Vento do Céu

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"Você acha que o Rei dos reis e Senhor dos senhores vai entrar em um lugar
onde Ele não recebe a honra e a reverência que merece?"

Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo (Lv 10:3).
Era apenas o décimo dia do ano de 1997. Naqueles poucos dias já havia estado na Europa e na Ásia para ministrar. Estava muito empolgado, quando novamente tomei um avião, dessa vez
para a América do Sul. Eu nunca estivera no Brasil e sentia-me honrado por ter sido convidado para falar em uma conferência nacional, que seria realizada em três das maiores cidades do país. Depois de viajar a noite toda, fui recebido no aeroporto por alguns líderes muito ansiosos e cheios de expectativa. Eles haviam esperado muito por aquelas reuniões, e o entusiasmo deles me reavivou.
O primeiro culto seria realizado naquela mesma noite em Brasília, capital do país. Depois de algumas poucas horas de descanso, eu e o pr. Gary Haynes, meu intérprete, fomos apanhados no nosso hotel e levados à reunião. Havia uma grande aglomeração de carros no estacionamento e nas imediações, e eu pude ver que a reunião teria muitas pessoas. Quando nos aproximamos do edifício, pude ouvir a música que vinha através das janelas de ventilação, entre o alto da parede e o teto. Minha própria ansiedade e expectativa aumentaram quando ouvi as canções de louvor familiares, cantadas em português.
Uma vez dentro do auditório, fui conduzido diretamente à plataforma. O local, que comportava cerca de quatro mil pessoas, estava repleto. A plataforma parecia balançar com músicas de louvor de alta intensidade e de qualidade muito boa, pois os
músicos eram qualificados e tocavam com harmonia. As canções também eram excelentes, e os líderes eram dotados de vozes muito boas. Apesar de tudo, percebi rapidamente uma completa ausência da presença de Deus. Quando corri os olhos pela multidão e pelos músicos, pensei: "Onde está Deus?" Imediatamente perguntei: "Senhor, onde está tua presença?"
Enquanto esperava pela resposta do Senhor, prestei atenção ao que estava acontecendo no edifício. Pelas luzes brilhantes da plataforma, eu podia ver as pessoas se movendo para todos os lados. Muitos em pé e de olhos abertos procuravam alguma coisa ou alguém no auditório. Outros pareciam estar desinteressados, de mãos nos bolsos ou simplesmente inertes. Toda a postura das pessoas e seus semblantes davam a impressão de uma multidão indiferente, esperando pacientemente pelo início de um show.
Alguns conversavam e outros perambulavam pelos corredores, entrando e saindo do auditório. Eu comecei a me entristecer. Aquilo não era um culto evangelístico, mas uma conferência para crentes. Sabia que podia haver alguns entre os presentes que não eram crentes; contudo, também sabia que a maioria deles, naquela multidão desinteressada, era "cristã". Aguardei alguns momentos na esperança de que as pessoas entrariam em verdadeira reverência ao Senhor. Eu pensei: "certamente este clima vai mudar". Mas não mudou. Depois de vinte ou trinta minutos, o ritmo das músicas tornou-se mais lento, o que
chamamos de "canções de adoração". Porém, o que eu presenciava estava longe de uma verdadeira adoração. Aquele mesmo comportamento desinteressado que havia observado quando entrei no auditório, havia permanecido durante o culto.
Quando o período de louvor terminou, parecia ter passado mais de uma hora, mas, de fato, foram menos de quarenta minutos.
Os presentes foram convidados a se assentar, mas o ruído subjacente da conversação descuidada continuou. Um dos líderes pegou o microfone para exortar as pessoas, porém, elas continuaram a conversar. O líder leu a Bíblia e ensinou. O tempo todo eu ouvi o ruído surdo de muitas vozes falando ao mesmo tempo e muitas pessoas se movendo dentro da congregação. Também notei que muitos não prestavam atenção ao pregador. Mal podia acreditar no que estava presenciando. Frustrado, me voltei para o pr. Gary Haynes e perguntei-lhe se aquele comportamento era normal nos seus cultos.
