desafios, encontros e amizades

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Demoraram longos 20 segundos até conseguir pronunciar um simples olá sem gaguejar.

O mais surpreendente de tudo é que além de bonito, Bruno era muito simpático. Eles conversaram durante os dez minutos livres entre a troca de aula que tiveram. Como boa amiga que Jessica era, fez questão de não interromper a conversa, já que sabia o quão difícil era para Ane ter um dialogo com desconhecidos.

Ane pôde ficar mais surpresa ainda, depois de saber que Bruno tinha sido convidado para a "confraternização" de Leticia. Já estavam todos sabendo dessa tal confraternização, que podia muito bem ser chamada de festa, já que sempre acabava com uma musica alta e varias garrafas de vodka. E vez ou outra rolava pegação pela casa, e pessoas pulando na piscina de madrugada. De certa forma era meio ridículo que sempre acontecesse em um dia da semana. Quem é que está disposto a ir a uma festa numa segunda-feira? Os pais da garota não podiam viajar no fim de semana?

Ela já havia ido a uma dessas, mas não era algo muito agradável, e sempre ia embora cedo.

Ane era uma garota difícil e complexa. Era uma tagarela com quem conhecia, mas completamente tímida com desconhecidos, sempre ruborizava por qualquer coisinha, com conversas profundas e estranhamente bizarras, e por mais que tivesse miopia e usasse quase 3 graus ela não era nerd. Ela era um sete. Às vezes seis quando deslizava. Mas isso não significava que ela era a rebeldia em pessoa, era até inocente demais.

Mas voltando para o assunto de antes, Ane estava ponderando sobre ir ou não a festa. Saber que Bruno estaria lá não facilitava muito na decisão. Se fosse, ela poderia: A- ficar mais próxima de Bruno e até quem sabe, se divertir; B- passar a maior vergonha na frente do novato, e do resto da sala;

Mas mesmo assim, ainda era uma escolha difícil. Sua amiga tentava convence-la a ir, e a garota se rendeu quando o próprio Bruno insistiu para que ela fosse, já que segundo ele, Ane era a única que ele conhecia. O que era um total exagero, já que com sua enorme simpatia ele conquistou a amizade de todos da sala.

Ignorando todos os poréns e problemas, Ane tinha uma festa. Não foi preciso muito esforço para que Ricardo desse permissão. Na verdade, ele às vezes até fazia questão de leva-la a força para que saísse de casa pelo menos uma vez.

Enquanto a menina terminava de calçar seus sapatos, percebeu seu pai arrumando a gravata. Ele estava todo arrumado e sorridente, e ligando os pontos Ane percebeu que seu pai provavelmente teria um encontro.

- aonde vai? – Perguntou se aproximando

- vou sair com uma pessoa – um sorriso se formou em seu rosto.

- posso saber quem é essa pessoa? – retornou a perguntar animada

- isso vai virar um interrogatório agora? – brincou – e você, mocinha? Quem vai estar lá?

- só alguns amigos – Ane tentou esconder um sorriso ao pensar no novato.

- se divirta – deu um beijo na testa da filha antes que ela saísse

Chegando à festa depois de passar na casa de Jessica avistou varias pessoas na varanda da casa. As duas entraram e foram até uma mesa com vários copos espalhados e algumas garrafas, alcoólicas e não alcoólicas. Ane, sabendo que pagaria o maior mico se ficasse bêbada, preferiu não arriscar e pegou um refrigerante de uva.

Depois de pegar o copo, avistou pela porta de vidro a enorme piscina atrás da casa, que surpreendentemente estava vazia. Provavelmente ainda estava muito cedo, ao ver das pessoas, para pularem na agua fria e fazerem a maior algazarra. Ane seguiu até lá, colocou seu calçado ao lado e mergulhou seus pés na agua.  Ficou por encarar o reflexo enquanto mordia a borda do copo descartável entediada, no mesmo momento em que levou um grande susto ao perceber alguém sentando ao seu lado repentinamente dizendo um amigável "oi".

- você quer me matar do coração garoto? – falou com a mão sobre o seu coração disparado

- desculpe, não queria te assustar – riu de uma forma relaxante pelo modo de como ela havia ficado – então... O que faz aqui?

- bom, é uma festa... – ele a interrompeu

- não, não na festa. Quero dizer aqui, na piscina. – Bruno se explicou – quer dizer, todo mundo está lá dentro dançando e bebendo.

- acho que nunca gostei muito de multidões. Deixam-me apavorada. –forcou um sorriso

- estranho, uma garota tão bonita como você que prefere ficar sozinha em uma piscina com o mero novato, enquanto poderia estar escolhendo qualquer menino dessa festa para se divertir – falou olhando para o céu.

- o que, não. Eu nunca... – Ane se embaralhou com as palavras, e olhando para baixo começou a corar novamente.

     -você fica fofa quando cora – e isso só fez Ane ficar ainda mais vermelha – combina com suas pintinhas

- acho que puxei isso da minha mãe - deu de ombros

- se ela for tão linda quanto você, aposto que seu pai fica com ciúmes – Bruno brincou, mas percebeu o olhar da garota se entristecer, e assim que ele decidiu perguntar o motivo de sua tristeza repentina, os dois foram empurrados para dentro da piscina.

Não deu tempo de perguntar o porquê de Leticia ter empurrado os dois na agua fria, já que depois de alguns segundos todos já estavam se jogando e espirrando agua para todo lado.

- vem, eu te ajudo – Bruno estendeu a mão para que ela conseguisse sair.

- Ane! –Leticia chamou –pega uma roupa lá no meu quarto, tem toalhas lá também.

Ane assentiu em agradecimento e seguiu até o quarto ao lado de Bruno, que também batia o queixo pelo frio. Sua blusa branca estava colada ressaltando a boa forma que tinha, enquanto Ane sofria ao tentar enxergar com os óculos embaçados.

Depois de pegar uma roupa emprestada na gaveta da cômoda do pequeno quarto, e entregar uma toalha a Bruno, a jovem entrou no banheiro que havia ali trancando a porta para que pudesse se trocar.

"Enquanto geral está pegando meia festa, eu estou pegando uma possível gripe." – pensou.

Seu reflexo no espelho mostrava alguém que mais parecia uma aberração. Seus lábios estavam avermelhados, e seu cabelo bagunçado após ter secado com a toalha. A franja que sempre ficava retinha, agora estava toda bagunçada e para os lados.

Quando saiu pela porta, Bruno ainda estava lá, e sem camisa – diga se de passagem – mostrando seu físico esbelto e bem definido. Claro que Ane corou ao vê-lo naquela situação. E assim que ele percebeu, vestiu sua camisa semi-seca novamente.

- você está bem?

- estou sim. Só acho chato quando isso acontece sabe, nunca tenho tempo suficiente para me secar e as escamas aparecem, não quero que ninguém saiba que eu sou uma sereia – Ane brincou sorrindo e dando um leve esbarrão nos ombros de Bruno.

- bobinha – revirou os olhos sorridente – mas então... Por que você ficou triste quando falei aquilo na piscina?

- aquilo o que? – questionou

- quando falei da sua mãe

- ah, isso. – respondeu cabisbaixa – minha mãe foi embora.

- nossa... – não soube o que responder por um longo momento – eu não deveria ter tocado nesse assunto, desculpe.

- não tem problema. E também não tem problema se você quiser saber o porquê – ela adiantou ao perceber sua curiosidade

- nesse caso, por que ela foi embora?

- minha avó queria que ela voltasse para Califórnia. E ela voltou. Eu já nem ligo mais para isso – se levantou da cama e ficou em frente a ele

- eu sinto muito – falou sem olhar em seus olhos

- não sinta – forçou um sorriso

Estavam com os rostos a apenas alguns centímetros de distancia, quando Bruno passou seus dedos nas bochechas rosadas de Ane. Pareceu estar em câmera lenta quando ficaram tão próximos que chegaram a colar a testa, os dedos do garoto acariciando as bochechas quentes da jovem, enquanto ela olhava fixamente para o dourado dos olhos dele.

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