Capítulo II

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Morrer é uma arte, que poucos entendem, porém todos fazem, é como enxergar, um dom, só apreciado quando não temos. Somos de fato ingratos e dotados de mal percepção, só percebemos quando nos falta, percebemos a presença, na ausência, Talvez evitamos, pois veríamos o quão somos dependentes de quase tudo, logo não sentiríamos mais aquela boa e velha sensação de orgulho, um alimento suculento para o nosso ego, para nossa essência e principalmente para nossa vontade de viver. Bem, vamos voltar ao assunto que iria tratar, estava a falar sobre uma cálida manhã de primavera, mas não é de fato sobre essa manhã, e sim sobre o que está acontecendo sobre ela, ou melhor, sobre o que não está acontecendo, já que percebemos somente na ausência e na falta. Neste mesmo lugar, encontra-se uma cabana, dita como chalé por muitos, humilde, porém aconchegante e atrativa, um ótimo lugar para ler um livro, ou talvez até escrever, mas um péssimo lugar para ser feliz, bem, a beleza está tão presente neste mesmo lugar, que sentimos que algo deve e tem que estar errado, e percebemos que o único erro é a nossa própria presença neste lugar, assim quando pensamos sobre a vida e a natureza em si, percebemos que tudo é equilibrado e ameno, porém nós, humanos, insistimos em detonar, devastar e desgraçar tudo. Pois bem, esses pensamentos corriam solto pelo intelecto de um velho decrépito que morava logo ali, naquela cabana, porém com ele esses pensamentos não tinham tanta intensidade, pois ele já viveu o suficiente para não se importar com si mesmo, quanto mais à componentes externos, terceiros, pois já esperava a morte, não com medo, e sim como um descanso merecido e agradável, pois ali já viverá por cerca de 87 anos, então já viverá muitas vezes desgraças e misérias, e principalmente esse mesmo sentimento que parece ser um dom e aspecto único deste lugar, pois nunca tinha sentido tal sentimento em outro lugar, por vezes, evitava esse sentimento quando corria para a área urbana mais próxima, não era lá uma grande metrópole, mas o suficiente para que não tivesse que ver aquelas malditas árvores e o cantarolado dos pássaros, que até pareciam ofensas e palavrões sendo diretamente expresso com o único intuito de transmitir o quão superiores são. Não era tão raro essas fugas, na verdade era mais banal do que ele queria que fosse, pois mesmo que fosse um alívio, transmitia um sentimento e sensação de inutilidade, como se ele fosse fraco e precisasse correr e fugir, porém nunca adiantava, então acrescentava-se outro sentimento, o de fracasso e insucesso. Desculpe a negligência como narrador, nem apresentei-lhe o personagem e o espaço de modo detalhados, pois não sou um narrador tão carismático e muito menos detalhista, mas vou tentar.

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