Julgamento adiado

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Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo (2Co 5:10).
Enquanto escrevo, estamos nos aproximando do fim dos dois
mil anos desde a ressurreição do nosso Senhor Jesus. Vivemos no início das semanas finais, dos dias e momentos que antecedem o seu retorno. Jesus disse que saberíamos a época, mas não o dia ou a hora (Mt 24:32-36). Nós estamos vivendo nesta época.
A PRIMEIRA E A ÚLTIMA CHUVA
As Escrituras proféticas anunciavam como Deus revelaria sua glória de um modo poderoso no início e novamente no fim da era da Igreja, pouco antes da sua segunda vinda. Tiago descreveu isto: Sede, pois, irmãos, pacientes, até a vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas (Tg 5:7).
Observe que Tiago se refere à primeira e à última chuva. Em Israel, a primeira chuva caía e umidecia a terra seca no início da época de plantio. A terra, amolecida pela chuva, podia receber o grão, que poderia firmemente criar sua raiz. As últimas chuvas vinham pouco antes da colheita e eram mais apreciadas porque amadureciam o fruto e o desenvolviam.
Tiago usou a chuva física como uma comparação para
explicar o derramamento da glória de Deus. A primeira chuva caiu no dia de Pentecostes, como Pedro confirmou:
Mas o que ocorre é o que foi dito por intermédio do profeta Joel: E acontecerá que nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão. Mostrarei prodígios em cima no céu e sinais embaixo na terra: sangue, fogo e vapor de fumo. O sol se converterá em trevas, e a lua, em sangue, antes que venha o grande e glorioso dia do Senhor (At 2:16-20).
Pedro usou o termo derramarei. A terminologia para chuva pesada é "aguaceiro". Pedro poderia ter dito "choverá forte", mas ele utilizou termos apropriados para enviar a chuva. Quem melhor que Pedro para descrever o derramamento da glória de Deus, experimentado no dia de Pentecostes? Mas, essa descrição não é limitada ao que acabara de experimentar, pois ao mesmo tempo ele descreveu o derramamento da glória de Deus, anterior ao grande e temível dia do Senhor. O grande e temível dia do Senhor não se referia ao período de tempo no qual Pedro vivera, mas à segunda vinda de Cristo.
O Espírito de Deus fez, por meio de Pedro, o que havia feito tantas vezes antes: uniu dois períodos de tempo distintos na mesma mensagem profética ou Escritura. Sim, um grande derramamento do Espírito de Deus começou no dia de Pentecostes. Tiago chamou-o de primeira chuva. A glória de Deus se manifestou e se espalhou por onde o Senhor enviou Seus discípulos com o evangelho. Não houve nenhuma parte do mundo conhecido que não foi afetada.
Contudo, esse grande derramamento não aumentou continuamente. Ele foi acabando gradualmente e diminuiu quando os homens perderam sua paixão pela presença e pela glória de Deus. Em lugar do amor e temor que uma vez queimaram, estava a frieza, altar sem vida e de desejos egoístas. Afastados, muitos se tornaram ocupados com atividades religiosas e doutrinas que uma vez mais obscureceram o propósito para o qual Deus nos criou - caminhar com Ele.
UM TEMPO DE EGOÍSMO, MESMO NA LIDERANÇA
Essa fase de aumento e diminuição da presença e da glória de Deus poderia ser comparada ao período de tempo entre a liderança de Moisés e o Rei Davi. Nos dias de Moisés, os filhos de Israel vagaram no deserto durante anos, sob a glória manifesta de Deus. Os irreverentes foram julgados e encontraram a morte no deserto.
Mas a geração mais jovem temeu ao Senhor e o seguiu de todo o seu coração. Eles chegaram a possuir a Terra Prometida sob a liderança de Josué. Porém, foi também congregada a seus pais toda aquela geração; e outra geração após eles se levantou, que não conhecia o Senhor, nem tão pouco as obras que fizera a Israel. (Jz 2:10).
