Surpresas

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Tive alguns problemas por ter brigado com Dalila, como o sumiço repentino dela da escola alegando organizar coisas do filho para a volta as aulas. Mas claro que minha mãe sabia que tinha sido eu e não me dei ao trabalho de negar. Tivemos algumas horas de conversa completamente chata sobre o meu temperamento ruim, brigas e outras coisas
Fiquei dois dias sem praticamente sair do quarto. Um porque minha mãe pediu para que eu não arrumasse mais confusões, dois porque eu não queria ver mais ninguém até conseguir voltar pra casa.
Minha surpresa foi quando bateram a minha porta faltando quatro dias para que eu completasse com êxito o objetivo de me exilar até a nossa ida daquela escola. Surpresa maior foi quando encontrei Capi parado na porta com um sorriso.
-O..oi
-Oi, não te vi mais pela escola – Ele falava e acho que notava minha surpresa – Esta tudo bem?
-Na verdade foi você quem sumiu – Lembrei dos dias em que andava pra escola sem destino tentando vê-lo – Bem, entra.
Abri a porta do quarto devagar e ele entrou. Ofereci uma das grandes poltronas para que ele senta-se e sentei de frente para ele. Passamos um tempo em silêncio, eu percebia ele analisando o quarto, que estava uma bagunça diga-se de passagem.
-Desculpa
-Oi -  ele voltou a atenção para mim
-Desculpa – respirei fundo. - Eu não devia ter falado daquele jeito com seu pai. Mas não consegui me controlar.
-Tudo bem, eu entendo – ele sorriu pra mim- Só, que eu resolvo as coisas com ele. Ele é meu pai, e por mais que não pareça, eu sei como devo agir.
-Mesmo assim, desculpa mesmo
-Soube que sua cota de brigas não findou com meu pai. – fiz cara de desentendida – Não me venha com essa cara, sei sobre o que aconteceu com a Dalila.
-Soube é? – tentei disfarçar a risada que estava crescendo
-Sim, ela me chamou para falar que vou ficar responsável por ensinar uma das disciplinas esse ano. Então aproveitou pra me falar o quão atrevida você é e sobre o seu baixo nível.
Eu não aguentei e cai na risada.
-Ela contou que eu.. – dai me toquei de algo – Pera. Você vai ser professor?
-Sim, irei lecionar no próximo semestre.
-Uau! Capi! Isso é maravilhoso!!
-Também acho, mas estou bem nervoso sabe? – Ele olhou as mãos por um tempo -É uma responsabilidade enorme. Não acho que eu seja o mais indicado.
-Não acha?!-  Me aproximei – Você é a pessoa que mais conhece essa escola, é o aluno mais avançado que conheço. Fora que é um ótimo professor. Nada de mais, você já leciona para aqueles que não sabem ler. Ser professor é o seu destino. Não pera...
-E agora vai ser para a escola toda. – Ele sorriu nervoso – Sobre ser meu destino, pode ser. Sempre gostei de ensinar
-E essa é a melhor noticia que eu poderia receber no final das férias. – Levantei de uma vez – Já sei, vem -Puxei ele pela mão – Vamos comemorar, vamos ao cinema!
-Não, espera – Olhei para ele – Você me mostrou algo do mundo que você convive. Posso te mostrar do meu?
-Sim, claro. – respondi já mortalmente curiosa do que poderia ser
Saímos do meu quarto a passos rápidos e conversando sobre as futuras aulas. Ele parecia realmente nervoso mas feliz, uma felicidade que dava para ver brilhar em seus olhos. Caminhamos um tempo pela floresta, encontramos Ewhaz que nos acompanhou por uma longa parte do caminho. A floresta estava úmida, provavelmente tinha chovido durante o dia inteiro e eu não havia visto do quarto, estava distraída demais remoendo os acontecimentos da minha vida para perceber. Era noite e cada vez a floresta ficava mais densa e escura. Usamos nossas varinhas para clarear o caminho. A dele era maravilhosa, branca toda entalhada, depois de muito eu admirar ele me perguntou se eu gostaria de vê-la de perto, e é claro que disse que sim. Eu segurei por um tempo e percebi o mesmo símbolo da arvore entalhado nela. O símbolo dos Pixies.
-Chegamos – Ele afastou uma cortina de plantas – O lago da verdade
Eu não consegui conter minha exclamação. Era um lugar lindo, árvores circundavam o lago que era cristalino e azul. Acredito que poderia ver o fundo se chegasse mais perto. Vários pontinhos brilhantes brilhavam entre as árvores. O mais incrível era a pequena ilha e a enorme arvore contida nela, ficava bem no meio do lago. Aquilo era uma visão espetacular.
-Ok, isso coloca o parque de diversões como a coisa mais boba que fiz na vida. – Entrei devagar na clareira que rodeava o lago – Nunca vi um lugar tão fabuloso.
-Concordo – Ele sorria – Acho esse um dos lugares mais preciosos da floresta.
Eu olhei pra ele e estava estampado no seu rosto o quanto ele amava aquilo tudo. Não consegui me segurar, antes de perceber já estava beijando ele.
No começo ele ficou surpreso, mas depois retribuiu e isso me deixou completamente maravilhada. Não sei quanto tempo nos beijamos, mas a mão dele passeava pelos meus cabelos e nuca e eu só conseguia puxa-lo mais para perto. Eu sentia o cheiro de floresta e erva doce que já estava acostumava a sentir sempre que ele estava mais perto. Puxei ele cada vez mais pra perto ate sentir as batidas do coração dele juntas do meu. Paramos por uns segundos e me peguei sorrindo abobada enquanto ele traçava a linha do meu queixo delicadamente. Queria que aquele momento durasse para sempre. Dei um leve beijo na bochecha dele.
-Eu nem acredito.
-Em que? – ele me perguntou confuso
-Você retribuiu meu beijo.
-Eu...- ele respirou fundo e se afastou – Não deveria ter feito isso
-Porque não? – Segurei as mãos dele e me aproximei novamente -Eu estou completamente apaixonada por você Capí. E se você também estiver, quero vir pra Korkovado...
-Você vir pra Korkovado será ótimo de verdade – Ele parecia sem jeito, nervoso, estava escolhendo as palavras -Eu não quero te magoar.
-Seja sincero comigo – me afastei -Só te peço isso.
-Eu gosto de outra pessoa Nine. – Ele me olhava suplicando para que eu entendesse. – Não é nada com você, você é incrível, bonita, forte, divertida. Mas eu gosto de outra pessoa. E isso não seria certo nem com você, nem comigo.
Eu senti o chão desabar. Parecia que toda a felicidade que me preenchia desde o momento que ele entrou no meu quarto aquela noite tinha desaparecido. A beleza do lugar tinha dado inicio a um pesadelo. E todo começava de novo, eu estava sendo rejeitada. Sim como sempre, sempre tinha uma desculpa, mas eu sabia o rela porquê: Eu era a bruxa que sempre estava do outro lado.
Não lembro quando as lágrimas começaram a cair, nem do que ele tentava me dizer. Sei que foram mais desculpas. Mais formas de tentar acalmar tudo o que eu sentia. Mas nada surtia efeito, eu sentia um vazio e nada iria preencher.
Sai correndo floresta afora, tropeçando nas raízes. Eu não queria saber de nada, só de me afastar daquele lugar, me afastar dele.

A menina e o filho do Fiasco Where stories live. Discover now