Ele compartilhou do meu desagrado. "Às vezes, eu tenho que me dirigir às pessoas e pedir-lhes que, por favor, prestem atenção", ele sussurrou. Naquele momento, eu estava ficando irado. Eu já havia estado em outras reuniões onde as pessoas se
comportaram daquele modo, mas nunca a tal ponto. Em cada uma dessas reuniões eu tinha encontrado uma atmosfera espiritual semelhante - opressão e vazio da presença de Deus. Agora, sabia que minha pergunta "Senhor, onde está sua presença?" havia sido respondida. Certamente a presença de Deus não estava ali.
Então, o Espírito de Deus me disse: "Eu quero que você con- fronte isto diretamente".
Quando finalmente fui apresentado, o murmúrio havia diminuído, mas ainda estava presente. Caminhei até o púlpito e fiquei ali, encarando a multidão. Estava determinado a não dizer nada até que obtivesse a atenção deles. Sentia uma ira santa queimando dentro do meu peito. Depois de um minuto, todos se calaram percebendo que algo estava acontecendo na plataforma. Não me apresentei nem cumprimentei a multidão. Ao invés disso, iniciei com esta pergunta: "Como você se sentiria se, enquanto você fala com uma pessoa, ela o ignora o tempo todo ou continua conversando com outra pessoa ao lado? Ou se a outra pessoa desviasse os olhos com desinteresse e desrespeito?"
Fiz uma pausa e, então, respondi minha própria pergunta: "Você não iria gostar disto, iria?"
Eu continuei a sondagem: "E se cada vez que tocasse a cam- painha para visitar a casa de um vizinho, você fosse recebido com uma atitude desinteressada e um suspiro de monotonia: oh, é
você novamente; entre?"
Parei novamente, e então acrescentei: "Você não o visitaria
mais, visitaria?"
Então, declarei firmemente: "Você acha que o Rei dos reis e
Senhor dos senhores vai entrar em um lugar onde não recebe a devida honra e reverência? Você acha que o Mestre de toda a criação irá falar quando a sua Palavra não é respeitada o bastante para ser ouvida atentamente? Se você acha que sim, você está enganado!"
Continuei: "Hoje à noite, quando entrei neste lugar, não senti a presença de Deus em nada. Nem no louvor, nem na adoração, nem na exortação e nem durante a oferta. Há uma razão: o Senhor nunca está onde não é reverenciado. Até o presidente do país receberia todas as honras se estivesse nesta plataforma esta noite, por simples respeito ao seu cargo. Se eu estivesse aqui com um dos seus jogadores de futebol favoritos, muitos de você estariam sentados à beira dos seus assentos, prestando toda atenção. Vocês estariam cheios de expectativa e ouviriam cada palavra que ele falasse. Contudo, quando a Palavra de Deus foi lida alguns momentos atrás, vocês mal a ouviram, porque a avaliaram levianamente".
Eu continuei, fazendo uma leitura sobre o que Deus requer daqueles que se aproximam dele:
Mostrarei a minha santidade naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo (Lv 10:3).
Durante uma hora e meia, preguei a mensagem que Deus fazia arder no meu coração. As palavras vinham com coragem e autoridade, sem medo do que as pessoas pensariam nem como elas reagiriam.
"Se eles me mandarem embora deste país amanhã, eu não me importo; prefiro obedecer a Deus", disse a mim mesmo - e estava falando sério.
Você poderia ouvir um alfinete caindo nos momentos de silêncio entre cada uma das minhas afirmações. Durante uma hora e meia não houve nenhum ruído na multidão. Não havia mais desrespeito. O Espírito de Deus havia prendido a atenção das pessoas pela sua Palavra. A atmosfera estava mudando a cada instante. Podia sentir a Palavra de Deus batendo nos corações endurecidos.
No final da minha mensagem, pedi a todos os presentes para fecharem os olhos. O chamado para arrependimento foi claro e breve: "Se você tem tratado como comum o que Deus chama santo, se tem vivido com urna atitude irreverente para com as
coisas de Deus, e se hoje à noite você foi convencido pelo Espírito Santo, por meio da sua Palavra, você está pronto a se arrepender diante do Senhor? Se está, fique em pé". Sem hesitar, 75% dos que estavam presentes se colocaram de pé.