A desobediência dessa nova geração os conduziu de volta à escravidão e ao sofrimento. De tempos em tempos, Deus levantava homens ou mulheres como juízes para conduzi-los. Por meio desses líderes, fontes de reavivamento e restauração surgiam para o seu povo. Embora esses fortes líderes fossem levantados por Deus para conduzir o povo, a condição geral de Israel continuou piorando. Israel reagia aos seus juízes, não à Deus, pois as Escrituras nos dizem: Sucedia, porém, que, falecendo o juiz, reincidiam e se tornavam piores do que seus pais... (Jz2:19)
A cada geração que passava, o coração do povo escolhido de Deus se tornava cada vez mais frio até que chegou ao ponto mais baixo. Essa era a condição quando Eli foi sacerdote e juiz. Depois de julgar Israel por quarenta anos, o seu coração se tornou obscuro e a sua visão estava praticamente perdida.
Sob a autoridade de Eli, atuando como sacerdotes e líderes,
estavam seus dois filhos, Hofni e Finéias. A corrupção deles excedeu a de seu pai. Essa família de líderes ofendeu tanto a Deus, que Ele declarou: Portanto, jurei à casa de Eli que nunca jamais lhe será expiada a iniquidade nem com sacrifício nem com oferta de manjares (l Sm 3:14).
Tal liderança ofensiva foi a razão pela qual a nação atingiu seu ponto mais baixo. Em tempos passados, quando a nação se desviava, os líderes guiavam as pessoas de volta para Deus, mas esses líderes afastavam as pessoas por meio do seu persistente abuso de autoridade e perversão do poder.
Os filhos de Eli se envolveram em relações sexuais com as mulheres que se reuniam à porta do tabernáculo. Eles não apenas eram sexualmente imorais, mas também usavam sua posição de liderança para constranger à imoralidade as mulheres que tinham vindo buscar ao Senhor (1 Sm 2:22). Eles abusaram do poder da posição que Deus lhes havia dado para servir ao seu povo, e ao invés disso, usaram-no como um meio para satisfazer aos próprios desejos. Suas ações contrariaram grandemente o Senhor. Eli conhecia a imoralidade e a cobiça dos filhos, contudo, não os impediu de pecarem continuamente, nem os removeu das posições de liderança.
A segunda violação deles foi na questão das ofertas. Novamente usaram a autoridade concedida por Deus para satisfazer a própria cobiça, engordando a si mesmos com ofertas obtidas por meio de manipulação e ameaças.
JULGAMENTO ADIADO
Compare o pecado dos filhos de Eli com o pecado dos filhos de Arão, Nadabe e Abiú, que morreram quando levaram fogo estranho diante do Senhor. É difícil deixar de questionar porque os filhos de Eli não foram julgados com a morte tão rapidamente. O pecado deles era um desrespeito franco e total para com Deus, para com o seu povo e para com as suas ofertas. Então, por que eles não foram julgados da mesma maneira - com morte imediata no tabernáculo? A resposta se encontra no versículo seguinte:
O jovem Samuel servia ao Senhor, perante Eli. Naqueles dias, a palavra do Senhor era mui rara; as visões não eram frequentes. Certo dia, estando deitado no lugar costumado o sacerdote Eli, cujos olhos já começavam a escurecer-se, a ponto de não poder ver, e tendo-se deitado também Samuel, no templo do Senhor, em que estava a arca, antes que a lâmpada de Deus se apagasse (ISm 3:1- 3).
Observe o seguinte: a Palavra do Senhor era rara - Deus não
estava falando como Ele falava com Moisés. Onde sua Palavra é rara, também é rara sua presença.
A revelação já não era comum - a revelação é encontrada na presença do Senhor (Mt 16:17). Havia um conhecimento limitado dos caminhos de Deus devido à falta da sua presença.
Os olhos da liderança estavam tão obscurecidos, que eles não podiam ver - em Deuteronômio 34:7, nós encontramos: Tinha Moisés a idade de cento e vinte anos quando morreu. Não se lhe escureceram os olhos, nem se lhe abateu o vigor. Moisés nunca perdeu a visão porque caminhou no meio da glória de Deus e seu corpo foi preservado de problemas típicos da velhice. A lâmpada de Deus estava apagando devido à falta de óleo - a glória foi removida para tão distante, que a presença de Deus era apenas uma luz bruxuleante.
