Capitulo 1

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2 anos depois.
Jessica

Acordo sobressaltada com o meu despertador. Assusto-me sempre quando isto acontece... De há dois anos para cá que eu não consigo ter um sono tranquilo.

Apoio-me nos meus cotovelos e olho para o meu relógio que se encontra em cima da cómoda: são 7 horas certinhas. Sento-me na cama com as pernas para fora e cobro a cara com as mãos. Tenho o ritmo cardíaco acelerado devido aos pesadelos que se têm tornado frequentes desde aquele dia... Isto é algo que me afeta bastante e, por mais que eu queira, não consigo encontrar uma forma de os fazer parar. E o mais estranho é que os pesadelos não mudam... todas as noites sonho com a mesma coisa.

Levanto-me e dirijo-me à janela. Ninguém sabe disto... Nem quero que saibam. Especialmente os meus amigos. Ouço passos vindos de fora do meu quarto- deve ser a minha mãe. Ela bate à porta e depois entra.

-Já estás de pé?- questiona, fechando a porta atrás de si.- Isto é que é vontade de ir para a escola.

Sorrio ligeiramente enquanto abro as portas do armário e escolho a minha roupa. A minha mãe abre a janela do meu quarto e depois senta-se na minha cama. Ela costuma fazer sempre isto. Diz que é a única forma de fazer com que eu me despache.

-Então.- torna.- Estás pronta para o teu primeiro dia de aulas?

Fungo.

-Nem por isso.

Abro uma gaveta e tiro de lá um par de calças e depois arranco uma T-shirt branca estampada da cruzeta. A minha mãe não diz nada- já sabe que eu não sou muito dada a falatório logo de manhã. Visto-me, fecho as portas do armário e descemos juntas para a cozinha para tomar o pequeno almoço.

Em cima da mesa da cozinha está um jornal é uma chavena de café com restos no fundo.

-O pai já saiu?- interrogo.

A minha mãe abana com a cabeça e eu sento-me em silêncio na cadeira enquanto ela põe à minha frente uma chavena de leite com chocolate é um prato com torradas. No meu bolso das calças sinto o meu telemóvel a vibrar. Tiro-o do bolso e vejo que o Jacob me está a ligar. Desligo a chamada e pouso o telemóvel em cima da mesa.

Depois do pequeno almoço torno a subir para acabar de me preparar e saio de casa um pouco mais cedo do que o normal. Vou a pé, com q mochila às costas e os auscultadores nos ouvidos. Hoje quero chegar mais cedo à escola para evitar a confusão habitual.

A meio do caminho, sinto uma mão a tocar no ombro. Visto-me, sobressaltada, e vejo a Liz, a minha melhor amiga. Ela fez-me sinal para tirar os auscultadores dos ouvidos.

-Bom dia!- exclama animada.

-Bom dia.

Retomamos o nosso caminho e eu guardo os auscultadores no bolso do meu casaco de couro.

-Hoje saíste de casa cedo...- declara ela.

-Sim, hoje não estou com paciência para ser empurrada à entrada da escola.

Ela assente com a cabeça e fazemos o resto do trajeto em silêncio. Ambas temos pouca tolerância para conversas matinais. Chegamos à porta da escola e vemos uma grande faixa pendurada na fachada do edifício que diz "Bem vindos, alunos!". Entramos dentro da escola e vagueamos pelos corredores à procura da nossa sala. Este é o meu segundo ano aqui, mas mesmo assim, ainda me sinto um pouco perdida nestes corredores largos, todos idênticos.

Quando conseguimos finalmente encontrar a sala, ficamos encostadas à parede a conversar, enquanto vemos o edifício enchendo de pessoas. Os alunos da minha turma vão chegando e nos cumprimentando, mas não chegam a meter conversa.

Eu conheci a Liz num momento complicado na minha vida. Tinha acabado de passar por uma experiência traumática, mudando de casa e de escola. A minha personalidade também sofreu uma mudança drástica- dantes eu não me preocupava com nada, desrespeitava as regras que me impunham, só queria sair e divertir-me com os meus amigos. Agora... Agora estou muito mais introvertida, não gosto de sair de casa e passo a vida a tentar controlar os meus ataques de ansiedade. A Liz foi a única pessoa que se esforçou para me conhecer.

A campainha toca e o professor de Filosofia entra na sala. Nós seguimo-lo e eu e a Liz vamos sentar-nos na última fila. Ficamos à espera que a turma se acalme e depois o professor começa a falar:

-Bom dia. Queria começar por saudar os alunos que aqui se encontram pela primei...

O professor é interrompido por alguém que bate à porta

-Senhor doutor- ouço uma funcionária do outro lado.- Bom dia. Era só para pedir à Jessica Beil para se dirigir ao gabinete do diretor.

Eu e a Liz entreolhamo-nos e eu levanto-me, pedindo depois licença para sair. Sigo a funcionária em silêncio, de mãos nos bolsos e coração aos pulos. O que será que eu fiz?

Chegamos perto do elevador e a funcionária carrega no botão para as portas se abrirem. Saímos no terceiro andar, e enquanto nós dirigimos ao gabinete, noto algum aparato por parte de alguns professores. Alguns olham para mim e depois comentam algo uns com os outros.

Paramos à porta do gabinete e a funcionária pede licença para entrar. Quando entro, vejo o diretor de pé, junto da sua secretária, acompanhado por dois policiais. Começo a ficar ainda mais nervosa.

-Olá Jessica.- o diretor afasta-se dos policias e senta-se na sua cadeira, fazendo depois sinal para eu me sentar também na cadeira à sua frente.- Peço desculpa pelo aparato, mas o que eu tenho para te dizer é muito importante.

Passo as mãos pelos joelhos enquanto fito os policias. Algo de mal deve estar prestes a acontecer.

O diretor inclina-se sobre a mesa e junta as mãos, preparando-se para me dar a notícia.

-Bom, a razão pela qual te chamei aqui são estes senhores...- aponta para os dois policias que me fitam.- Eles disseram que querem falar contigo sobre o que se passou há dois anos.

Engulo em seco.

-Outra vez?

-A verdade, menina Beil, é que a investigação vai ser reaberta e a polícia quer voltar a juntar-te com os teus amigos para tentarem chegar a uma conclusão.

Começo a sentir-me zonza. As imagens daquele dia invadem os meus pensamentos e eu tenho de morder os lábios e respirar fundo para não começar a chorar.

-Isso quer dizer que encontraram novas provas?- questiono a medo.

Um dos policias acena com a cabeça.

-E também quer dizer que vais ter de acompanhar estes senhores até Bonevalle.- torna o diretor.

-Agora?

-Agora.

Volto a engolir em seco.

-Eu peço desculpa, Jessica.- declara o outro polícia, mas eu não consigo olhar para ele.- Imagino que para ti isto deva ser complicado, mas pensa que assim vais estar a ajudar a Alice.

Cerro os punhos e respiro fundo. Penso na Alice e no resto do grupo. Há anos que eu não consigo ter um sono descansado por causa daquela noite. Por isso, se eu quero acabar de uma vez por todas com isto tudo, tenho de remexer nas memórias. Doa o que doer, eu vou descobrir o que se passou.

Olho para o diretor.

-Ok. Podem contar comigo.

urs0ulmate

The SuspectsOnde histórias criam vida. Descubra agora