A habilidade para ver

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Uma pessoa que teme a Deus, treme com a sua Palavra e na sua presença.

Quem dera eles tivessem tal coração, que me temessem, e guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos, para sempre! (Dt 5:29)
Nós sempre ouvimos mensagens extraídas da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Frequentemente se faz referência a esse livro da Bíblia, especialmente em grupos onde há manifestações do Espírito. A igreja dos Coríntios foi estabelecida aproximadamente no ano 51 depois de Cristo (muitos anos depois do dia de Pentecostes) e era muito aberta e, portanto, grandemente beneficiada pelos dons espirituais. A unção do Espírito Santo era forte entre os seus membros, não diferente de algumas de nossas igrejas hoje.
A Segunda Epístola de Paulo à igreja de Corinto não é mencionada com tanta frequência quanto a primeira. Essa carta contém uma ênfase maior sobre a ordem divina, o temor do Senhor e a subsequente restauração da glória de Deus. Se percebermos o contexto, veremos que essa carta contém uma mensagem forte e empolgante para os crentes de hoje. Ao examinarmos uma porção dela, devemos ter em mente que a Segunda Carta aos Coríntios foi escrita para pessoas cuja unção não era estranha e que frequentemente exercitavam os dons espirituais.
A GLÓRIA DA VELHA ALIANÇA X A GLÓRIA DA NOVA ALIANÇA
Nas duas as cartas de Paulo aos Coríntios, ele se referia frequentemente à saída dos filhos de Israel do Egito e à revelação da glória de Deus a eles no deserto. A experiência deles também diz respeito a nós, pois tudo que aconteceu aos israelitas no sentido natural eram tipos e figuras do que nós experimentaríamos na realidade espiritual. Paulo enfatiza isto:
Estas cousas lhes sobrevieram como exemplos, e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os fins dos séculos têm chegado (1 Co 10:11).
A Primeira Carta de Paulo trata de muitos elementos fundamentais da ordem divina do coração para o povo de Deus. Sua Segunda Carta foi ainda mais profunda. Ele prossegue falando sobre o desejo de Deus de revelar sua glória e habitar no coração do seu povo. Paulo começa comparando a glória de Deus no deserto com a sua glória revelada na Nova Aliança.
Fazendo um contraste, ele escreve:
E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito! (2 Co 3:7, 8)
No monte, Moisés contemplou a forma do Senhor e falou com Ele como um homem fala com seu amigo. Quando desceu do monte, Moisés cobriu sua face porque o brilho dela amedrontou as pessoas. O semblante de Moisés refletia que ele estivera na presença da glória de Deus.
Na Nova Aliança, o plano de Deus não é refletir sua glória em nós, mas que sua glória seja vista em nós! Uma coisa é refletir algo, mas é outra coisa bem diferente permanecer nela e emiti-la! Este é o alvo final de Deus! É por isto que Paulo disse:
Porquanto, na verdade, o que, outrora, foi glorificado, neste respeito, já não resplandece, diante da atual sobreexcelente glória (2Co 3:10).
Embora a glória da Velha Aliança não se compare com a glória da Nova, a Velha ainda era tão tremenda que Paulo reitera: Para que os filhos de Israel não atentassem na terminação do que se desvanecia (v. 13). Entretanto, logo a seguir Paulo lamenta:
Mas os sentidos deles se embotaram (2Co 3:14).
Como é trágico que eles não pudessem ver justamente algo de que precisavam tão desesperadamente. Paulo nos adverte para não nos tornarmos cegos nem cairmos no mesmo dilema.
Assim, nós devemos perguntar: "Como suas mentes ficaram embotadas?" A resposta traz o conhecimento e a sabedoria que desesperadamente nos falta: aquilo que nos falta é necessário para que nós andemos na glória de Deus! Para obter nossa resposta, devemos retornar à estrutura de tempo que Paulo discutiu.
TEMOR DE DEUS X MEDO DE DEUS
Israel havia acabado de sair do Egito e foi conduzido por Moisés ao Monte Sinai, onde Deus revelaria a sua glória.
Disse também o Senhor a Moisés: Vai ao povo e purifica-os hoje e amanhã. Lavem eles as suas vestes e estejam prontos para o terceiro dia; porque no terceiro dia o Senhor, à vista de todo o povo, descerá sobre o Monte Sinai (Êx 19:10,11).