No caso dos filhos de Arão, a glória de Deus havia acabado de se revelar e era forte. Saiu fogo do Senhor e os consumiu, e eles morreram diante dele. A presença e a glória de Deus eram muito poderosas. Mas os filhos de Eli estavam envoltos na escuridão de uma liderança quase cega e pelas sombras lançadas por uma lâmpada fraca. A lâmpada de Deus estava quase se apagando. Restava somente um sinal da presença de Deus. A glória dele já se havia retirado. O julgamento imediato só se dá na presença da sua glória. Então, o julgamento deles não foi imediato - foi adiado.
MAIOR GLÓRIA - JULGAMENTO MAIS RÁPIDO
Esta verdade deve ser fixada em nossos corações. Embora mencionada anteriormente, agora ela é cada vez mais evidente. Quanto maior for a glória revelada de Deus, maior e mais rápido será o julgamento da irreverência! Sempre que o pecado entra na presença da glória de Deus, há uma reação imediata. O pecado e qualquer pessoa que intencionalmente o pratica serão destruídos. Quanto maior a intensidade de luz, menor é a chance das trevas permanecerem.
Imagine um auditório grande, sem janelas ou luz natural. A escuridão dominaria. Você não poderia ver a própria mão na sua frente. Então, risque um fósforo. Haveria luz, mas seria limitada. A maior parte da escuridão permaneceria inalterada. Acenda uma única luz de sessenta watts. A luz aumentaria, mas a escuridão e as sombras ainda permeariam a maior parte do grande auditório. Então, imagine que de alguma maneira fosse possível colocar uma fonte de luz tão poderosa quanto o sol nesse salão. Você adivinhou: toda a escuridão seria aniquilada, e a luz penetraria em cada fenda e em cada canto antes escuro.
Assim é quando a gloriosa presença de Deus é limitada ou rara. A escuridão é perpétua e não é confrontada. O julgamento é
adiado. Mas à medida que aumenta a luz da glória de Deus, também aumenta a execução do julgamento. Paulo explicou isso quando escreveu:
Os pecados de alguns homens são notórios e levam a juízo, ao passo que os de outros, só mais tarde se manifestam (l Tm 5:24).
O pecado irreverente de Ananias e Safira foi exposto pela intensa luz da glória de Deus, e então recebeu julgamento imediato. Isso explica porque muitos hoje, cujo pecado excede o de Ananias e Safira, têm escapado do julgamento imediato, apenas para esperar a punição adiada. Estes não são diferentes dos filhos de Eli. Continuam pecando, cegamente confortados porque não percebem que ainda serão julgados. "Não aconteceu nada", eles pensam com um suspiro de alívio. "Eu devo ser isento do julgamento de Deus. Ele faz vista grossa para o que eu faço." Esses indivíduos são confortados por um falso senso de graça e confundem a demora de julgamento da parte de Deus com a negação do julgamento.
Nós que vivemos na segunda metade do século vinte, temos testemunhado o pecado desregrado e irreprimido na igreja, não só entre os membros, mas entre os líderes também. Em meus últimos dez anos de viagens, raramente passam três semanas sem que eu ouça que um pastor, ministro, presbítero ou algum outro líder da igreja esteja envolvido em pecado sexual, normalmente com mulheres da sua própria igreja.
Meu coração também tem sido afligido pela manipulação e engano em relação aos atos de dar e recolher ofertas. Não apenas têm sido difundidas mentiras a respeito de ofertas como as de Ananias e Safira, mas várias vezes ouvi falar sobre a liderança ou os administradores desviando ou empregando mal o dinheiro da igreja. Eu ouvi dois contadores especialistas em ministérios de dois Estados diferentes abrirem seus corações para mim e minha esposa, sobre a cobiça e o engano que viam entre os ministros do evangelho. Um deles disse: "Se outro ministro entrar no meu escritório tentando achar um modo para conseguir mais dinheiro e escapar das leis fiscais, eu vou fechar o escritório".
Nós temos visto as ofertas serem motivadas pela cobiça e pelo desejo, ao invés de serem dadas por causa das pessoas. Paulo disse: Não que eu procure o donativo, mas o que realmente me importa é o fruto que aumente o vosso crédito (Fp 4:17). Bem diferente disto, tenho ouvido como os líderes são coniventes com os métodos de extrair a maior oferta possível do povo de Deus. Tenho visto o uso de cartas de manipulação, escritas por firmas de consultoria, contendo verdades distorcidas para adquirir dinheiro. Alguns desses consultores ainda se gabam sobre como a consideram uma ciência, e podem projetar exatamente qual será o retorno. Pedro advertiu que essa liderança surgiria nos últimos dias: E muitos seguirão as suas práticas libertinas [...] farão comércio de vós, com palavras fictícias [...] a sua destruição não dorme (2Pe 2:3).
