Sonhos e Fadas

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Eu corri ate não sentir meus pés, até meus pulmões queimarem e minhas pernas falharem. Desabei na terra, dei de cara com raízes e mato úmido. Continuei a chorar, sentia meus ombros balançando me ouvia soluçar distante. Em algum momento eu apaguei ali mesmo e o sono ou desmaio não sei, me trouxe a doce ilusão que tudo estava bem.

Quando me vi de olhos abertos novamente, me sentia desorientada. Não lembrava muito bem o que tinha acontecido. Era como um sonho distante que veio voltando aos poucos. Quando a realidade se mostrou novamente, me vi sozinha desesperada no meio da floresta, e com um coração partido. Andei sem rumo, e meus pensamentos foram voltando ao lugar.

Ele nunca demonstrou qualquer outro interesse por mim. Sempre estava comigo, mas sempre como um amigo, segundo Atlas, ele era amigo de todo mundo, por que não seria meu? Eu a desajustada? Provavelmente ele estaria do meu lado por pena, ou sei la qualquer coisa. Não adiantava ficar com raiva dele. A culpa não era dele, era minha, toda e completamente minha. Eu que me apaixonei, mesmo não recebendo nenhum sinal de reciprocidade.

Não consigo me ver como ingênua. Não era a primeira vez que queria alguém, ou que eu me apaixonava, nunca tinha sido tão forte, mas não foi a primeira vez. Eu fui... iludida, eu mesma me iludi. Senti um forte suspiro saindo de mim. Eu acabei com uma amizade e afastei a única pessoa desse mundo que eu realmente me apeguei.

Quando levantei o olhar vi vários pontos distantes e lembrei do lago, as luzes do lago. Caminhei por mais alguns minutos e achei a agua translucida. Me sentei na margem e a lembrança voltou com tudo, as lágrimas vieram como companheiras. Primeiro achei que era ilusão, mas percebi as luzes aproximando devagar. Eram lindas, dançantes, fadas. Senti algumas pousando em mim e eu sorri.

-Nine!! – Olhei assustado pro lado e Capi estava ali, assustado e sorrindo – Estava preocupado! Você desapareceu.

-Eu corri, estou com vergonha. – Levantei rápido e me afastei - Não quero falar com você agora.

-Só quero que me escute um pouco certo? – Ele segurou minha mão, não sei de qual lugar tirei coragem para olha-lo nos olhos - Você me fez ver tudo que eu estava lutando para não enxergar. Nunca me senti apaixonado. Mas eu estou...

-Não, por favor para – Soltei a mão dele e me afastei mais - Não acredito que seja tão sádico assim. Eu já ouvi que gosta de outra, por que não me deixa sofrer sozinha?

-Eu estou apaixonado por você Nine.- Seu sorriso estava tão iluminado naquele momento, que esmo eu lutando para entender aquilo meu coração esquentou

-Por..mim? – eu estava sem entender nada – mas você...

-Eu sei o que eu disse, estava com medo. Nunca me senti assim. Eu precisava pensar. – Ele novamente segurou minha mão e me olhou nos olhos – Mas quando você sumiu, eu senti que era verdade. Nunca me senti tão preocupado com alguém.

Eu o senti me puxando para perto, e fui sem resistência. Antes que pudesse pensar em algo, estava beijando-o. Tudo em mim se iluminou novamente

Estávamos juntos ali. Os lábios dele passeavam nos meus e as mãos dele me apertavam contra ele cada vez mais. Senti que seriamos um, como almas juntando. Vidas enlaçando, eu achei um lugar que realmente queria ficar.

Saímos dali para a escola, de mãos dadas. Passamos a tarde na praia, onde eu o via sorrindo a todo momento, brincamos na água durante muito tempo. Não queria deixa-lo ir, mas ele precisava ver o pai dele e eu precisava dar a notícia a minha mãe. Que ficaria, estudaria na korkovado, terminaria meus estudos ali e quem sabe passaria minha vida ao lado dele.

Corri em direção a escola mas senti o mundo balançar. Eu não conseguia correr direito, estava tudo balançando, como se tivesse um terremoto, mas não temos terremotos no Brasil.

-Nine!!! – Ouvi Capi me chamar ao longe – Nine!

Abri os olhos devagar e automaticamente senti minha garganta seca. Eu estava com sede, muita sede. Vi alguns borrões a minha frente, ouvi a voz dele me chamar algumas vezes ate minha mente apagar de vez.

Acordei na enfermaria. Uma bonita enfermeira me atendia, ela tinha traços orientais, e me deu um sorriso quando viu que havia acordado

-Olá bela adormecida. - Ela me ajudou a sentar – Sou Kenpai, enfermeira responsável pela escola.

Você deve estar pensando: Foi uma simples paixão platônica. Eu analisando hoje os acontecimentos sei que sim. Sei que a culpa foi minha por beija-lo de surpresa e sei que ele nunca demonstrou interesse além de amizade. Mas eu me apaixonei, e eu o amei... Não na verdade eu ainda o amo. Acredito que por isso estou escrevendo isso tudo, para que independente do que aconteça. Meu sentimento por ele fique registrado.

-Oi – Minha mente estava voltando a funcionar devagar – Como vim parar aqui?

- Capí te trouxe – senti uma pontada no peito ao ouvir esse nome – Você se perdeu no sonho das fadas, chegou aqui desidratada. Você sumiu por dois dias inteiros.

-Sumi? – As coisas estavam se encaixando – Eu fiquei presa em um sonho, agora eu entendo.

-"Não vale a pena viver sonhando e se esquecer de viver " – Ela sorria com uma pontada de compaixão – Um grande bruxo disse isso.

As portas abriram devagar, e quem eu não queria ver nunca mais, de forma alguma estava ali entrando, com um ar preocupado. Capí sentou ao lado da minha cama, e eu só queria correr e me esconder. Nunca tinha sentido tanta vergonha. Kenpai tinha saído de fininho, porque quando procurei com os olhos pelo lugar ela não estava mais lá.

-Como você esta? – Ele parecia realmente preocupado

-Vou ficar bem. – Respondi sem conseguir encara-lo

-Me perdoe, eu não queria te magoar. Nunca pensei que..

-Não foi sua culpa – levantei o olhar e apertei as mãos com força e ver aqueles olhos castanhos me apertaram o coração – Eu me iludi sozinha. Você nunca deu sinal nenhum, eu não pensei.

-Mas...

-Sem mas, sem conversas – segurei as lagrimas – Eu errei, eu que preciso pedir perdão. E espero recebe-lo um dia. -Reuni todas as forças e o encarei – Espero que seja feliz, sinceramente eu quero que seja muito feliz. E tenho certeza que ela deve maravilhosa e merecedora desse sentimento. Não se culpe por mim, eu fui boba, eu não parei para pensar. Agora eu só quero ficar sozinha por favor.

O silêncio reinou or alguns segundos. Ele levantou-se devagar e beijou minha cabeça, não consegui segurar as lágrimas que rolaram aos montes enquanto ele saia devagar. Eu provavelmente nunca mais o veria.

Passei dois dias na enfermaria, e depois me despedi da escola. Não voltaria ali, tinha minha decisão tomada e iria para o mundo Azêmola de vez. Mal sabia eu que isso seria a perdição da minha casa. 

A menina e o filho do Fiasco Where stories live. Discover now