Esta mensagem era profética, pois ela também fala dos nossos dias. Antes de Deus manifestar a sua glória, o povo deveria santificar-se. Isso incluía lavar suas roupas. Lembre-se de que um dia para o Senhor é como mil anos. Já se passaram quase dois mil anos (dois dias) desde a ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Deus disse que durante aqueles dois mil anos (dois dias), a igreja dele deveria se consagrar ou se apartar do mundo, em preparação
para a sua glória. Nossas vestes deverão estar limpas da imundície do mundo (2Co 6:16; 7:1). Deveremos nos tornar sua noiva sem mácula. Depois de dois mil anos, Ele novamente manifestará sua glória.
Agora leia o relato do que aconteceu na manhã do terceiro dia:
Ao amanhecer do terceiro dia, houve trovões, e relâmpagos, e uma nuvem espessa sobre o monte, e mui forte clangor de trombeta, de maneira que todo o povo que estava no arraial se estremeceu. E Moisés levou o povo fora do arraial ao encontro de Deus; e puseram- se ao pé do monte. Todo o Monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente (Êx 19:16-18).
Deus não só se manifestou através de visão, mas também por meio de voz e som. Quando Moisés falou, Deus respondeu-lhe para que todos ouvissem. Muitas vezes, hoje, nos referimos a Deus como a um amigo, de uma maneira descuidada como se Ele fosse quase um camarada. Se nós pudéssemos vislumbrar o que Moisés e os filhos de Israel viram, poderíamos ter uma mudança
significativa de visão. Ele é o Senhor e Ele não mudou! Leia cuidadosamente a reação do povo quando Deus veio:
Todo o povo presenciou os trovões e os relâmpagos, e o clangor da trombeta, e o monte fumegante; e o povo, observando, se estremeceu e ficou de longe. Disseram a Moisés: Fala-nos tu, e te ouviremos; porém, não fale Deus conosco, para que não morramos. Respondeu Moisés ao povo: Não temais; Deus veio para vos provar, e para que o seu temor esteja diante de vós, a  fim de que não pequeis (Êx 20:18-20).
Observe que o povo tremeu e se afastou. Eles não quiseram mais ouvir a voz audível de Deus, nem quiseram ver ou estar na presença da sua glória - eles não podiam suportá-la.
Moisés rapidamente os advertiu: Não temais... encorajando- os a voltarem à presença de Deus, quando explicou que Ele tinha vindo para prová-los.
Por que Deus nos prova? Para descobrir o que está em nossos corações? Absolutamente, não. Ele já sabe o que está escondido em nossos corações. Ele nos prova para que possamos saber o que está em nossos corações. Qual era o propósito do teste para os israelitas? Para eles saberem se temiam ou não. Se eles o temessem, eles não pecariam. O pecado sempre resulta do nosso afastamento de Deus.
Moisés disse: Não temais. Então, disse que Deus tinha vindo para que o seu temor estivesse diante deles. Este versículo faz uma distinção entre ter medo de Deus e temer a Deus. Moisés temia a Deus, mas o povo não. É uma verdade infalível: se não tememos a Deus, ficaremos com medo dele, na revelação da sua glória, pois todo joelho se dobrará a Ele, se não for por piedoso temor, então será por terror (2Co 5:10,11).
O povo estava de longe, em pé; Moisés, porém, se chegou à nuvem escura, onde Deus estava (Êx 20:21).
Veja a diferença nas reações à manifestação da glória de Deus: Israel se afastou, mas Moisés se aproximou. Isso ilustra as diferentes reações dos crentes, hoje.
SEMELHANTE EM MUITAS MANEIRAS
É importante perceber que os israelitas não eram tão diferentes da nossa igreja moderna. Todos saíram do Egito, o que tipifica a salvação. Todos experimentaram e foram beneficiados com os milagres de Deus, como muitos na igreja. Todos experimentaram a libertação dos seus opressores, o que muitos têm experimentado hoje na igreja.