Se este comportamento tivesse ocorrido na atmosfera encon- trada no Livro de Atos, o julgamento teria sido certo e rápido. Porém, o julgamento hoje está adiado, pois a lâmpada de Deus está escurecida. O último derramamento da glória de Deus ainda está por vir.
Salomão lamentou:
Assim também vi as pessoas receberem a sepultura e en- trarem no repouso, ao passo que os que frequentavam o lugar santo foram esquecidos na cidade onde fizeram o bem (Ec 8:10).
Ele disse que essas pessoas corruptas iam frequentemente
ao templo (igreja) e tinham boa reputação. É como se tivessem escarnecido de Deus por meio das suas ações e falecido sem julgamento aparente. A razão: o julgamento havia sido adiado.
Salomão continua:
Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal. Ainda que o pecador faça o mal cem vezes, e os dias se lhe prolonguem, eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus (Ec 8:11, 12).
Por que o bem sucede aos que temem a Deus? Porque julgamento adiado não é julgamento negado.
Nós somos advertidos pelos seguintes versículos: Irmãos, não
vos queixeis uns aos outros, para não serdes julgados. Eis que o juiz está às portas (Tg 5:9). O Senhor julgará o seu povo. Horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo (Hb 10:30, 31). Essas exortações foram escritas para os crentes, não para os pecadores nas ruas!
Os filhos de Eli se sentiam seguros em seu pecado. Talvez seus títulos ou obras para a igreja os tivessem seduzido. Talvez tenham julgado a si mesmos de acordo com o padrão ao seu redor. Qualquer que tenha sido o argumento, os filhos de Eli estavam enganados, pois acreditaram que a demora do julgamento de Deus
significava a ausência de julgamento. Essa corrupção da liderança apenas intensificou a decadência da condição espiritual deteriorada de Israel.
GRAÇA PERVERTIDA
Paulo tinha algumas dessas mesmas profecias sérias sobre a condição do homem para descrever os tempos em que nós estamos vivendo hoje. Ele escreveu:
Sabe, porém, isto: Nos últimos dias sobrevirão tempos difíceis; pois os homens serão jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, enfatuados, antes amigos dos prazeres do que amigos de Deus (2 Tm 3A).
A verdade mais sombria é que Paulo não está descrevendo para a sociedade, mas para a Igreja, pois continua: Tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto, o poder. Foge também destes (2Tm 3:5). Eles vão à igreja frequentemente, ouvem a Palavra de Deus, falam dela, vangloriam-se da graça salvadora do Senhor,
mas rejeitam o poder que poderia torná-los piedosos.
Qual é o poder que poderia torná-los piedosos? A resposta é simples: é a mesma graça de Deus da qual se vangloriam. Nos últimos vinte ou trinta anos, a graça ensinada em muitas das nossas igrejas não é a verdadeira graça, mas uma perversão dela. Este é o resultado de enfatizar demais a bondade de Deus e
negligenciar o temor para com Ele.
Quando a doutrina do amor de Deus não é equilibrada com
uma compreensão do temor de Deus, o resultado é o erro. Da mesma forma, quando o temor de Deus não é equilibrado com o amor de Deus, nós temos os mesmos resultados. É por isso que nós somos exortados a considerar a bondade e a severidade de Deus (Rm 11:22). Ambas são requeridas e sem elas nós ficaremos desequilibrados.
Em várias conversas e em muitos púlpitos, tenho ouvido crentes e líderes desculparem a desobediência, considerando todas as coisas cobertas pela graça ou o amor de Deus. A graça é imerecida e nos cobre, mas não da maneira como temos sido ensinados. Ela não é uma desculpa, é uma capacitação.
Esta falta de equilíbrio se infiltra em nosso pensamento, até que nos sentimos em completa liberdade para desobedecer a Deus sempre que for conveniente ou não nos trouxer vantagem. Mesmo quando pecamos, convencemos a nós mesmos e sossegamos nossa consciência com um encolher de ombros e o pensamento:
"A graça de Deus cobrirá isso, porque Ele me ama e compreende como a minha vida é dura. Ele quer que eu seja feliz, não importa o custo! Certo?"