Curvei minha cabeça e fiz esta oração simples e sincera em voz alta: "Senhor, confirma a tua Palavra pregada hoje, à noite, a estas pessoas".
Imediatamente, a presença do Senhor encheu aquele auditó- rio. Embora não tivesse conduzido a congregação em oração, podia ouvir a multidão caindo em choro e soluço. Era como se uma onda da presença de Deus tivesse varrido o auditório, trazendo limpeza e refrigério. Não era possível que todos os presentes viessem ao altar; assim, dirigi uma oração de arrependimento que poderia ser repetida de onde estavam. Via as pessoas enxugando as lágrimas que escorriam. A maravilhosa presença de Deus permanecia ali.
Depois de alguns minutos, a sensação da presença de Deus diminuiu. Eu encorajei as pessoas a não perderem a atenção no seu Mestre. Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros (Tg 4:8).
Alguns momentos se passaram, e outra onda da presença de
Deus inundou o auditório. Havia mais lágrimas, pois o pranto se intensificou. A presença de Deus era ainda mais abrangente dessa vez, e mais pessoas foram tocadas pelo Mestre. Isso durou alguns minutos e, então, novamente diminuiu. Eu exortei as pessoas a não se distraírem entre as ondas de manifestação, mas a manterem seus corações atentos.
Alguns minutos depois, ouvi o Espírito de Deus sussurrar no meu coração: "Eu estou voltando mais uma vez". Imediatamente senti isso e disse: "O Espírito de Deus está voltando novamente!"
O que escrevo agora de modo algum pode representar, com precisão, o que aconteceu logo depois. Minhas palavras são tão limitadas, e Deus é tão tremendo! Também não vou exagerar, pois isso seria irreverente. Consultei três outros líderes que estavam presentes para esclarecer e confirmar o que descrevo a seguir.
No mesmo instante em que pronunciei a palavra "novamen- te", aconteceu o seguinte: a única maneira que poderia descrever isso é comparando como se eu estivesse a uns cem metros do fim de uma pista, com um enorme jato vindo em minha direção. Isso descreve o rugido do vento que soprou imediatamente sobre aquele auditório. Quase simultaneamente, as pessoas irromperam em fervorosa e intensa oração, com suas vozes elevando-se e reunindo-se num clamor uníssono.
Quando ouvi o rugir do vento pela primeira vez, pensei que um jato estivesse passando bem em cima do edifício. De maneira
alguma queria atribuir a Deus algo que Ele realmente não estivesse fazendo. Minha mente rapidamente tentou se lembrar da distância do aeroporto. Mas não ficava perto daquele edifício, e durante duas horas não houve nenhum som de avião sobrevoando aquele local.
Eu me voltei para o Espírito e percebi que podia sentir a pre- sença de Deus de uma maneira tremenda, e que as pessoas estavam explodindo em orações. Certamente isso não era uma reação ao som de um avião passando por cima do prédio.
Se fosse um avião, teria que estar voando numa altitude de não mais do que cem metros sobre o edifício para provocar um barulho tão forte como aquele. E além disso, não poderia ouvir um ruído tão forte, acima do estrondo de três mil pessoas orando ruidosamente.
O som que eu ouvi era muito mais alto e claramente superava todas as vozes. Mesmo com isso resolvido em minha mente - que o vento era o vento do Espírito Santo - não disse nada.
Não queria transmitir uma informação inexata ou tentar seduzir as pessoas com afirmações fervorosas de manifestação espiritual. O rugido desse vento durou aproximadamente dois
minutos. Quando diminuiu, deixou no seu rastro pessoas que oravam e choravam. A atmosfera ficou impregnada de reverência santa. A presença do Senhor era muito real e poderosa.