Eles ainda desejavam seu velho estilo de vida, se fosse
possível tê-lo sem a escravidão a que anteriormente estavam submetidos. Quão frequentemente nós vemos isto na igreja, hoje. As pessoas são salvas e libertas, todavia, seus corações nunca abandonam o estilo de vida do mundo, embora esse estilo de vida as conduza à escravidão.
Eles passaram pela experiência de receber a riqueza do ímpio, que Deus havia depositado sobre o justo. A Bíblia registra: Fez sair o seu povo, com prata e ouro...(Sl 105:37). Porém, eles utilizaram essa bênção de Deus para construir um ídolo! Nós não fazemos o mesmo, hoje? Nós ouvimos falar de milagres financeiros, e muitas vezes aqueles que são mais abençoados, acabam dedicando seu afeto e suas forças às bênçãos materiais e financeiras, em vez de se dedicarem ao Senhor que os abençoou. Eles experimentaram o poder curador de Deus, pois quando deixaram o Egito, a Bíblia registra: E entre as suas tribos não havia um só inválido (SI 105:37). Isso é até melhor do que as maiores cruzadas de milagres hoje. Moisés deixou o Egito com três milhões de pessoas fortes e saudáveis. Você pode imaginar uma cidade de três milhões de habitantes, sem nenhum doente e nenhum hospital? Os israelitas tinham servido aos egípcios, debaixo de sofrimento, por quatrocentos anos. Imagine as curas e os milagres que aconteceram quando eles comeram o cordeiro da
Páscoa!
A salvação de Deus, a cura, as obras milagrosas e o poder de
libertação não eram estranhos aos israelitas. Na realidade, eles comemoravam apaixonadamente sempre que Deus se movia milagrosamente a seu favor. Eles dançavam e louvavam a Deus, bem parecido com nossos cultos carismáticos ou com cultos de milagres cheios do Espírito (Êx 15:1,20). É interessante notar que os israelitas se aproximavam para suas manifestações milagrosas, porque eram beneficiados com elas, mas ficavam assustados e se afastavam quando a glória de Deus era revelada!
Até que ponto somos diferentes, hoje? Ainda nos aproximamos dos milagres. As pessoas ainda viajam muitos quilômetros e dão grandes ofertas, esperando receber porções dobradas de Deus em cultos de milagres. Mas, o que acontecerá quando a glória de Deus for revelada? Os corações serão expostos na presença gloriosa de Deus. Podemos viver com o pecado encoberto ao redor do milagroso, mas o pecado não pode se esconder à luz da revelação da glória de Deus.
O QUE CEGOU O POVO
Quarenta anos depois, a geração mais velha havia morrido
no deserto, e Moisés repetiu as leis para uma nova geração que havia surgido, no monte onde Deus revelara a sua glória.
Sucedeu que, ouvindo a voz, do meio das trevas, enquanto ardia o monte em fogo, vos achegastes a mim, todos os cabeças das vossas tribos e vossos anciãos, e dissestes: Eis aqui o Senhor, nosso Deus, que nos fez ver a sua glória e a sua grandeza, e ouvimos a sua voz do meio do fogo; hoje, vimos que Deus fala com o homem, e este permanece vivo. Agora, pois, por que morreríamos? Pois este grande fogo nos consumiria; se ainda mais ouvíssemos a voz do Senhor, nosso Deus, morreríamos [...] Chega-te e ouve tudo o que disser o Senhor, nosso Deus; e tu nos dirás tudo o que te disser o Senhor, nosso Deus, e o ouviremos e o cumpriremos (Dt 5:23-27).
Eles clamaram: "Nós não podemos nos aproximar da sua presença gloriosa, nem podemos permanecer diante dele e continuar vivos." Queriam que Moisés ouvisse por eles e prometeram ouvi-lo e fazer qualquer coisa que Deus dissesse para fazer! Tentaram viver nesse padrão por milhares de anos, mas não podiam obedecer às palavras de Deus. Até que ponto somos diferentes, hoje? Recebemos a Palavra de Deus através do nosso pastor e dos pregadores, mas nos retiramos do monte de Deus? Ficamos com medo de ouvir a sua voz que revela a condição dos nossos corações? Esta atitude do coração não é nem um pouco diferente da atitude dos filhos de Israel.