Admitindo isso, nós normalmente não verbalizamos esse processo de pensamento, contudo, ele ainda existe. Isso é evidenciado pelo fruto desse raciocínio tão precisamente descrito por Paulo.
Embora a graça cubra, ela não é meramente uma cobertura. Ela vai além disso. A graça nos habilita e nos capacita a viver uma vida de santidade e obediência à autoridade de Deus. O escritor de Hebreus nos exorta: Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor (Hb 12:28). A descrição da graça aqui não é de cobertura ou de um tapete macio debaixo do qual se pode esconder tudo, mas a força que nos capacita a servir a Deus de maneira aceitável com a devida reverência e o piedoso temor. Ela é a essência do poder por trás de uma vida de obediência. É a autenticação ou prova da nossa salvação.
Para refutar, alguns podem argumentar: "Mas a Bíblia diz:
Pela graça sois salvos; isto não vem de vós, é dom de Deus"
(Ef'2:8,9). Sim, isto é verdade. É impossível, com nossa própria
força, vivermos uma vida digna da nossa herança no reino de Deus, pois todos pecamos e não alcançamos o padrão de justiça dele. Nenhum de nós jamais poderá se levantar diante de Deus e reivindicar que nossas obras, ações de caridade ou vidas retas obtiveram para nós o direito de habitar no reino dele. Todos nós transgredimos e merecemos queimar eternamente no lago de fogo.
A resposta de Deus para nossas imperfeições é o dom da salvação através da sua graça, um dom que não pode ser conquistado (Rm 6:23). Muitos na igreja entendem isso. Porém, nós temos falhado por não enfatizar o poder da graça, não apenas para nos redimir, mas também nos conceder capacidade para vivermos nossas vidas de uma maneira totalmente diferente. A Palavra de Deus declara:
Assim também a fé, se não tiver obras, por si só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé (Tg 2:77, 18).
Tiago não estava contradizendo Paulo. Ele estava esclarecendo a mensagem dele, declarando que a evidência de que uma pessoa recebeu a graça de Deus é uma vida de obediência ao Senhor. Essa graça não só cria um desejo de obediência reverente, como também a capacidade para permanecer nela. Uma pessoa
que constantemente desobedece à Palavra de Deus é alguém em quem não há fé ou nunca existiu fé verdadeiramente. Tiago continua:
Verificais que uma pessoa é justificada por obras, e não por fé somente (Tg 2:24).
Tiago introduziu esta declaração usando Abraão, o pai da fé, como exemplo: Não foi por obras que o nosso pai Abraão foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? (Tg 2:21) A fé foi comprovada por meio das ações de Abraão. Suas ações ou obras confirmaram que sua fé era perfeita.
E se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça (Tg 2:23).
No nosso idioma, a palavra "crer" foi reduzida ao reconhecimento mental da existência de alguma coisa. Multidões têm feito a oração do pecador porque foram movidas emocionalmente apenas para retornarem aos seus caminhos anteriores de desobediência. Elas continuam vivendo para si mesmas e confiam o tempo todo em uma salvação emocional desprovida de poder para transformá- las. Sim, elas crêem em Deus mas a Bíblia afirma: Crês, tu, que
Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem (Tg 2:19).
Que bem há em reconhecer Jesus Cristo quando não há mudança de coração, e consequentemente, nenhuma mudança de atitude?
As Escrituras retratam um significado muito diferente para a palavra "crer". Ela significa mais do que o reconhecimento da existência de Jesus; traz consigo a obediência à Palavra de Deus e à sua vontade. Isto está explicado em Hebreus 5:9: E, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem. Crer é obedecer, e obedecer é crer. A prova da fé de Abraão foi sua obediência correspondente. Ele ofereceu seu precioso filho para Deus. Nada, nem mesmo seu filho, significou mais para Abraão do que obedecer a Deus. Essa é a verdadeira fé. É por isso que Abraão é honrado como o pai da fé (Rm 4:16). Nós vemos essa mesma fé e graça evidente em nossas igrejas hoje? Como nós fomos tão enganados?
