3 // a regra é clara

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Tony não sabia, mas estava surtando mais do que o normal. Não passava por sua cabeça sequer um resquício do que poderia ser o motivo de sua atitudes — ou a falta delas — com Steve. Que espécie de situação era aquela em que havia se metido? E por que agia como se houvesse cometido a porra de um crime?

Se bem que talvez realmente fosse um crime para o Capitão, afinal, ele era de outra época. Steve provavelmente culpava-se por ter correspondido às suas carícias até certo ponto, mas Tony nunca saberia de fato. Por mais que, mesmo não admitindo, estivesse sedento pelo corpo escultural do soldado, ele achava mais viável simplesmente esquecer o que havia acontecido. Ou o que não havia.

Foi um erro, pensou Tony, deixando que seu lado conservador e racional tomasse as rédeas da situação. A relação dos dois sempre fora muito difícil e se não havia melhorado depois de um beijo com interesse ligeiramente mútuo, era melhor deixar como estava. Se não era desejo reprimido de ambos os lados, só podia ser ódio vindo de Steve. E o universo parecia conspirar para que Tony percebesse que era odiado inexplicável e irredutivelmente pelo Capitão. Mas não que isso afetasse o pobre e frágil coração remendado do gênio, depois de já ter sofrido tanto com a ausência de uma figura paterna. Na verdade aquilo era um gracejo comparado às surras emocionais que Tony experienciou ao longo da vida.

Que droga. Desde quando sua consciência havia começado a jogar na cara toda sua maldita história com sentimentos e pessoas queridas de forma platônica? Não que fosse platônico o negócio com Steve, até porque ele já estava mais do que remediado contra a adoração incomum por uma pessoa distante — porque queria ou por motivos maiores. Stark balançou a cabeça levemente, deixando que alguns fios castanhos atrapalhassem sua visão sobre uma de suas invenções que, honestamente, ele não estava prestando a mínima atenção. Pelo menos suas emoções ainda não estavam atrapalhando de todo a parte pensante de seu cérebro escravo...

Ou ele achou.

— Tony, não faça isso! — exclamou o doutor Banner, afastando o pequeno filete de fios que estava prestes a encostar na bendita placa causadora dos sentimentos platônicos por Steve.

(QUE NÃO ERAM PLATÔNICOS!)

— Ops. — murmurou Tony, tirando suas mãos de campo. Com um suspiro, ele bagunçou mais os próprios cabelos que já estavam uma zona e alcançou o olhar tipicamente incrédulo de Banner, dizendo: — Por hoje chega pra mim. Preciso de um ar. Tchau, Banner — sorriu torto, tirou o jaleco e saiu do laboratório.

Stark caminhou dramaticamente pelos corredores já quase vazios. Pensou ter visto Clint e Natasha conversando em um canto, mas não dignou-se a cumprimentá-los. Talvez seu cérebro estivesse se rendendo ao coração de tal forma que ele poderia acabar gritando que queria foder Steve bem forte no meio de uma conversa cordial com seus colegas. Melhor era prevenir do que remediar, não é verdade?

No elevador sentiu-se sufocado. O pequeno cômodo parecia estar pegando fogo mesmo com o ar-condicionado ligado. Tony olhou-se no espelho mas arrependeu-se logo em seguida, pois parecia que havia visto um fantasma. E talvez houvesse. Steve perseguia sua mente como se quisesse arrancar de si a alma. E que droga novamente, porque Tony não queria ter de bater um papo com o Capitão e pedir encarecidamente que ele parasse de aparecer na sua cabeça de madrugada o presenteando com uma ereção indesejada.

O elevador finalmente chegou ao térreo, graças a Stephen Hawkin. Stark caminhou até o estacionamento e deparou-se com ninguém mais ninguém menos que o dono de seus pensamentos mais sórdidos; ele mesmo, Steve Rogers, usando uma camiseta tão apertada que deixava em evidência cada maldito músculo seu, fazendo com que Tony automaticamente baixasse mais sua blusa para esconder a possível semi-ereção.

Os primeiros segundos foram os piores, apenas olhares em silêncio. A adrenalina que corria pelas veias de Tony era tanta que ele foi incapaz de ler os geralmente tão falantes olhos de Steve. Era uma merda, na verdade, porque o Capitão normalmente só se pronunciava depois de Tony falar uma típica e desnecessária estupidez. Queria que daquela vez fosse diferente, entretanto, então deu um passo confiante para ficar mais perto de Steve. Ele ergueu levemente o próprio rosto para olhar nos olhos do mais velho e a distância entre os dois era tão pequena agora que ambas as respirações alteradas eram evidentes.

Tony cerrou o punho relutante, tentando de alguma forma controlar a si mesmo e não dar uma voadora naqueles lindos lábios que ocupavam sua visão. Steve parecia tão calmo quanto na primeira vez em que esteve tão próximo do rosto do gênio. Ele estava tão certo que aquele momento acabaria em um beijo quanto que dois mais dois é igual a quatro e que dessa vez quem iria embora correndo seria Stark... Mas acabou que se enganou e feio, pois Tony se afastou tão rápido e entrou no carro tão rápido e deu partida tão rápido quanto ele podia praguejar mentalmente em três línguas diferentes.

Para Tony, a regra é clara: não pegou o bonde no começo, não pega ele andando.

CIRCUMSTANCES | 𝘀𝘁𝗼𝗻𝘆Onde histórias criam vida. Descubra agora