Moisés ficou muito desapontado com a reação de Israel. Ele
não conseguia compreender a sua falta de fome da presença de Deus. Como podiam ser tão tolos? Como podiam ser tão cegos? Moisés trouxe suas preocupações diante de Deus, na esperança de obter um remédio para essa condição. Mas veja o que aconteceu:
Ouvindo, pois, o Senhor as vossas palavras, quando me faláveis a mim, o Senhor me disse: Eu ouvi as palavras deste povo, que te disseram: em tudo falaram eles bem. (Dt 5:28)
Eu estou certo de que Moisés ficou chocado com a resposta de Deus. Ele deve ter pensado: "O quê? O povo está certo? Por uma vez eles estão realmente certos! Eles realmente não podem entrar na presença de Deus. Por quê?" Deus o interrompeu com a resposta:
Quem dera que eles tivessem tal coração, que me temessem, e guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles e a seus filhos, para sempre! (Dt :29)
Deus lamentou: Oh, quem dera tivessem tal coração que me temessem... Todos poderiam ter sido como Moisés, refletindo a
glória de Deus e conhecendo os seus caminhos, se possuíssem corações que temessem a Deus, como Moisés! Mas os corações permaneciam obscurecidos e as mentes, cegas para não verem exatamente aquilo de que eles precisavam tão desesperadamente.
O que os cegou? A resposta é clara: não tinham corações que temiam ao Senhor. Isso foi comprovado pela sua desobediência aos mandamentos e à Palavra de Deus. Se nós compararmos Moisés com os filhos de Israel, veremos a diferença entre aquele que teme a Deus e aquele que não o teme.
TREMENDO COM A PALAVRA DE DEUS
Uma pessoa que teme a Deus, treme com a sua Palavra e na sua presença (Is 66:2 e Jr 5:22). O que significa tremer da Palavra de Deus? Tudo pode ser resumido em uma declaração: obedecer a
Deus voluntariamente, até mesmo quando parece mais vantajoso comprometer sua Palavra e não obedecê-la.
Nossos corações devem estar firmemente estabelecidos no fato de que Deus é bom. Ele não é um abusador de crianças. Uma pessoa que teme a Deus sabe disso, porque conhece o caráter de Deus. É por isso que a pessoa vai se aproximar de Deus, mesmo quando os outros se afastam dele com terror.
Essa pessoa percebe que qualquer dificuldade imediata ou iminente entregue na mão de Deus, no final, surtirá bons efeitos. A maioria concordaria mentalmente com isso, porém, nos tempos de sofrimento o que nós acreditamos é claramente revelado. Só então nós veremos nossa fé como ela é, pela luz do fogo das provações.
Os sofrimentos que Israel enfrentou expuseram o conteúdo dos seus corações. Examinemos suas diferentes reações à Palavra de Deus: os filhos de Israel obedeciam à Palavra de Deus, contanto que vissem o benefício imediato. Mas, no momento em que eles sofriam ou já não podiam mais ver os benefícios, perdiam a visão de Deus e reclamavam amargamente.
Durante séculos, Israel havia orado e clamado pela libertação dos seus opressores egípcios. Eles desejaram retornar para a Terra Prometida. Deus enviou-lhes o libertador, Moisés. O Senhor disse a Moisés: Por isso, desci a fim de livrá-los da mão dos egípcios, e para fazê-los subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel (Êx 3:8).
Moisés foi à presença do Faraó e proclamou as palavras de Deus: Deixa ir o Meu povo. Mas Faraó respondeu aumentando o sofrimento deles. Já não iriam providenciar nenhuma palha para a imensa quantidade de tijolos que os escravos israelitas deveriam produzir. Teriam que juntar a palha à noite e trabalhar durante o dia. O número total de tijolos não podia diminuir, embora a palha tivesse sido removida. A Palavra de Deus de liberdade havia aumentado seu sofrimento. Reclamaram dessa opressão e disseram a Moisés: "Deixe-nos sozinhos e pare de pregar para o Faraó; você está tornando nossa vida pior."
Quando Deus finalmente os libertou do Egito, o coração do Faraó estava endurecido novamente e ele perseguiu os israelitas no deserto com suas melhores carruagens e guerreiros. Quando os hebreus viram que o Egito havia se reunido contra eles e que estava entre eles e o Mar Vermelho, eles reclamaram novamente. Não é isso o que te dissemos no Egito: deixa-nos, para que sirvamos os egípcios? Pois melhor nos fora servir os egípcios do que morrermos no deserto (Êx 14:12).