"DEUS É COMO NÓS"
Eli e seus filhos não enganaram somente o povo de Israel, mas eles mesmos também foram enganados. Estavam com a consciência cauterizada e acreditaram que Deus fazia vista grossa para sua desobediência, pensando que estava de acordo com eles. Eles o mediram pelo que sabiam e viam.
Paulo continuou descrevendo pessoas na igreja de hoje, que não têm o poder para se tornarem piedosos. Mas os homens perversos e impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados (2 Tm 3:13).
Seu discernimento profético é confirmado hoje. Aos líderes corruptos e falsos crentes na igreja, Deus declara:
Mas ao ímpio diz Deus: De que te serve repetires os meus preceitos e teres nos lábios a minha aliança, uma vez que aborreces a disciplina e rejeitas as minhas palavras? Se vês um ladrão, tu te comprazes nele e aos adúlteros te associas. Soltas a tua boca para o mal, e a tua língua trama enganos. Sentas-te para falar contra teu irmão e difamas o filho de tua mãe (Sl 50:16-20).
Deus pergunta: "Por que você está pregando minha Palavra quando você não me teme nem me obedece? Por que você engana os outros e a si mesmo?" Ele diz a eles:
Tens feito estas cousas e me calei; pensavas que eu era teu igual: mas eu te arguirei e porei tudo à tua vista (Sl 50:21).
Deus disse: "Eu me calei". O julgamento estava demorado, mas não seria negado, pois o Senhor assegurou: "Eu te arguirei e porei tudo à tua vista". Lembre-se, a ordem divina precede a glória revelada. Uma vez que a glória é revelada, a desordem recebe julgamento imediato para assegurar a preservação da ordem divina. Deus prometeu àqueles cujo julgamento está aguardando: "Saiba, sem dúvida, de que haverá ordem, pois Eu a trarei".
Observe que a consciência dos desobedientes é que os conforta em seu comportamento irreverente. Eles acreditam que Deus está de acordo com eles. Reduzem a imagem da glória de Deus ao nível de homem corruptível!
Povo de Deus, ouça suas palavras de misericórdia! Vocês podem dizer: "Palavras de misericórdia? Eu pensei que você estivesse falando de julgamento. Não, na pregação profética e escrita, Deus procura nos advertir para nos guardar do seu julgamento. A mensagem dele é, pois, uma mensagem de misericórdia!
DEUS TEM UM REMANESCENTE
Pelo Espírito de Deus, Paulo viu a glória manifesta dele diminuir até alcançar novamente o ponto mais baixo. Os dias que antecedem o segundo derramamento presenciariam exatamente esse mesmo clima espiritual. Os sacerdotes e o povo estariam corrompidos. Paulo profeticamente lamentou:
Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos (2Tm 4:3).
É triste dizer, mas nós estamos vivendo estes dias. Muitos pastores e ministros parecem ter o desejo de atrair multidões acima do desejo de preservar a justiça. Têm medo de pregar a verdade com coragem, preocupados com a possibilidade de pôr em risco tudo o que se esforçaram tanto para construir. Assim, falam para as pessoas o que elas querem ouvir e evitam a confrontação.
Os resultados são devastadores. Os pecadores vêm às nossas congregações sem convicção do pecado e sem consciência do que significa retidão. Muitos desses indivíduos confusos supõem que são salvos, quando, de fato, não são. Ao mesmo tempo, alguns ministros procuram o favor e as recompensas do homem sem considerar o favor de Deus, enquanto os crentes piedosos clamam: "Onde está Deus?" Pior de tudo, enquanto nossa sociedade permanece cativa pelas trevas, a Igreja é olhada com desdém. A Igreja realmente não pode ajudar a sociedade porque está infectada e doente pela falta do temor do Senhor.
Qual é a resposta de Deus? Ela é encontrada na palavra 'remanescente' . Assim como Deus encontrou um remanescente que tremia diante de sua palavra para encher da sua glória na primeira chuva, assim também Ele vai encontrar um remanescente de crentes nestes últimos dias da última chuva, por meio dos quais Ele vai revelar a sua glória novamente. O tamanho ou o número desse grupo não é importante. Esses crentes amarão e obedecerão a Deus, não importa o custo para as suas próprias vidas. Há líderes, ministros e crentes por toda a Terra hoje que estão clamando por um derramamento como esse!

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