muito. Acontece pelo menos umas quarenta e sete vezes no ano. Ou melhor, nas épocas chuvosas e de inverno.

É um ciclo que vai me seguir até eu morrer. Temperatura cai. Eu fico resfriada. Meu nariz escorre. Descubro que na verdade é gripe. Meu nariz entope. Tento assoar meu nariz. Ele sangra. E sangra. E sangra de novo.

No momento, estou na parte "E sangra" do ciclo. São 18:42, e ele resolveu sangrar há três minutos. Quando finalmente o limpei e sentei-me no sofá, ele sangrou de novo.

Minha pia está tão vermelha quanto a cena de um crime violento.

Após esfregar meu nariz, me olho no espelho. Estou com o gosto de sangue na boca, e de certa forma o gosto é bom, mas o fio líquido e vermelho não está mais lá. Sorrio para mim mesma. Não um sorriso de felicidade exatamente, mas um sorriso bem aleatório, quase uma careta, porque mexe as sobrancelhas, faz rugas na testa e cria covinhas.

Gosto de me olhar no espelho. Eu não me acho bonita, na verdade, mas eu gosto de mim mesma, e me sinto bem olhando para mim. Acho meus olhos grandes e brilhantes a coisa mais bonita em mim, e realmente é o que mais chama a atenção das pessoas.

Terminada minha sessão diária de sorrisos e contorções faciais diante do espelho, dou um riso, apago a luz, e volto para a sala. Sento-me no sofá e tento aproveitar ao máximo o programa antes que meu nariz sangre de novo.

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