Observe as palavras: Pois melhor nos fora. Em essência, eles estavam dizendo: "Por que nós deveríamos obedecer a Deus, quando Ele está apenas tornando nossas vidas miseráveis? Estamos em pior situação; não melhor". Eles eram rápidos para comparar seu estilo de vida anterior com a sua presente condição. Sempre que as coisas não se equilibravam, os israelitas queriam voltar. Eles desejavam o conforto acima da obediência à vontade de Deus. Oh, como lhes faltava o temor de Deus! Eles não tremiam da Palavra de Deus.
Deus dividiu o mar, os filhos de Israel atravessaram em terra seca e viram seus opressores encobertos pela água. Celebraram a bondade de Deus, dançaram e louvaram diante de Deus. Estavam
certos de que nunca mais poderiam duvidar da sua bondade! Mas não conheciam os seus próprios corações. Outro teste surgiria e novamente exporia sua infidelidade. Três dias depois reclamaram novamente, dizendo que não queriam água amarga, queriam água doce (Êx 15:22-25).
Com que frequência fazemos a mesma coisa? Queremos palavras suaves e agradáveis, quando o amargo é o que é necessário para nos purificar das impurezas. Por isso, Salomão disse: Mas à alma faminta todo amargo é doce (Pv 27:7).
Alguns dias se passaram e os filhos de Israel se queixaram novamente da falta de comida. Eles disseram: Quem nos dera tivéssemos morrido pela mão do Senhor na terra do Egito (Êxl6:1- 4). Você pode ver como eles estavam se comportando de maneira religiosa?
Mais uma vez os israelitas reclamaram da falta de água (Êx 17:1-4). Reclamavam sempre que encontravam uma nova dificuldade. Se a situação lhes parecesse boa, mantinham a Palavra de Deus. Mas se obediência significasse sofrimento, os israelitas rapidamente reclamavam.
UM CORAÇÃO DIFERENTE
Moisés era bem diferente. Seu coração já havia sido provado muito tempo antes. A Bíblia nos diz:
Pela fé, Moisés, quando já homem feito, recusou ser chamado filho da filha de Faraó, preferindo ser maltratado junto com o povo de Deus, a usufruir prazeres transitórios do pecado; porquanto considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão (Hb 11:24-26).
Os filhos de Israel não escolheram a escravidão. Moisés foi presenteado com o melhor de tudo que o mundo poderia oferecer, mas recusou tudo para sofrer aflição com o povo de Deus. Sua atitude era bem diferente da atitude dos filhos de Israel. Eles quiseram voltar para o Egito (o mundo), esquecendo rapidamente a opressão. Apenas se lembravam que haviam se deleitado nas coisas que lhes faltavam agora no deserto da provação de Deus. Moisés escolheu o sofrimento ... porque contemplava o galardão. Que galardão ele estava procurando? Encontramos a resposta em Êxodo, capítulo 33:
Disse o Senhor a Moisés: Vai, sobe daqui, tu e o povo que tiraste da terra do Egito para a terra a respeito da qual jurei a Abraão, a Isaque e a Jacó, dizendo: à tua descendência a darei. Enviarei o anjo diante de ti; lançarei fora os cananeus, os amorreus, os heteus, os ferezeus, os heveus e os jebuseus. Sobe para uma terra que mana leite e mel; eu não subirei no meio de ti, porque és povo de dura cerviz, para que não te consuma eu no caminho (Êx 33:1-3).
Deus disse para Moisés descer e levar o povo à terra que Ele tinha prometido, a mesma terra que tinham esperado, por centenas de anos, receber por herança. Deus prometeu para Moisés até mesmo a escolta de um anjo escolhido, sendo que Ele não os acompanharia.
Mas Moisés respondeu rapidamente: Se a tua Presença não vai comigo, não nos faça subir deste lugar (Êx 33:15).
