Glória transformada

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Pois quem nos céus é comparável ao Senhor? Entre os seres celestiais, quem é semelhante ao Senhor? Deus é sobremodo tremendo na assembléia dos santos e temível sobre todos que o rodeiam (Sl 89:6-7).
Antes de discutirmos o temor do Senhor, temos que ter uma idéia da grandeza e da glória do Deus que servimos.
O salmista, primeiramente, declara as tremendas maravilhas de Deus  e depois faz a exortação para temê-lo. O que ele disse, numa linguagem moderna, poderia ser: "Quem no universo pode se comparar ao Senhor?" Ele quer que nós meditemos na glória insondável de Deus, pois, como podemos respeitá-lo e honrá-lo devidamente se nós permanecemos inconscientes da sua grandeza ou do motivo pelo qual Ele merece isto?
FAMOSO, CONTUDO, DESCONHECIDO
Para explicar isso, vamos imaginar alguém que é famoso no país mais poderoso da Terra. Ele é um homem talentoso e culto. Todas as pessoas no seu país conhecem sua grandeza e fama.É um inventor com as mais excelentes e significativas contribuições científicas e descobertas conhecidas pelo homem. É o atleta mais excelente desse país. De fato, ninguém pode competir com ele em qualquer área da vida. Além de tudo isso, é o rei e um governante muito sábio.
Em todos os níveis e em todos os lugares do país, recebe um tremendo respeito e honra. Grandes desfiles e gloriosas recepções são oferecidas em sua honra.
Agora, o que aconteceria se esse rei viajasse para outro país, onde sua posição e grandeza fossem desconhecidas? Que tipo de recepção ele teria num país estranho, inferior, em todos os sentidos, ao seu grande país?
Embora os maiores homens daquele país estejam abaixo do nível desse governador, ainda assim esse nobre rei decide visitar aquele lugar, como um homem comum, sem vestes reais, sem sua comitiva de nobreza, força de segurança, conselheiros ou criados. Ele vai sozinho. Como será tratado?
Para simplificar, não será tratado de maneira diferente do que seria qualquer outro estrangeiro. Embora esse homem seja muito maior do que o mais poderoso homem da nação, receberá pouco ou nenhum respeito. Ele até mesmo poderá, ser tratado com desprezo, simplesmente porque é um estrangeiro. Suas invenções e descobertas científicas têm beneficiado grandemente
aquela nação; contudo, as pessoas ainda não o conhecem e, consequentemente, não lhe darão o respeito e a honra que ele merece.
Agora, veja o relato de João a respeito de Jesus, Emanuel, Deus manifestado em carne:
O "Verbo estava no mundo e o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo 1:10-11).
É muito triste que Aquele que criou o universo e o próprio mundo em que vivemos não tenha recebido as boas-vindas e a honra que merece. Ainda mais trágico, veio para os que eram , aqueles que o esperaram e conheciam sua aliança, aqueles a quem Ele havia libertado várias vezes pelo seu poder; contudo, não recebeu honra. Embora as pessoas falassem sobre sua vinda, frequentassem o templo regularmente com essa expectativa, e orassem pelas bênçãos que acompanhavam seus mandamentos, eles não o reconheceram quando Ele veio.
Seu próprio povo não reconheceu a grandeza daquele que professavam servir fielmente. Os israelitas não apenas eram ignorantes da grandeza do poder de Deus, mas também eram igualmente ignorantes da grandeza da sua sabedoria. Portanto, não é de se admirar que não tenham dado a Ele o temor ou a reverência que merecia. Deus explicou:
...Visto que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os seus lábios me honram, mas o seu coração está longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens... (Is 29:13)
Ele disse: Seu temor para comigo consiste só em
mandamentos de homens. Ele está dizendo que as pessoas tinham reduzido a glória do Senhor à glória do homem corruptível. Serviram a Deus na imagem que haviam criado, não segundo a verdadeira imagem de Deus, mas segundo seus próprios padrões.
TRANSFORMANDO A GLÓRIA DO DEUS INCORRUPTÍVEL
Isso não se limitou à geração de Jesus, embora se tenha estendido por todo o tempo durante a época dele. O mesmo erro se repetiu ao longo das gerações daqueles a quem foram entregues e supostamente confiados os oráculos de Deus.
Nós vemos essa irreverência demonstrada até mesmo na transgressão de Adão. Ele deu ouvidos à sabedoria da serpente: Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal (Gn 3:5).
... Ó Deus, quem é semelhante a ti? - o salmista pergunta no
Salmo 71:19. Assim, era inútil Adão pensar que ele ainda poderia ser como Deus, mesmo estando separado dele. Na vaidade da sua mente, Adão reduziu Deus ao nível de um mero homem.
