Destemperada

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Acordei cedo no sábado de manhã. Capí queria meditar cedo, e disse que ia me mostrar algo que me deixaria de queixo caído, bem mais que havia ficado com meu algodão doce enorme do parque. Então as seis da manhã eu já estava sentada em frente ao pé de cachimbo sentindo o cheiro de café saindo de lá. Ele saiu uns minutos depois segurando duas xícaras.

- Pra quem funciona só depois das nove – Ele me entregou a xicara.

-Acordo cedo o ano inteiro - segurei a xicara e inspirei o cheiro do café – nas minhas férias mereço uma folga.

-Meu corpo já acostumou-se a acordar cedo - ele sentou do meu lado – Não consigo ficar deitado ate tarde.

- Eu consigo – bebi um gole e senti aquela sensação boa que o café passa – De preferência até meio dia.

Ele sorriu e ficamos em mais um de nossos silêncios harmônicos enquanto tomávamos café. A floresta estava calma e o mar também. A brisa já estava morna mesmo aquela hora da manhã , e isso indicava um dia quente. Me deu uma vontade louca de ir pro mar, mas precisávamos meditar primeiro.

- Vamos lá aluno prodígio? – levantei entregando a xicara. – Você prometeu me mostrar algo de cair o queixo.

Ele me deu um sorriso maroto, um sorriso muito difícil de se ver e senti meu coração aquecer como o sol. Ele saiu e levou as xícaras para dentro. Acompanhei pela janela ele lava-las e deixar uma na mesa. Ele era a pessoa mais organizada e disposta que eu conhecia. Antes que eu chegasse tinha certeza que já tinha feito quase todos os serviços que eu sabia que precisava dar conta.

-Vamos lá senhorita? – Ele começou a caminhar em direção a floresta e eu acompanhei - Meditar e depois você vai ver uma das coisas mais lindas do mundo.

-Uau, espero que valha a pena mesmo – Pulei um galho e fiquei caminhando de costas de frente pra ele – Só não entendo esse mistério todo.

-Calma – Ele deu mais um sorriso e eu quase tropeço em uma raiz - A pressa é uma inimiga traiçoeira. Seja paciente.

Desisti de tentar descobrir algo com ele e fui caminhando para a clareira. Agora era um caminho muito conhecido, quase como se fosse o caminho da minha casa. Conhecia algumas arvores e sabia diferencia-las para não me perder.

Fizemos a rotina de meditação: Alongar, respirar, se concentrar e começamos. Como sempre fui invadida pela maravilhosa sensação de ser conectada a tudo ali. Mas minha concentração foi quebrada por barulho de cascos se aproximando.

Abri os olhos devagar e fiquei completamente impressionada com o que vi. Um unicórnio afagava a cabeça do Capí com o focinho, ele ria e acariciava a crina dele. Fiquei parada, queria poder guardar essa imagem pra sempre comigo. Com uma fotografia ou uma pintura. Não precisei disso, se eu fechar os olhos agora enquanto escrevo posso ver exatamente todos os detalhes, ate como a luz do sol incidia sobre os dois. Foi uma das coisas mais bonitas que vi na vida.

-Nine, conheça o Ewahz – Ele afagou mais uma vez o focinho do Unicórnio - Ewahz meu amigo, essa é Nine, minha nova amiga

Acenei de leve pro animal fascinada. Tinha certeza que deveria estar com uma expressão estranha e o queixo caído. Não me importei, esperei que Ewahz chegasse próximo e afaguei a crina macia dele. Era decididamente um animal belíssimo.

-Uau. Isso é realmente a coisa mais maravilhosa que eu já vi.

-Eu disse que você ia ficar impressionada. - Ele sorria e acariciava o animal

A menina e o filho do Fiasco Where stories live. Discover now