Até o amanhecer

Rafael Carvalho

A sua expressão me fez estremecer , não sabia o que estava acontecendo .

Luna , o que aconteceu ?- peeguntei com medo da resposta .

Ele ...- ela não conseguiu terminar a frase e desmaiou nos meus pés , foi ali que percebi que a situação era mais grave do que eu pensava , enquanto os pais dela a socorriam , um policial chegou por trás e pegou no meu ombro .

O senhor deve ser o irmão da vítima .- ele disse .

Vítima ? Policial com todo o respeito mas o que está acontecendo ?- perguntei nervoso .

Assim que suas palavras sairam minha mãe caiu em desespero logo atrás de mim enquanto ela e meu pai se abraçavam e choravam desesperadamente .

Eu não fiz nada , não chorei , não me desesperei , nem me descontrolei , apenas me sentei e fiquei encarando a parede branca da delegacia que o único que atrapalhava aquela parede branca descascando era um simples bebedouro .

A encarei por segundos mas parecia horas , como assim ele morreu ? Não era possível , eu falei com ele aquela manhã , ocorreu tudo bem , ele estava saindo para ir trabalhar e falou para não o esperar pois depois do trabalho ia ir direto pra casa da Luna . Eu e ele nos acertamos , somos irmão e nenhuma garota mudaria isso , mesmo que fosse a mulher que eu ainda amava , mas me conformei , eles estavam felizes não era eu que atrapalharia o amor deles . Ele chegou perto de mim e apenas sorriu , me abraçou e disse que poderia contar com ele pra tudo que era pra isso que os irmãos mais velhos serviam . Parecia que ele estava pressentindo .

Uma lágrima caiu pelo meu rosto e antes que mais caíssem me levantei , falei com a minha mãe e fui ver os preparos para o enterro , sei que é cedo demais , mas meus pais estavam muito atordoados e queria poupar-los de preparar o enterro do filho mais velho . Fui para casa e achei uma funerária 24 horas e liguei pra lá , preparei tudo para hoje a tarde , o enterro aconteceria as cinco da tarde , e então fui dormir ou tentar .

Levantei pois não havia pregado o olho o resto da noite , olhei o relógio era oito da manhã , fui no quarto dos meus pais e minha mãe finalmente conseguiu dormir . Sentei nos seus pés e fiquei observando meus pais dormirem , minha mãe acordou num susto e olhou pra mim , seus olhos se encheram de lágrimas e a abracei , ela caiu em choro o que fez meu pai acordar e nos abraçar e ficamos os três , abraçados e em silêncio .

Mãe , já arrumei tudo pro enterro , já liguei pra funerária e o enterro vai ser as cinco , já avisei a todos e ...- e antes de terminar minha mãe me interrompe .

Rafael pare !- eu fico lhe fitando e continuou .

Filho , tenha seu tempo , viva o seu luto , era seu irmão poxa , seu irmão !

Mas mãe , eu não posso acreditar , eu não quero acreditar que ele morreu , que ele se foi !- disse , e nesse momento a minha ficha caiu e as lágrimas ganharam espaço em mim e deslizaram pelo meu rosto sem pedir licença . Eu não podia acreditar , não queria , não podia , ele se foi e me deixou aqui , sozinho .

Depois de horas trancado no quarto tentando botar na minha cabeça que era apenas um sonho , um pesadelo sem fim e que acordaria e tudo estaria bem , ele estaria lá , estaria vivo .

Era cinco horas e estavam todos no cemitério São Carlos e já estava para começar quando a Luna chegou . Ela estava andando com a ajuda de seus pais e estava linda , mesmo não sendo o momento certo para se dizer isso . Estava com um vestido preto de corte reto todo fechado , uma sapatilha também preto com os cabelos soltos e com uma leve maquiagem borrada pela ação das lágrimas .

Assim que ela chegou o velório começou , todos choravam , e apenas olhava , e ficava encarando o caixão e não queria acreditar que meu querido irmão , que eu amava estava morto mas minha visão foi interrompida quando minha mãe se jogou encima do caixão e começou a chorar descontroladamente . Eu e meu pai a tiramos de cima e a abraçamos . Olhei pro lado e lá estava Luna , abraçada com sua mãe . A falta , a saudade e a dor está presente em todos nós .