Se você olhar o pecado dos filhos de Israel no deserto, você descobrirá a mesma raiz como a causa da sua rebelião. Seu temor de Deus foi moldado pela própria imagem errônea da sua glória.
Moisés subiu ao Monte Sinai para receber a Palavra de Deus. Vários dias se passaram, então o povo[...] acercou-se de Arão
(Êx 32:1). Sempre surgem problemas quando as pessoas se reúnem em sua própria sabedoria, apartadas do poder e da presença de Deus. Em vez de esperar que Ele dê as ordens, as pessoas se reúnem e tentam fazer algo para satisfazerem a si mesmas. O que apenas Deus pode prover é substituído por uma imitação temporária.
Eles tinham visto o poder de Deus se manifestar várias vezes; contudo, fizeram um bezerro de ouro. Hoje, isso pode parecer ridículo, mas não era tão ridículo para os israelitas. Por mais de quatrocentos anos, eles tinham visto objetos semelhantes no Egito. Era um aspecto familiar da cultura egípcia e, portanto, comum.
Uma vez feito, o bezerro de ouro foi trazido diante das pessoas que, de comum acordo, disseram: ...São estes, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito! (Êx 32:4) Então, uma proclamação foi feita pelo seu líder: ...Amanhã será festa ao Senhor(Êx 32:5). Para compreender o que estavam dizendo, temos de olhar a palavra hebraica para "Senhor", no versículo 5. E a palavra Yehovah, também conhecida como Jeová ou Yahweh. Esta palavra é definida como "Aquele que existe", o nome próprio do Deus verdadeiro.
Eles usaram o nome do único Deus verdadeiro. Este era o nome daquele sobre quem Moisés pregou, o nome daquele com quem Abraão tinha uma aliança, o nome daquele a quem nós servimos. Jeová não é usado para descrever nenhum dos falsos deuses na Bíblia. Este nome, Jeová ou Yahweh, era tão sagrado que mais tarde não foi permitido aos escribas hebreus escreverem a palavra por completo; eles omitiam as vogais intencionalmente em reverência à santidade do nome.
Assim, as pessoas, como também os líderes, apontaram para aquele bezerro dourado e o chamaram de Jeová, o Deus verdadeiro que os libertara do Egito! Não disseram: "Este é Baal, aquele que libertou vocês do Egito", nem usaram o nome de qualquer outro falso deus. Deram àquele bezerro o nome do Senhor, reduzindo, assim, a grandeza do Senhor a termos comuns e imagens finitas, com os quais eles estavam tão familiarizados.
É interessante notar que os israelitas ainda reconheceram que Jeová os libertara de sua escravidão. Não negaram o que Deus fez; apenas reduziram a grandeza a um nível com o qual estavam mais acostumados a lidar. A saída do Egito, no Velho Testamento, é um tipo que representa o sair do mundo e ser salvo, como ensina o Novo Testamento. Os acontecimentos naturais do Velho Testamento são tipos e figuras do que haveria de vir no Novo
Testamento.
SERVINDO A DEUS NAS IMAGENS QUE NÓS FIZEMOS
Agora veja o que Paulo escreve para nós, no Novo Testamento:
Porque os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são por isso indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato (Rm 1:20,21).
Note que eles não o glorificaram como Deus. Os filhos de Is- rael reconheceram a libertação de Jeová, mas não deram a Ele a honra, a reverência ou a glória que merecia. Bem, isso não mudou muito. Basta olhar para o que Paulo diz sobre as pessoas que viviam nos tempos do Novo Testamento, que não davam a Deus a reverência merecida:
e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da
imagem do homem corruptível (Rm 1:23).
Novamente nós vemos reduzida a imagem gloriosa do Deus verdadeiro. Desta vez não é reduzida a um bezerro, mas à imagem do homem corruptível. Israel estava rodeado por uma sociedade que adorava imagens de ouro à semelhança de animais e insetos. A igreja de hoje está rodeada por uma cultura que adora o homem.
Durante os últimos anos, esta declaração tem, constantemente, percorrido minha mente: "Nós servimos a Deus na imagem que nós temos feito".
Em minhas viagens a centenas de igrejas, tenho encontrado uma linha de pensamento que reduz a imagem e a glória de Deus à imagem de mero homem corruptível. Esta mentalidade permeia a igreja.
Há pessoas que são rápidas para reconhecer Jesus como
salvador, curador e libertador. Com aboca, reconhecem o senhorio de Jesus; contudo, reduzem sua glória ao nível de homem corruptível por meio das suas ações e atitudes do coração.
Elas dizem: "Deus é meu amigo, compreende o meu coração". É verdade que Deus compreende os nossos corações do modo mais completo do que nós mesmos podemos entender. Mas, normalmente, este comentário é emitido com o objetivo de justificar as ações que contradizem sua aliança. O fato é que estão
em desobediência à Palavra de Deus. Nas Escrituras, as únicas pessoas que eu vejo Deus chamar de amigos são aqueles que tremem com a sua Palavra, a Sua presença e são rápidos para obedecer, não importa o preço.