Eu me alegro que a opção de entrar na Terra Prometida sem Deus não tenha sido colocada diante dos filhos de Israel. Se pudessem ter escolhido uma vida confortável no Egito, ao invés de Deus, certamente teriam escolhido a Terra Prometida. Provavelmente teriam feito uma festa e partido sem pensar duas vezes! Mas como Moisés não tinha fixado sua visão na Terra Prometida, sua resposta foi diferente.
Moisés disse: "A promessa não é nada sem a sua presença!" Ele recusou a oferta de Deus porque sua recompensa era a
presença do Senhor. Pense na posição de Moisés quando respondeu: Não nos faça subir deste lugar. Onde era "este lugar"? O deserto!
Moisés vivia sob as mesmas condições que o resto de Israel. Não era dotado de habilidades sobre-humanas que o isentavam dos sofrimentos que o restante de Israel experimentava. Tinha sede e fome igual a eles, contudo, nós nunca o vemos reclamar como os outros. A ele foi oferecido um "escape" desse sofrimento e a oportunidade de ir para a terra dos seus sonhos, mas recusou.
Um método que Deus usará para nos testar é fazer-nos uma oferta que espera que recusemos. A oferta, inicialmente, pode prometer um grande sucesso, mas, a que preço? Pode até mesmo parecer que o nosso ministério se expandirá e irá além. Mas no profundo do nosso coração, sabemos que escolher aquela determinada coisa, seria contra o desejo máximo de Deus. Somente aqueles que tremem da Palavra de Deus escolheriam aquilo que parece menos benéfico.
Em 2 Reis, capítulo 2, Elias falou três vezes para Eliseu permanecer onde estava. Cada ordem era outro teste. Teria sido mais fácil para Eliseu ficar, mas insistiu: Tão certo como vive o Senhor e vive a tua alma, não te deixarei (2Rs 2:2). Ele sabia que a recompensa celestial era mais importante do que o seu conforto temporário!
SEMELHANTE POR FORA, DIFERENTE POR DENTRO
Exteriormente ou fisicamente, não podemos observar diferença entre Moisés e os filhos de Israel. Eles eram todos descendentes de Abraão. Todos haviam deixado o Egito sob a intervenção do poder sobrenatural de Deus. Todos estavam na posição de herdeiros das promessas de Deus. Todos professavam conhecer e servir a Jeová. A diferença estava oculta nos recantos internos dos seus corações. Moisés temia a Deus; então, tinha percepção do coração de Deus e dos seus caminhos. Mas pelo fato de os filhos de Israel não temerem a Deus, ficaram cegos e a sua compreensão foi obscurecida.
Hoje não é diferente. O cristianismo se tornou quase um clube. Você se lembra bem do que é um clube desde que era criança. Você se associou a um clube por causa da necessidade de pertencer. Na segurança de um clube, você estava unido aos outros sócios por causa de um interesse ou causa comum. É bom se sentir parte de algo maior que você. O clube estava por trás de você e lhe dava um senso de segurança.
Há muitos que professam ser cristãos, mas não temem a Deus mais do que aqueles que nunca puseram os pés na igreja. Como sócios protegidos do clube do cristianismo, por que eles
deveriam ter medo? Aliás, até os demônios tremem mais que algumas pessoas que estão nas igrejas. Tiago advertiu aqueles que professavam a salvação, mas que não tinham temor de Deus: Crês tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios crêem e tremem! (Tg 2:19)
Essas pessoas vêm às nossas igrejas, trabalham nas equipes de ministério e pregam nos púlpitos. Vêm de todas as posições sociais, desde os guetos até a vida excêntrica de Hollywood. Confessam salvação e amam as promessas de Deus, mas são míopes e não temem a Deus como os filhos de Israel.
Judas, irmão do Senhor, previu esse dia e advertiu que as pessoas iriam frequentar nossas igrejas e professar a salvação pela graça de Deus, por causa da sociedade no clube do cristianismo. Eles iriam frequentar as reuniões dos crentes e participar sem temor, o tempo todo servindo apenas a eles mesmos (Jd 12).