O resultado tremendo da sua presença ainda perdurou por quinze ou vinte minutos. Passei o púlpito para o líder e pedi para ser levado embora imediatamente. Muitas vezes, permaneço no local e converso com as pessoas depois de um culto, mas, naquele momento, qualquer conversa casual parecia imprópria. Os líderes me pediram que me reunisse com eles para o jantar, mas recusei. Ainda trêmulo pela presença de Deus, respondi: "Não, eu apenas quero voltar para o meu quarto no hotel".
Eles me levaram até o carro. Voltei para o hotel acompanhado pelo pr. Gary Haynes, Ludmila Ferber e seu marido, que eram os líderes. Aquela mulher era uma cantora que já havia gravado e sua música era popular no país.
Ela entrou no carro chorando: "Vocês ouviram o vento?"
Eu respondi depressa: "Aquilo era um avião". (Embora
sentisse no meu coração que não era, queria a confirmação e estava determinado a não ser o primeiro a dizer alguma coisa).
"Não", ela declarou e balançou a cabeça, "era o Espírito do Senhor".
Então, seu marido, um homem que achei ser muito quieto e reservado, firmemente afirmou: "Não havia nenhum avião em qualquer lugar perto do edifício".
"Realmente!"- eu exclamei.
Ele continuou: "Além disso, o som daquele vento não passou pela caixa de ressonância, não houve nenhuma leitura na caixa, nem registro de qualquer ruído". Permaneci calado, em profunda reverência.
Mais tarde, descobri a razão daquele homem ter tanta certeza de que o vento que nós ouvimos não tinha sido causado por uma aeronave.
Havia seguranças e policiais fora do prédio, que informaram ter ouvido um som poderoso que vinha lá de dentro. Do lado de fora, não houve vento, mas apenas outra tranquila noite brasileira.
Sua esposa continuou, com lágrimas rolando pela face: "Eu vi ondas de fogo que caíam pelo edifício e anjos em todos os lugares!"
Mal podia acreditar no que escutava. Tinha ouvido essa mes- ma descrição feita por um ministro dois meses antes, durante as reuniões na Carolina do Norte. Havia pregado sobre o temor do Senhor, e a presença de Deus caiu poderosamente sobre aquela reunião - mais de cem crianças choraram copiosamente durante uma hora. Uma ministra visitante falou para o pastor que ela
havia visto ondas de bolas de fogo caindo sobre o edifício. Isso também havia sido confirmado por três membros do coral.
Naquele momento, só queria estar a sós com o Senhor. Uma vez na privacidade do meu quarto do hotel, tudo que queria fazer era adorar e orar.
Estava programado para eu ministrar em mais um culto antes de partir para o Rio de Janeiro. Dessa vez, quando entrei no auditório, a atmosfera estava totalmente diferente. Podia sentir que o respeito pelo Senhor havia sido restaurado. A música não era meramente boa e sem a presença de Deus; era maravilhosa, ungida, e a presença do Senhor era doce.
Davi diz: Entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor (SI 5:7). Toda verdadeira adoração é ancorada em uma reverência da sua presença, pois Deus diz: [...] e reverenciareis o meu santuário: Eu sou o Senhor (Lv 19:30).
Naquele segundo culto, muitos receberam libertação e cura. Outros que estavam aprisionados pela amargura e tinham abrigado ofensas foram libertos. Onde o Senhor é reverenciado, sua presença se manifesta - e onde a sua presença se manifesta, as necessidades são supridas.
Agora nós podemos entender a insistência de Davi: Temei o Senhor, vós os seus santos, pois nada falta aos que o temem (Sl
34:9).
Esta é a mensagem que você tem em suas mãos hoje - o temor do Senhor, nestas páginas, nós vamos procurar, com ajuda do Espírito Santo, não somente o significado do temor do Senhor, mas o que é caminhar nos tesouros da sua verdade. Nós vamos aprender sobre o julgamento que recai sobre nós quando há falta do santo temor, como também sobre os benefícios gloriosos encontrados no temor de Deus.
Há pessoas que são rápidas para reconhecer Jesus como salvador, curador e libertador. Contudo, reduzem a sua glória ao nível dos homens corruptíveis por meio das suas ações e atitudes do coração.

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