Portanto, Ele não recebe a honra e a reverência que merece, senão eles o obedeceriam imediatamente. Com seus lábios honram a Deus, mas seu temor para com Ele é ensinado por mandamentos de homens. Filtraram a Palavra de Deus e seus mandamentos por meio do seu próprio pensamento influenciado pela cultura. A imagem que eles têm da glória de Deus é formada por suas percepções limitadas, ao invés de ser formada pela sua verdadeira imagem, revelada por meio da sua Palavra viva.
Isso predispõe esses homens e mulheres a serem rápidos para criticarem a autoridade, como nossa sociedade é tão rápida em fazer. Nós temos programas de televisão, desde humor até programas de entrevistas, que constantemente criticam a autoridade. A mídia zomba da autoridade constituída e exalta o desobediente e o rebelde. Mas, e se a liderança é realmente corrupta? O que Deus diz a respeito disto? Ele diz: Não falará mal de uma autoridade do teu povo (At 23:5). Contudo, nós presumimos que Deus aprova a crítica à liderança corrupta
porque nós reduzimos sua resposta ao nível da nossa sociedade, reduzindo-o à imagem de homem corruptível, até mesmo em nossas igrejas.
Eu tenho ouvido líderes de igreja justificarem um divórcio com: "Deus quer que eu seja feliz". Eles, na verdade, crêem que sua felicidade tem primazia sobre sua obediência à Palavra de Deus e sobre a aliança que fizeram com Deus.
Um líder me falou: "John, eu decidi me divorciar da minha mulher porque nós não nos demos bem por dezoito anos. Nós não assistimos a filmes juntos nem fazemos coisas divertidas. Você sabe que eu amo Jesus, e se eu não estiver fazendo a coisa certa, Ele me mostrará". Por que Deus nos concederia uma audiência particular com ele, quando nós ignoramos o que já declarou?
De alguma maneira, esses indivíduos têm distorcido as palavras de Jesus para justificarem uma exceção para eles mesmos. É como se Jesus dissesse: "Quando disse na minha Palavra que odiava o divórcio, isto não se aplica a você. Eu quero que você seja feliz e tenha um cônjuge com quem você possa se divertir. Vá em frente e consiga o divórcio. Se for errado, você pode se arrepender mais tarde".
Este é o modo como a nossa sociedade pensa. Nossas pala- vras não ditas declaram: "O preto e branco existem para os outros, mas para mim, é cinza. É errado para os outros porque isto não me afeta, mas se obedecer torna minha vida desconfortável, então
estou isento de obedecer!"
Quando isto é feito individualmente, também será feito na
coletividade. Assim, não é surpreendente que na igreja a glória de Deus seja reduzida ao grau de homem corruptível, da vida de pessoas que constituem a liderança da igreja às mensagens pregadas no púlpito.
Que tipo de mensagem esta redução da glória de Deus trans- mite à congregação? Ela diz: "Deus não quer dizer isso ou fazer o que Ele diz". Então, nós nos perguntamos por que o pecado corre solto entre nós e por que o temor de Deus foi perdido. Não é de se admirar que os pecadores se assentem passivamente em nossos bancos e não se arrependam com nossa pregação. Não é de se admirar que a frieza prevalece em nossas "igrejas baseadas na Bíblia". Também não é de se admirar que as viúvas, os órfãos, os homens e as mulheres encarcerados e os doentes sejam neglicenciados pelos crentes.
Frequentemente, as mensagens que nós pregamos durante os últimos vinte anos nos púlpitos e nas rádios têm dado a Deus a aparência de "Papai Noel do céu", cujo desejo é nos dar tudo o que queremos e quando queremos. Isto gera uma obediência de vida curta por motivos egoístas. Pais que criam seus filhos desta
maneira acabam tendo crianças mimadas. Crianças mimadas não têm o verdadeiro respeito à autoridade, especialmente quando não conseguem o que querem e quando querem. Sua falta de reverência pela autoridade as leva a ficarem facilmente ofendidas com Deus.
Como podemos ver a reverência ser restaurada, quando temos nos afastado tanto da sua glória? Como a obediência pode prevalecer quando a desobediência e a rebelião são consideradas normais? Deus vai restaurar seu santo temor no seu povo e os trará de volta para si, para que possam lhe dar a verdadeira glória e honra que é digno de receber. Ele prometeu: Porém, tão certo como eu vivo e como toda a terra se encherá da glória do Senhor (Nm 14:21).
Quanto maior for a nossa compreensão da grandeza de Deus, maior será a nossa capacidade para temê-lo ou reverenciá-lo.

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