Em Mateus 7:21-23, Jesus disse que haveria aqueles que expulsariam demônios e fariam outras maravilhas em seu nome, chamando-o de Senhor e Salvador, porém, seriam negligentes na sua vida de obediência à vontade de Deus. Jesus descreveu essa condição como "joio que cresce no meio do trigo". Você não consegue dizer facilmente qual a diferença entre o trigo e o joio. Da mesma maneira que Israel, o fogo da presença gloriosa de Deus vai expor, finalmente, o conteúdo de cada coração. Essa será
a condição para a igreja entrar na época da colheita (Mt 13:26). Malaquias profetizou que nos últimos dias Deus enviaria uma voz profética, como Ele fez com Samuel, Moisés e João Batista, para preparar o seu povo para a sua glória. Porém, não seria apenas um, mas muitos mensageiros proféticos. Esses mensageiros surgiriam com tal unidade de propósito que falariam como um só homem, clamando aos que estão sendo enganados
para se voltarem ao Senhor de todo o coração.
Assim, a ordem divina será restaurada no coração do povo
de Deus. Esses profetas não são mensageiros de julgamento, mas de misericórdia. Através deles, o Senhor chama os seus para escaparem do juízo. Diz Malaquias:
Eis que eu envio o meu mensageiro que preparará o caminho diante de mim; de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais [...] Mas quem pode suportar o dia da sua vinda? E quem pode subsistir quando ele aparecer? Porque Ele é como o fogo do ourives e como a potassa dos lavandeiros (Ml 3:1,2).
Malaquias não está descrevendo o arrebatamento da igreja. Ele diz que o Senhor virá ao seu templo, e não para o seu templo.
Oséias disse que após dois mil anos o Senhor viria a nós, o seu templo, como a última chuva. Isso fala da glória de Deus manifesta. Malaquias pergunta, então: Mas quem pode suportar o dia da sua vinda? E quem subsistirá quando ele aparecer? Os dois profetas confirmam que esse evento não é o arrebatamento da igreja.
Malaquias responde a sua própria pergunta, apresentando dois resultados da presença gloriosa de Deus. Primeiro, ela vai refinar e purificar os que o temem (Ml 3:16-17). Segundo, vai julgar os corações daqueles que dizem que o servem, mas na realidade não o temem (vv. 3:5 e 4:1). Depois dessa purificação, ele nos diz:
Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso,
entre o que serve a Deus e o que não o serve (Ml 3:18).
Antes que a glória se manifeste, você não pode distinguir uma pessoa que serve a Deus de outra que meramente oferece um culto de lábios ao Senhor. A hipocrisia não pode se esconder da luz da glória de Deus. A mentalidade de clube finalmente vai acabar. Isso nos ajuda a compreender melhor a firme advertência de Jesus para os crentes do Novo Testamento:
Digo-vos, pois, amigos meus: Não temais os que matam o
corpo, e, depois disso nada mais podem fazer. Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: Temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a esse deveis temer (Lc 12:4, 5).
O temor de Deus nos impede de seguir o caminho destrutivo do engano. Moisés disse que o temor de Deus no coração do seu povo é a força para viver livre do pecado (Êxodo 20:20). Salomão escreveu: Pelo temor do Senhor os homens evitam o mal (Pv 16:6). Jesus advertiu os crentes com um propósito específico e precedeu a sua exortação sobre o temor de Deus com uma advertência sobre a armadilha enganosa da hipocrisia:
Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido (Lc 12:2).
Quando nós encobrimos ou escondemos o pecado para proteger nossa reputação, colocamos um véu sobre os nossos corações. Pensamos equivocadamente que esse véu nos faz parecer puros quando, na verdade, não estamos puros. Isto finalmente conduz à hipocrisia. Assim, não apenas enganamos os
outros, mas também a nós mesmos (2Tm 3:13). Como os filhos de Israel, estamos cegos e não podemos ver.
O temor de Deus é a nossa única proteção contra a hipocrisia. Não vamos esconder o pecado em nossos corações porque vamos temer a Deus mais do que as opiniões dos homens mortais. Vamos nos importar mais com o que Deus pensa de nós do que com o que os homens pensam. Vamos nos importar mais com os desejos de Deus do que com o nosso conforto temporário. Vamos considerar a sua Palavra mais valiosa do que a dos homens. Vamos voltar os nossos corações para o Senhor! E Paulo diz:
Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu lhe é retirado (2Co 3:16).

O Temor do SenhorOnde histórias criam vida. Descubra agora