Oito

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Estou chegando à conclusão que nos três anos desde que saiu do bando de Drek, Ithori virou um velho rabugento. É a única explicação para como ele está irritado o tempo todo e por qualquer coisa. Eu realmente queria entender o motivo – de novo. Acho que nunca fiz uma viagem num silêncio tão incômodo quanto esta, mesmo contando algumas das minhas "caronas".

Encaro os monitores à minha frente. Já estamos chegando em Nassi e Ithori não falou nada desde que saímos da estação, a não ser para me pedir as coordenadas e a trajetória. Suspiro. Preciso me lembrar de apagar os dados de navegação quando voltarmos para a estação. E eu espero muito não precisar fazer outra viagem com esse silêncio irritante. Ou pelo menos, que se isso acontecer não seja em uma nave individual, das que só tem lugar para um piloto e copiloto. Se essa nave tivesse uma cabine que fosse, já teria ido para lá.

Ithori manobra a nave, contornando um asteroide, e nosso destino aparece na tela. Quatro meses sem vir aqui, mas tudo está igual, pelo menos visto de fora. Em Nassi, isso é um bom sinal.

— Qual o código para eu entrar em contato com a torre?

Até mesmo a voz de Ithori está soando rabugenta. Reviro os olhos.

— Você não entra em contato. Se alguém estiver trabalhando, vão nos chamar assim que estivermos dentro da área que é considerada como sendo deste asteroide. Se ninguém chamar, é por nossa conta procurar uma área de pouso vazia.

Ele resmunga alguma coisa em voz baixa. Nem tento entender, é bem fácil imaginar o que é. Esse sistema é bagunçado, sim. Mas funciona, de alguma forma. Continuamos em silêncio. Encaro os números em um dos monitores, mostrando nossa aproximação. Não vai demorar para estarmos dentro da área.

O comunicador pisca e Ithori aceita o contato.

— Bom dia, nave desconhecida. Ou seja lá que hora do ciclo diário é para vocês. Vão ter que esperar um pouco se quiserem visitar nossos mercados, estamos lotados no momento. O tempo de espera é de aproximadamente duas horas padrão.

Sorrio. Eu conheço essa voz. Não tem como confundir a empolgação falsa que sempre me faz pensar em algum tipo de anunciante.

Ithori se vira para mim.

— Duas horas?

Suspiro e me inclino na direção do comunicador, apertando o botão que vai abrir a comunicação do nosso lado também. Por que o universo está conspirando para me fazer ficar mais perto do Sr. Rabugento?

— Ei, Mal, se me arrumar uma área de pouso depressa pode ser que eu tenha um presentinho para você.

Escuto o barulho de alguma coisa batendo em uma superfície de metal antes da resposta. Posso ter passado algum tempo sem vir aqui, mas sei que não preciso falar meu nome.

— Su! Devia ter falado logo! Vou ter uma vaga em... Dois minutos, estão decolando. Andem depressa.

Sorrio. Não é sempre que dou sorte de ter algum conhecido operando as torres de controle. Isso realmente vai simplificar minha vida. Olho para o painel acima do comunicador e vejo as indicações da área de pouso aparecerem ali.

— Obrigada.

Ithori começa a manobrar.

— Não precisa agradecer. — pelo menos a falsa empolgação desapareceu da voz de Mal. — Ei, Su, vai passar uns dias aqui?

— Não sei. Pryinala ainda está no mesmo lugar?

Ithori se vira para mim, estreitando os olhos. Dou de ombros. Não sei se ele reconheceu o nome ou se está irritado por algum outro motivo.

Ithori (Filhos do Acordo 3) - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora