Um relato atual

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Fazem três anos do diagnóstico para síndrome de asperger da minha filha, desde então, o neurologista recomendou que depois do diagnóstico as demais consultas fossem feitas a cada seis meses para acompanhar o desenvolvimento da nossa filha.

Lembro-me exatamente do momento em que recebi esse diagnóstico, eu sabia que havia algo de errado com a minha linda menininha, mas, quando não se tem um diagnóstico preciso e esclarecedor, a tendência de nós mães é nos culpar por tudo. Realmente o sentimento de culpa nos possuí de uma forma destrutiva e esse tempo que antecede o diagnóstico podem ser os piores momentos para os pais.

Cheguei inúmeras vezes à pensar que eu não era uma boa mãe, e de certa forma, muitas pessoas contribuíram para isso quando estavam sempre me dizendo o que fazer e como educar minha filha, porque segundo elas faltava-lhe limites.

A falta de informação de muitas pessoas podem levá-las à pensarem que essas crianças são mal-educadas e birrentas, entretanto, essa falta de habilidade social faz com que elas não entendam como as regras sociais funcionam e como devem se comportar e interagir.

Acreditem, uma mãe faz de tudo para garantir a segurança de seus filhos, para dar-lhes o melhor. Na tentativa desesperada de educá-la da melhor maneira que eu poderia, procurei fazer de tudo, pois, estabelecer limites e educar minha filha nunca foi uma tarefa fácil, mas, eu nunca desisti.

Quando digo tudo, é tudo mesmo! Benzer de bichas, susto, amarelão, surrar, deixar de castigo, levar na igreja, retiro, orações, bênção do padre, porém, nada parecia surtir algum efeito. Educá-la sempre foi uma tarefa difícil e cansativa, as opiniões alheias não me ajudavam e só aumentavam minha visão de que eu falhava como mãe.

Quando começamos a fazer acompanhamento com o neurologista, esse atendimento não era ofertado pelo sistema único de saúde (SUS) e tínhamos que pagar a consulta em um neuropediatra em uma outra cidade. Além da viagem e consulta era necessário fazer uma bateria de exames que custavam caro como: eletro encefalograma, ressonância craniana e um exame de sangue chamado cariótipo, que nada mais é, do que um estudo genético para envestigar alguma anomalia genética que pudesse indicar alguma alteração nos cromossomos.

Mas, as coisas ficaram bem difíceis quando passamos por uma crise financeira, não conseguimos mais pagar as consultas e não a levamos mais para as consultas com o neuropediatra.

Conforme o tempo foi passando algumas das características dessa síndrome foram amenizando, muitas pessoas num primeiro momento não enxergavam nada de diferente, pois, ela interage bem com seus colegas, embora do seu jeito, dorme bem, frequenta o ensino regular como uma criança normal.

Eu cheguei alguns momentos a ficar deprimida, pois, o pai não aceitava que ela fosse diferente e muitas vezes achei que eu estivesse ficando louca neurótica, como diz o ditado popular, vendo chifres em cabeça de cavalo.

Depois que não a levamos mais para fazer o acompanhamento com o neuropediatra, por algum tempo me desliguei disso tudo e passei a viver e encarar a rotina de criá-la como se ela não tivesse síndrome alguma. De certo modo, isso me permitiu respirar e levar a vida adiante com mais leveza, pois, as vezes parecia que eu estava adoecendo em encarar as dificuldades diárias sozinha, já que, para meu marido ela não tinha nada.

O diagnóstico veio quando ela tinha seis anos, estava no primeiro ano, mas, conseguiu ter uma professora que a auxiliava no segundo ano e apenas no quarto ano, ou seja neste ano de 2017, conseguiu atendimento com a psicóloga, que realizou um trabalho de orientação comigo, com suas professoras e a encaminhou para uma sala multifuncional em contra turno para trabalhar as suas dificuldades.

O atendimento veio tardio, mas, beneficiou à todos nós que estamos envolvidos com a educação dela, hoje ela tem oito anos, se adaptou bem na escola, tem amigos, interage bem com todos, é inteligente e criativa, gosta de desenhar, é carinhosa, ligada na tomada o tempo todo, mas, mesmo com suas peculiaridades posso dizer que ela é uma criança normal.

Relatos de uma mãe AspergerOnde histórias criam vida. Descubra agora