Seu sorriso não foi explicado em nenhum momento. Ele dizia que se houvesse algo para Ane saber, como se ela não soubesse que havia, ainda não era hora de saber.
A desculpa mais usada na face da terra. "Não está na hora". Mas afinal, quando seria a hora? A curiosidade a corroía por dentro. Queria saber o motivo, ou melhor, quem, estava deixando ele feliz.
A troca de olhares entre Ane e bruno estava cada vez mais frequente, e por mais que tenha sido um pouco estranho conversar normalmente depois do quase beijo, os dois continuaram a amizade como se não tivesse acontecido. Mas isso não significava que Ane não sentia nada além de amizade por bruno. A garota até sentia bem mais do que uma paixonite, o que acabava sendo um pouco exagerado na visão de sua amiga, já que eles se conheciam a apenas alguns dias. Mas quem disse que para se gostar precisa de muito tempo? Coisas assim podem acontecer em pequenos segundos, como um pequeno esbarrão no meio do corredor.
A grande questão era o poema. Esse trabalho estava a atormentando. Ela não fazia ideia do que escrever.
Ane estava tão focada naquilo, que acabou dormindo em cima de seus montes de rascunhos mal feitos de poemas amassados. Seu sono não durou nem mesmo meia hora, mas foi o bastante para que se lembrasse do momento em que sua mãe partiu. E do nada, uma inspiração inexplicável surgiu.
Ane nunca desejou que sua mãe sofresse pelo que fez, mas sempre sentiu um pouco de raiva por ela ter abandonado o marido, e a pobre garota. Mas ela começou a perceber que foi uma escolha dela, que ela não teve tanta culpa como parecia a alguns anos. Ane soube o que escrever, assim que se lembrou de quem ela mais amava na vida. Quem realmente merecia aquela homenagem.
º º º
Assim que a ultima apresentação acabou e todos deixaram o palco a mão de Ane começou a tremer de nervosismo. O medo de derrubar o microfone a fazia segura-lo mais forte. Forçou-se a subir as pequenas escadas do palco e ao encarar a plateia, viu bruno dando uma piscadela encorajadora, e seu pai mais ao fundo dando um largo sorriso.
Depois de encarar toda aquela multidão, com muito esforço pôs-se a ler as pequenas palavras no papel em sua mão.
"mãe é quem cuida
Quem nos faz esquecer que existe dor
Protege sem pedir e nos concede o melhor amorMãe é quem da sem pedir nada em troca
Quem alimenta, e se precisar tira da própria boca.
É quem nos oferece uma vida boaMãe é quem da vida
Quem ajuda nos mínimos detalhes
Quem nos livra de todos os malesMãe é quem te ama quando briga
E que ainda ama mesmo sabendo que vai continuar errando
E te ama mesmo se sempre errar
Por que é sua mãeMae não é só sangue
É pai, vó e tia.
É biológica ou adotiva
É quem se põe em segundo lugar por seus filhosMãe, se não fosse Mãe.
Seria o próprio AMOR."Ela tirou olhos do papel e viu todas as pessoas aplaudindo fortemente, e se surpreendeu ao ver seu pai emocionado.
- foi lindo – Ricardo disse abraçando-a
- fiz pra você – Ane respondeu e sentiu o abraço se apertando ainda mais – todos esses anos você fez o papel de pai e mãe, levou todo o peso nas costas e ainda conseguiu ser o melhor pai do mundo. Não que fosse ruim ter uma mãe, mas eu fico feliz por ter só você.
Havia algumas lagrimas nos olhos dos dois, e aquele momento foi um dos mais emocionantes da vida deles. Sua mãe estava ali, mas não era Carmem, era Ricardo.
- você foi muito bem – bruno disse se aproximando dos dois – desculpe interromper o momento família, eu volto depois – começou.
- está tudo bem. Você é? – Ricardo perguntou se recompondo
- Bruno.
- prazer. Ricardo - ele apertou a mão do garoto e olhou de canto para Ane sorrindo, como se o aprovasse.
- eu queria saber se posso levar sua filha pra sair? –Perguntou envergonhado enquanto Ane corava e se surpreendia pela pergunta.
- Claro, sem problemas. – ric deu um beijo na testa de Ane e saiu
A garota ainda estava paralisada sem entender muito bem o que havia acabado de acontecer, ficando cada vez mais vermelha. Mas seguiu ao lado do amigo pelo corredor.
- não acredito que fez isso
- o que? Pedir permissão para o seu pai? – bruno perguntou inocente
- é.
- ele já estava lá mesmo. Achei que seria mais educado – deu uma piscadela para Ane e juntou suas mãos.
Os dois seguiram caminhando por algumas quadras depois da escola, parando em uma lanchonete com letreiro em neon que tinha uma das letras apagadas. Pediram um milk-shake e continuaram a conversar como bons amigos faziam. Ane ainda não acreditava em tantas coisas inesperadas que haviam acontecido, como ter se divertido na festa, se esbarrado como garoto gato e agora estar saindo com ele, e dedicar uma poesia do dia das mães para seu pai. Era inacreditável. Era inesperado.
- foi difícil escrever aquela poesia? – bruno perguntou com certa curiosidade
- não foi difícil. Mas demorou para ter a ideia. Eu pensava em minha mãe como um monstro por ter feito meu pai tão infeliz quando nos abandonou, não era nem por mim, pois eu sempre me dei bem com meu pai.
- Você mudou esse pensamento?
- Sim. Se ela não tivesse ido embora muitas coisas poderiam ter acontecido diferentes.
- você poderia nunca ter se esbarrado em mim no corredor – brincou com um sorriso iluminado
- e não estaríamos nessa lanchonete hoje – Ane continuou a brincadeira, e percebeu o olhar de bruno atrás dela, e quando se virou teve uma pequena surpresa.
-pai? O que faz aqui? – perguntou
- o mesmo que você. Tendo um encontro – Ricardo falou dando uma piscadela e depois sorrindo.
A mulher que o acompanhava era ninguém menos que Marta, sua professora de filosofia. Ane estava estática, encarando a mulher ao lado do pai e não sendo capaz de conter um sorriso.
- Essa é a "M_love.A"?
- Sim, mas como sabia disso?
- Não vem ao caso. Saiba que eu aprovo 100% esse relacionamento.
Eles riram. Ao final, ela nem precisou bancar a cupido. Os quatro se se sentaram à mesa e tiveram um dia divertido, e para fechar com chave de ouro, assim que saíram se depararam com a forte chuva que caia enquanto o sol ainda estava no céu. O dia estava perfeito demais para não se aproveitar, então bruno puxou a garota para se molhar, e os dois começaram a dançar na chuva feito crianças.
E no ultimo momento, quando pensou que o dia não podia fiar melhor, o loiro a puxou pela cintura e colou seus lábios. Um beijo doce e singelo que fez Ane se sentir em uma montanha russa infinita, com toda a sensação de frio na barriga.
E por mais que Ane odiasse chuva, ela estava adorando tudo aquilo.
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Inesperado
Short StoryAne é uma menina comum que vive somente com o pai. Tudo em sua vida parece normal demais, até que em uma semana, que parecia com todos os outros, coisas inesperadas acontecem para dar uma emoção diferente na sua vida. # PLAGIO É CRIME# conto feit...