Até o amanhecer

Luna Oliveira

Durante o velório não conseguia parar de pensar nas suas últimas palavras , pensar que a culpa foi minha , se eu tivesse insistido pra ele ficar ou tivesse ido com ele , ele não teria se arriscado tanto , depois que eu desmaiei acordei no hospital , e por um momento cogitei ter tido apenas um sonho ruim , um pesadelo horrível , que logo logo ele estaria aqui comigo , me dando aquele sorriso , me abraçando , me beijando , me amando , mas caí na realidade quando minha mãe entrou e me olhou , meu coração apertou , e caí em lágrimas novamente .

O filha .- e ela me abraçou .

Mãe , por que ? Se eu tivesse ...- minha mãe me interrompe .

Filha , não havia nada que você pudesse ter feito , deus me perdoe , mas e se você estivesse junto , ele teria matado os dois .- minha mãe disse enquanto limpava a lágrima que escorria pelo meu rosto .

Filha , Rafael ligou pra avisar que o enterro será às cinco .- enterro , essa palavra ficou vagando pela minha mente até o médico entrar para me dar alta .

Era seis horas da manhã quando cheguei em casa , entrei no meu quarto e fiquei olhando em volta , havia algo faltando ali , o Lucas .

Fui pro banheiro , liguei o chuveiro e entrei com a roupa no corpo ainda é fiquei ali sentada enquanto as minhas lágrimas se misturavam com a água que escorria . Tirei a roupa molhada e tomei um banho , quem sabe assim conseguiria dormir .

Apenas fiquei deitada com os olhos fechados , lembrando do seu rosto alinhado , sua boca , seus olhos calmos , seu cheiro , seu toque enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto sem que eu perceba . Graças a deus minha mãe falou com o diretor e disse que eu não apareceria por uma semana , mas que recuperaria toda a matéria perdida .

Depois de algumas horas acabei adormecendo pelo cansaço , acordei com a minha mãe batendo na porta dizendo que daqui a pouco começaria o enterro .

Me levantei , fui pro armário e fiquei o encarando , até me deparar com um vestido que nunca havia usado , presente de uma tia distante , preto básico , de corte reto , todo fechado , peguei uma sapatilha preta e deixei meus cabelos soltos , Lucas dizia que gostava como meus cabelos contornam meu rosto e uma lágrima escapuliu , diz uma maquiagem leve apenas o básico para não notarem tanto as minhas olheiras  . E fomos .

Cheguei no cemitério e todos já estavam lá , não olhei na cara de ninguém apenas fui pro lado de sua mãe .

Assim que eu vi seu caixão não aguentei , abracei minha mãe e comecei a chorar desesperadamente que mal percebi o que acontecia em minha volta , quando olhei em volta Rafael abraçava sua mãe junto a seu pai num aperto inexplicável , se eu sofria imagina eles .

Depois que acabou fui falar com a sua mãe que quando me viu me abraçou e ficamos as duas chorando .

Cumprimentei seu pai e logo depois o Rafael , ele ficou me olhando até.finalmente nos abraçamos , mesmo depois de tudo que aconteceu no passado não foi constrangedor pois ambos sofriamos pela perda da pessoa que amávamos .

Fui embora e não falei mais nada , fiquei uma semana trancada noeu quarto , mal comia direito , não falava com ninguém , nem com a Carol que já havia aparecido umas dez vezes lá em casa já que eu não atendia as suas ligações , tinha pesadelos quase todos os dias , estava no meu próprio pesadelo .

É segunda-feira e a minha vontade de ir pra escola é nula , mas tenho que ir né então vamos lá .

Me levanto quase me arrastando , vou no banheiro para tomar um banho , deixo a água escorrer pelo meu corpo tentando levar toda a dor que sinto , pelo menos para poder enfrentar um dia sem chorar .

Saio , e me visto , me maqueio , pelo menos o básico para esconder as minhas olheiras que gritam depois de passar uma semana sem parar de chorar , assim que termino de me maquiar , me olho no espelho e olho pra cama e um flashback me passa pela cabeça , de Lucas me olhando , acariciando meu rosto e as lágrimas começam a ganhar espaço nos meus olhos , fecho os olhos tentando afastar aquele pensamento .

Pego minhas coisas e vou pra escola , durante o caminho vou repetindo mentalmente , seja forte , não chora , não chora .

Cheguei no portão , respirei fundo e entrei , as minhas costas queimavam com o tanto de olhares que eu recebia e os cochichos mas não me importei , continuei andando até chegar na sala .

Me sentei e fiquei esperando a aula começar , até levar um susto com a Carol que veio igual a um foguete e pulou na minha frente me abraçando me deixando sem reação .

Amiga , eu sinto tanto !- ela disse me abraçando .

Obrigado Carol , desculpa não falar com você antes é que eu estava tentando me recuperar .- disse segurando minhas lágrimas .

Claro , sem problema nenhum , nem imagino o quanto você estava sofrendo .- ela disse me abraçando novamente .

Fiquei em silêncio , não queria que ninguém sentisse aquela dor , nem o pior dos meus inimigos . Era dor demais .

A aula começou e nada do Rafael , mas era de se entender , se eu sentia aquela dor imensa imagina ele e sua família . Mas depois ele começou um , dois dias , depois se tornou uma semana , depois um mês . Comecei a ficar preocupada , ele não era de faltar , não era saudade mas sim preocupaçao , ele não erã de faltar . Resolvi ir na casa dele , eu não ia lá desde que Lucas se foi , eu queria ter ido antes para falar com a sua mãe mas coragem me faltava . Bati na porta e sua mãe atendeu .

Luna !- e me deu um abraço apertado e demorado senti que segurava suas lágrimas assim como eu segurava a minha .

O que está fazendo aqui minha querida ?- disse ela me dando um sorriso ou pelo menos tentando .

Oi Susan , eu já estava querendo vir aqui já faz um tempo mas não achava forças , mas aqui estou eu , não quero parecer enxerida nem nada mas é que o Rafael está faltando muito e ele está perdendo muitos testes e trabalhos e ele nunca foi de faltar .- disse .

Entendo sua preocupaçao mas você não estava sabendo ?- ela me disse .

Sabendo do que ?- minha cara estampava preocupaçao .

Ele viajou , foi pra São Paulo já faz quase um mês , seu mudou pra lá e não falou se voltaria .- e uma lágrima escorreu pelo seu rosto . Além de perder um filho tragicamente , o outro viajou pra longe .

Eu não sabia !- a minha cara de surpresa está nítida . E a abracei e ela estava chorando e me apertava . Não consegui falar nada apenas a abraçar de volta .