José de Alencar e as Ondas

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Passei dois dias enfurnada no meu quarto mal saindo pra comer. Precisava estudar, e dar conta de todo o conteúdo que deixei de lado nas últimas semanas. Meus estudos sempre foram divididos entre a escola e e o meu tutor em casa. Só que mesmo longe dos dois durante um ano e indo de escola em escola eu tinha o meu conteúdo próprio pra estudar. E se tinha algo nesses conteúdos que eu detestava era aritmética. Aquilo era coisa inventada pelo cão com toda certeza.

Estudei até chegar a um ponto que mesmo de olhos fechados só via equações. Me encostei na cadeira e comecei a ponderar se poderia me dar uma folga. Constatei que estava na hora de parar um pouco quando me peguei pensando em números e não em pensamentos normais. Lembrei-me de algo que ainda não tinha feito, que era ir procurar da onde vinha o cheiro de maresia que havia sentido no dia que cheguei. E tomei a decisão final, iria andar e me distrair nada de números hoje.

Peguei um livro da minha estante, coloquei um vestido leve e fui ate o salão. Dessa vez não foi tão difícil acertar o caminho e quando cheguei perto das enormes portas que davam pra fora dali me deparei com uma praia imensa de um lado e a visão de uma floresta do outro. Dava pra se ver um barco ancorado ao longe e o mar azul com um pôr do sol perfeito ao fundo. Não pude evitar do meu queixo cair.

Andei pela areia da praia por um tempo. Observando tudo, inclusive a extensão da escola, olhando dali era muito maior do que eu poderia imaginar. Eu já havia viajado muito, mas nunca deixava de me impressionar com os lugares. Sempre tudo era diferente, não importava se eram da mesma comunidade. Sempre tinham mudanças drásticas de uma escola para outra. Isso era o que fascinava minha mãe. Toda a diversidade e formas de ensino que existiam pelo mundo. E era isso que me assustava, eu gostava de estabilidade e normalidade.

Sentei em um determinado ponto da praia e apoiei o livro nas pernas. Era Moreninha do José de Alencar, um romance clássico que eu estava me forçando a terminar. Não gostava de personagens que esperavam que outra pessoa resolvessem tudo por elas.

Respirei fundo o cheiro de maresia e ao invés de ler fiquei contemplando o sol se pôr e lembrando que ele é assim. É lindo em todas as partes do mundo, só depende da perspectiva de quem vê. Pode ser uma nova oportunidade nascendo ou findando, mas assim como o nascer do mesmo, traz novas chances.

Olhei para o lado por um instante e vi o rapaz que havia conhecido nas escadas. Ele vestia uma calça marrom leve e uma blusa branca meio aberta. Estava descalço andando na areia com as mãos nos bolsos e olhando pro chão. Parecia tenso, mas seu andar era leve. E foi a coisa mais bela e contraditória que eu havia visto.

Subitamente senti um desespero no peito, não sabia se queria que ele me visse ali ou se me enfiava em algum lugar e ficava lá ate ele passar. Infelizmente ou não, não tinha pra onde ir, estava em espaço aberto.

-Oi! - Ele acenou de longe

Bem, se eu realmente queria fugir minhas chances acabaram de ser frustradas ali mesmo. Mas por que eu queria fugir mesmo?

Ele se aproximou e sorriu

- Acho uma das vistas mais lindas que existem.

-Sim, é de tirar o fôlego – tentei disfarçar o livro q estava nas minhas pernas o mais rápido possível e acabou sendo a coisa mais desajeitada que tentei na vida.

-Incomodo se sentar aqui?

-Não. De forma nenhuma.

A menina e o filho do Fiasco Where stories live. Discover now